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segunda moção de anulação do julgamento, áudio ‘surpresa’ e espiada nas contas bancárias

Na quarta semana do julgamento criminal de Sean Combs, mais conhecido como Diddy, a segunda suposta vítima de tráfico sexual do réu subiu ao banco das testemunhas — uma mulher com o pseudônimo de “Jane”, visivelmente abalada, que prestou um depoimento comovente.
Os promotores afirmam que consideram Jane uma vítima de tráfico sexual por meio de fraude, citando seu repetido testemunho de que continuou a fazer sexo com acompanhantes masculinos na frente de Combs porque o amava e estava desesperada por momentos a sós com o magnata do hip hop.
Jane declarou que, após abrir a “caixa de Pandora” em maio de 2021 ao participar de um “Freak Off” (termo usado para encontros sexuais orquestrados com vários homens), não conseguiu mais fechar esse aspecto do relacionamento, que passou a ser dominado pelas chamadas “noites de hotel”. Ela contou que tentou expressar seus sentimentos a Combs, tanto verbalmente quanto por mensagem de texto, mas o fundador da Bad Boy teria sido indiferente e, segundo ela, começou a usar seu apoio financeiro como forma de manipulação.
“Ah, supere isso, por favor”, teria dito Combs — que pagou pelas facetas dentárias de Jane — depois que ela resistiu a uma noite “all-star”, que envolveria sexo com três homens em agosto de 2023. “Olha o teto sobre sua cabeça. E esse sorriso bonito. Não quero fazer mais nada se isso ainda for um problema. Esqueça isso. Te amo.”
Durante o testemunho de Jane, o réu de 55 anos permaneceu, em grande parte, impassível, mesmo quando ela chorou ao relatar dias inteiros passados em quartos de hotel com iluminação vermelha fazendo sexo com acompanhantes, com o objetivo de satisfazer os desejos sexuais de Combs. Ele já havia sido advertido pelo juiz federal Arun Subramanian por reagir de forma inadequada — acenando vigorosamente com a cabeça para os jurados durante o contra-interrogatório da testemunha Bryana“Bana” Bongolan, quando a defesa questionava a cronologia de seus relatos.
Combs está enfrentando cinco acusações federais — incluindo tráfico sexual, conspiração para extorsão e transporte com fins de prostituição — que, se resultar em condenação, podem levar a uma pena de 15 anos a prisão perpétua. Ele se declarou inocente.
A seguir, os principais destaques da quarta semana de julgamento:
- Primeira Gravação de Freak Off Exibida no Tribunal
Jane, uma mãe solteira que depôs sob pseudônimo, testemunhou na quinta e sexta-feira. Ela é considerada a “Vítima-2” no caso de tráfico sexual e extorsão movido pelo Distrito Sul de Nova York contra Combs. Até sua aparição no tribunal, os promotores haviam mantido boa parte de sua história em sigilo.
Ela chorou repetidamente ao afirmar que Combs lhe dava drogas e a coagiu a participar de “Freak Off” meticulosamente coreografados com acompanhantes entre 2021 e 2024. Jane disse que tentou, várias vezes, interromper esses encontros sexuais, mas sempre acabava voltando para os quartos escuros dos hotéis, muitas vezes por dias seguidos.
“Aquela noite abriu, tipo, uma caixa de Pandora no relacionamento”, disse Jane ao júri. “Definiu completamente a dinâmica dali em diante. … Senti que era uma porta que eu não conseguia mais fechar.”
Pela primeira vez — no meio do julgamento, previsto para durar oito semanas — os jurados ouviram um áudio de um desses encontros. Jane é ouvida pedindo ao acompanhante que use preservativo, mas é interrompida por Combs, cuja voz soa arrastada e embriagada, com música tocando ao fundo.
“Jane, quando Sean disse que se você não se tocasse naquele momento… o que você entendeu que ele queria dizer?”, perguntou a promotora Maurene Comey.
“Entendi que ele estava dizendo para simplesmente seguir em frente e esquecer aquilo”, respondeu Jane.
- Mulher Afirmou que Combs a Pendurou em Sacada do 17º Andar
Em um testemunho perturbador, Bryana “Bana” Bongolan relembrou a noite de setembro de 2016, quando Combs supostamente a encurralou na varanda do 17º andar da casa de sua amiga Cassie Ventura, em Los Angeles, e a “segurou” para fora da sacada, enquanto ela temia por sua vida.
Bongolan disse que Combs estava furioso, gritando: “Você sabe o que caralhos fez!”. Ela afirmou que se agarrou desesperadamente para não cair, dizendo que não sabia do que ele estava falando. Após cerca de 15 segundos, Combs a jogou sobre um conjunto de móveis do pátio, segundo o relato. O ataque teria deixado hematomas, dores nas costas e pescoço, além de profundo trauma emocional.
“Tenho terrores noturnos, paranoia e grito enquanto durmo”, contou ela ao júri.
Foram mostradas fotos dos supostos ferimentos, incluindo uma grande contusão roxa com um ferimento perfurante no centro, datada de 26 de setembro de 2016, segundo os metadados da imagem.
A defesa de Combs contestou a data da foto, afirmando que, de acordo com registros de hotéis e imagens da época, Combs estava em Nova York naquele dia, o que tornaria impossível ele estar “em dois lugares ao mesmo tempo”, segundo a advogada Nicole Westmoreland.
“Na teoria, sim”, respondeu Bongolan. “Não posso responder a essa.”
No redirecionamento, foi perguntado a Bongolan se ela tinha dúvidas de que Combs a pendurou na sacada do 17º andar. “Nenhuma dúvida”, respondeu ela. “Nunca vou esquecer dele me segurando sobre aquela sacada.”
