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Música

uma voz que transcende gerações [ENTREVISTA]

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*Entrevista conduzida por Aline Carlin Cordaro e texto de Igor Miranda publicado na edição setembro/2025 da Rolling Stone Brasil; compre em LojaPerfil.com.br |
Paulo Ricardo ficava encucado ao ser citado como “voz de uma geração”. Só relaxou ao descobrir que há certa flexibilidade temporal. “Um período de 25 anos”, diz.

Ainda assim, isso não condiz com a realidade. O músico, que completa 63 anos em setembro, é um caso raro de voz que transcende gerações. A retrospectiva resumida ajuda a entender:

  • Atingiu sucesso na década de 1980, com o RPM, banda pop-rock recordista em venda de discos;
  • Seguiu solo no pop romântico nos anos 1990 e 2000, também interpretando versões de hits nacionais e releituras internacionais;
  • Mantém, desde 2002, a música “Vida Real” na abertura do reality Big Brother Brasil;
  • Está no elenco de dublagem dos filmes animados Spirit (2002) e Sing 2 (2021).
Paulo Ricardo em 2025 (Foto: Bella Pinheiro)
Paulo Ricardo em 2025 (Foto: Bella Pinheiro)

Com justiça, o artista carioca tem olhado para trás e celebrado seus 40 anos com uma turnê comemorativa, “XL”. Mas ele só olha no retrovisor até certo ponto. À Rolling Stone Brasil, garante não ser saudosista: “Gosto mesmo é de ligar passado com presente e futuro.”

Entrevista com Paulo Ricardo

Rolling Stone Brasil: Como você se sente ao revisitar toda a sua trajetória na turnê “XL”?
Paulo Ricardo: Muito feliz. Imagino que as pessoas esperem uma grande festa de aniversário, mas sempre me esforcei para trazer algo novo. Não quero ser retratado com olhar retrospectivo. Quis chegar a esse momento com força e apontando para o futuro. Celebramos o primeiro lugar nas rádios pop/rock de todo o Brasil com “O Verso”, música gravada com o querido Rogério Flausino, do Jota Quest.

Que memórias são trazidas ao revisitar seu repertório?
Não sou muito saudosista. Anos atrás, fiz a turnê Rádio Pirata 35 Anos e mergulhei nos anos 1980, então tive flashbacks. O show atual, não: é uma curadoria musical. Encurto algumas coisas, edito outras, adapto. Não tem muito flashback. Pelo contrário: gosto é de ligar passado com presente e futuro.

Qual a sua música favorita do show?
Tenho enorme prazer com os grandes sucessos, mas numa oportunidade rara como essa, tem uma favorita minha e ela não tem as características de um hit: “Só Me Fez Bem” [composição de Edu Lobo e Vinícius de Moraes], que está no álbum O Amor Me Escolheu (1997). É maravilhosa lírica, harmônica e melodicamente.

E o que O Amor Me Escolheu trouxe a ponto de não caber em uma dinâmica de banda?
Para começar, meu mergulho no brega — foi quando ousei compor com [o hitmaker] Michael Sullivan. Muita gente me falou: “Vão te criticar”, pois o Sullivan tem esse estigma do brega, mas, para mim, brega é chamar algo de “brega”. Em uma banda, eu seria voto vencido. Além disso, bandas tendem a compor entre si. Há certo ciúme se você traz uma parceria de fora. Então, a primeira coisa que quis fazer [solo] foi compor com outras pessoas: Herbert Vianna, George Israel. Esse disco foi gravado em espanhol para 32 países de língua latina, estourou também nos EUA e México. Nada disso teria acontecido com banda.

Você começou como jornalista e foi até crítico musical da revista Som Três. Hoje, como vê o rock no Brasil?
Não queria plagiar Lenny Kravitz e dizer “rock n’ roll is dead”, mas o rock não sobreviveu à virada do século — no mundo todo. Há cada vez menos rock nas paradas globais. No Brasil, a última geração foi a dos anos 2000: NX Zero, Fresno, Tihuana. Måneskin foi o último respiro de rock mesmo no mundo, mas são italianos, muito cover, ainda não têm representatividade, nem estão num movimento. O pop, sim, sempre será uma força global. O nosso pop vai muito bem e você pode incluir o que quiser: Jão, Ludmilla, Iza, Liniker. O hip hop brasileiro atingiu maturidade, somente há pouco tempo conseguimos uma linguagem nacional. Já o rock fica como atitude, filosofia. É imbatível na moda. Porém, a fila anda. Ele se mantém no streaming: todas as coisas antigas estão ali. Acho que não precisa de mais rock, pois já tem muito rock bom e as grandes bandas continuam na ativa.

Mesmo no pós-ditadura, a música “Revoluções Por Minuto” foi censurada. Como o RPM lidou com isso?
Não nos afetou. Eu adorei. Achei uma honra estar ao lado de Chico Buarque, Caetano [Veloso], Gonzaguinha, Ivan Lins… grandes artistas que tiveram músicas censuradas. Acho que parte disso se deve à palavra “revolução”, usada e apropriada pelos militares para, entre eles, definir o golpe de 1964. Tentaram roubar essa palavra, mas nós roubamos de volta. E essa música jamais deixou de tocar. Mas foi curioso assistir à barata que tomou a chinelada, mas ainda mexe as antenas. Alguns vícios permaneceram: em 2002, fomos processados pelo [ex-político Paulo] Maluf porque adaptei a letra de “Alvorada Voraz” com “Maluf, Lalau, Barbalho e Sarney“. Não agreguei adjetivo, não ofendi, só mencionei. Rendeu um processo do Maluf. E nós ganhamos. Eu poderia ter processado de volta e pedido uma indenização, mas não é minha praia — fiquei feliz pela Justiça pender para uma banda de rock.

Paulo Ricardo em 2025 (Foto: Bella Pinheiro)
Paulo Ricardo em 2025 (Foto: Bella Pinheiro)

Além da turnê, o que mais você pode nos adiantar a respeito de novidades?
Um sonho de cada vez, mas também temos um novo EP [Reinventar, com seis faixas, já disponível em streaming]. Poucas coisas se comparam ao prazer de uma nova canção quando você a termina. “Sucesso”, do latim, significa concretizar, conseguir fazer o que você está querendo. Se isso vai ser um sucesso, é outra coisa, não depende muito da gente, mas fico feliz por chegar a 40 anos de carreira e olhar pra frente, não pra trás.

Você costuma dizer que cada lançamento traz um gosto de começo de carreira, né?
É uma insegurança, pois nada está garantido. Serve para todos. Tom Cruise não sabe se o próximo filme terá o mesmo impacto do anterior. O público, de certa forma preguiçoso — o que é compreensível —, quer sempre mais do mesmo. Na turnê anterior, reclamaram por eu usar um kilt. “Prefiro você com o jeans, de preto”. Um apego àquele look clássico do roqueiro, que dá certa segurança: “Estou num show de rock e o cara está vestido como roqueiro”. O mercado quer um cover, ou versões acústicas. Quando você traz algo novo, sente-se vulnerável. É uma sensação aterrorizante e maravilhosa ao mesmo tempo. É o que faz seguir com esse tesão.

Paulo Ricardo em 2025 (Foto: Bella Pinheiro)
Paulo Ricardo em 2025 (Foto: Bella Pinheiro)

Rolling Stone Brasil: Avenged Sevenfold, Planet Hemp e mais

A nova edição da Rolling Stone Brasil traz uma entrevista exclusiva com os 5 integrantes do Avenged Sevenfold, às vésperas de seus maiores shows solo no Brasil. Também há um bate-papo com Planet Hemp, um especial Bruce Springsteen, homenagem a Ozzy Osbourne e muito mais. Compre pelo site da Loja Perfil.

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Igor Miranda (@igormirandasite)
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e pós-graduado em Jornalismo Digital. Começou em 2007 a escrever sobre música, com foco em rock e heavy metal. É colaborador da Rolling Stone Brasil desde 2022 e mantém o site próprio IgorMiranda.com.br. Também trabalhou para veículos como Whiplash.Net, revista Roadie Crew, portal Cifras, site/canal Ei Nerd e revista Guitarload, entre outros. Instagram e outras redes: @igormirandasite.



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