Depois do depoimento de Bongolan, os promotores mostraram uma mensagem de texto entre Ventura e Kristina Khorram, chefe de gabinete de Combs, datada de setembro de 2016, em que Ventura relata ter tomado conhecimento do incidente da varanda.
- Segunda solicitação de anulação do julgamento
Durante o fim de semana, a defesa de Combs entrou com seu segundo pedido de anulação do julgamento, alegando que o testemunho de Bongolan foi “falsamente declarado em aspectos essenciais”.
“O incidente, tal como foi descrito, é perturbador e poderoso, e o governo o usou para retratar o Sr. Combs de forma extremamente negativa, como um homem violento e aterrorizante”, escreveram os advogados no sábado. “Tudo isso foi extremamente impróprio e agravado pelo uso de um testemunho perjurado.”
A equipe de defesa já havia feito um pedido anterior de anulação durante o depoimento de um investigador do Corpo de Bombeiros de Los Angeles, que relatou ter descoberto recentemente que cartões de impressão digital coletados da casa de Kid Cudi haviam sido misteriosamente destruídos.
A nova carta da defesa diz que “a motivação do governo sempre foi sugerir que o Sr. Combs tinha influência corrupta sobre as autoridades de Los Angeles ao tentar criar a impressão de que ele foi responsável pela destruição das impressões digitais”.
“Portanto, o tribunal deve conceder a anulação do julgamento com base em má conduta da promotoria”, concluiu a carta de cinco páginas. (O juiz Subramanian ainda não decidiu sobre o pedido.)
- Provas de Suborno em Hotel Vieram de Dispositivos da Chefe de Gabinete
Kristina Khorram, chefe de gabinete de longa data de Combs, teve seu nome repetido diversas vezes ao longo do julgamento, mas foi nesta semana que os promotores começaram a usar evidências apreendidas em seus dispositivos durante as buscas nas casas de Combs em março de 2024.
Durante o depoimento de Eddy Garcia, ex-segurança do hotel InterContinental, o júri viu fotos de documentos e carteiras de identidade relacionados a um suposto acordo entre Combs e a equipe de segurança para fazer desaparecer uma gravação de vídeo do hotel, em março de 2016. As imagens estavam nos dispositivos de Khorram.
Uma das questões em aberto é se Khorram — vista como o “braço direito” de Combs — irá testemunhar contra seu chefe de mais de uma década. Na sexta-feira, os promotores a descreveram como uma “agente e co-conspiradora” de Combs.
- “Por que ela não estava escondida?”
Em meio ao julgamento, os promotores exibiram uma troca de mensagens entre Combs e um de seus seguranças, D-Roc, datadas de 13 de setembro de 2015. A conversa parece tratar das consequências de uma briga entre Combs e Ventura.
“Cass está ligando para estúdios atrás de você”, escreveu D-Roc. “Ela continua perguntando por você, dizendo que quer ir ao estúdio. Eu disse para ela se acalmar e que você está se sentindo mal com o que aconteceu.”
“Fique em cima da Cassie”, respondeu Combs. D-Roc disse que havia dado um gelo para Ventura, e que o filho de Combs, Justin, tinha visto o olho machucado da cantora. Para explicar, ele teria dito que a lesão ocorreu em uma “briga na balada”.
A resposta imediata de Combs foi: “Por que ela não estava escondida?”
A conversa também menciona uma mulher identificada apenas como “G.” Combs pede a D-Roc que entre em contato com ela e diga que ele quer conversar. O “grande show” citado nas mensagens parece ser o festival iHeartMusic, onde o grupo Bad Boy se apresentou.
Ventura, sua ex-assistente pessoal Mia e o stylist Deonte Nash testemunharam sobre Ventura ter descoberto, em outubro de 2015, que Combs estava tendo um caso com uma mulher chamada Gina.
- Rara visão das finanças de combs
O público teve um raro vislumbre das finanças pessoais de Combs graças ao depoimento de Derek Ferguson, ex-diretor financeiro da Bad Boy Entertainment, que trabalhou com o réu entre 1998 e 2017. Ele confirmou a propriedade de empresas e movimentações bancárias.
Um extrato bancário de dezembro de 2011 mostrou que, naquele mês, mais de US$ 3 milhões passaram rapidamente pela conta de Combs, vinculada a uma empresa proprietária de uma casa em Alpine, Nova Jersey. Em um único dia, foram depositados até US$ 800 mil de suas empresas, incluindo a Combs Enterprises, ligada à parceria com a gigante de bebidas Diageo.
Combs gastou US$ 500 mil na galeria de arte Barbara Gladstone e enviou US$ 20 mil para uma conta em nome de “Casandra Ventura” em 14 de dezembro. Uma semana depois, registros mostram que US$ 20 mil foram transferidos para Combs, vindos dos pais de Ventura.
A mãe de Ventura, Regina, disse que ela e o marido fizeram um empréstimo hipotecário para reunir o valor exigido por Combs, que teria investido na carreira da filha e exigido o reembolso após descobrir seu envolvimento com Kid Cudi.
Ventura disse que terminou com Kid Cudi e reatou com Combs por medo. “Sean disse que iria machucar nós dois”, contou. “Pensei que, se eu ficasse, ambos seríamos feridos. Se eu saísse, ninguém seria.”
Poucos dias depois, os registros mostram que o dinheiro foi devolvido à conta original — corroborando o depoimento de Regina de que a quantia foi reembolsada sem explicação.
A promotora Maurene Comey disse que continuará com o interrogatório de Jane na segunda-feira, e que o contra-interrogatório pode durar até quinta. O governo ainda não revelou as próximas testemunhas, mas indicou que pode encerrar sua parte antes das seis semanas inicialmente previstas.
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