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Música

Ty Dolla $ign tenta ser protagonista, mas segue como coadjuvante

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Vale mais ser um grande Robin do que um fraco Batman. Essa talvez seja a melhor síntese para entender não só TYCOON (2025), novo álbum de Ty Dolla $ign, mas toda a carreira do cantor. Marcada por grandes participações, a voz doce do californiano sempre deu um toque especial em músicas como “Work From Home“, do Fifth Harmony, “Safety Net“, da Ariana Grande, “Violent Crimes“, de Kanye West, e “Cinderella“, de Mac Miller.

Nos últimos anos, porém, Tyrone William Griffin Jr. — nome real do artista — vinha ganhando cada vez mais holofotes. Após lançar dois álbuns com o próprio Ye, Vultures 1 (2024) e Vultures 2 (2024), ele se tornou a principal novidade em projetos dos quais dificilmente se tira algo bom.

Com o fim da parceria, Ty parecia pronto para finalmente assumir o papel de protagonista que sua voz, seu ouvido e sua história já justificavam. Os singles prometiam, prévias incríveis eram divulgadas em suas redes, seguidas por ações de marketing mostrando os grandes nomes presentes no álbum e várias lives na Twitch mixando o projeto.

Tudo caminhava bem, mas então vieram adiamentos, regravações e cortes de versos em cima da hora. O projeto que todos aguardavam foi perdendo força até ser lançado na última sexta, 17.

Um projeto ambicioso que perdeu o rumo

TYCOON tem 15 faixas e 52 minutos de duração e foi lançado pela Atlantic Records e distribuído pela Taylor Gang Entertainment, selo do rapper Wiz Khalifa, parceiro antigo de Ty. O álbum, apesar de ser um trabalho solo, raramente apresenta o cantor sozinho. A maioria das faixas conta com colaboradores que definem a sonoridade atual do trap e R&B, entre eles Travis Scott, A$AP Rocky, Tyga, Quavo, Leon Thomas e o produtor Hitmaka.

A proposta inicial parecia clara: criar um disco que misturasse o refinamento do R&B com a grandiosidade e experimentação sonora herdadas da Era Vultures. O resultado, porém, soa mais como uma coletânea de ideias soltas do que uma narrativa coesa.

Sonoramente, TYCOON tenta equilibrar texturas eletrônicas e batidas espaciais com arranjos de baixo profundo e sintetizadores melancólicos, uma estética que flerta com o minimalismo futurista, mas raramente se sustenta por mais de duas faixas. O álbum quer ser agressivo e também pop, agregando traços de R&B, house e trap, mas sem coesão suficiente para criar identidade.

A produção é polida, bem mixada, mas previsível. Cada faixa parece construída para soar grande, mas falta o que sempre fez Ty Dolla $ign ser especial: a sensação de naturalidade, aquela fluidez soul que transformava participações pontuais em momentos memoráveis.

Acertos isolados e faixas esquecíveis

TYCOON começa de forma agressiva, com “CAN’T BE F****D WITH” e “Don’t Kill The Party” — esta última, a melhor música do projeto e uma das poucas que realmente soam vivas. Curiosamente, a faixa chegou a aparecer em versões preliminares de Vultures 2, o que talvez explique o brilho que ela ainda carrega. O beat é sólido, a mistura de trap e R&B funciona, mas Ty, mais uma vez, fica escanteado, ofuscado pelos versos intensos de Quavo e Juicy J. É como se, dentro do próprio disco, ele já aceitasse o papel de coadjuvante.

Em seguida, “DECEMBER 31ST” traz um ótimo verso de A$AP Rocky, que eleva instantaneamente o nível do álbum — seu flow é elegante e carrega uma confiança que falta a Ty, hesitante no refrão. Já “SMILE BODY PRETTY FACE” é o oposto: genérica e previsível, uma faixa que tenta soar radiofônica, mas se perde em sua própria esterilidade.

Há momentos em que TYCOON quase encontra o equilíbrio entre diversão e identidade. Em “TYCOON$”, com Young Thug, que injeta energia e carisma. Ou nas eletrônicas e divertidas “ALL IN” e “TWITCH”, que apostam em batidas mais ousadas e texturas espaciais, lembrando o Ty de Beach House 3 (2017).

No restante, o álbum afunda em uma sequência rasa e repetitiva. Os instrumentais parecem reciclados, as letras giram em torno das mesmas metáforas de festas e conquistas. O Ty Dolla $ign que um dia inovou o R&B contemporâneo surge aqui apenas como uma sombra dos próprios feats. Mesmo “MIXED EMOTIONS”, uma das mais aguardadas, fica aquém do potencial — com participações de Travis Scott e Leon Thomas, a música tinha tudo para ser memorável, mas a falta de energia transforma o que poderia ser um clímax em um momento morno.

Deluxe: o resumo da ópera

O deluxe, lançado pouco tempo depois, funciona quase como um resumo do próprio álbum: irregular, curioso, mas sem identidade definida. De um lado, há “BLIND DATE”, um trap pesado e saturado, claramente inspirado no estilo caótico de MUSIC (2025), do Playboi Carti — barulhento, energético, mas vazio de propósito. Do outro, “THOUSAND MILES”, uma reinterpretação literal do hit de Vanessa Carlton, agora na voz de Ty.

Um artista entre eras

No fim, TYCOON soa como o esforço de um artista tentando provar que pode ser o herói da própria história. Ty Dolla $ign quis ser o Batman, mas o fardo é pesado demais.

É um disco preso entre duas eras: R&B emocional que Ty ajudou a modernizar, e a do trap superproduzido, saturado e calculado para os charts. Quando o álbum tenta ser mais leve, funciona, há alma e swing — até mesmo nas paródias dos anos 2000. Mas quando mergulha no trap mais pesado, na maioria das vezes, perde o equilíbrio e escorrega em meio a batidas genéricas e letras que soam automáticas.

Nem mesmo os interlúdios — que poderiam dar unidade ou contexto — cumprem um papel claro. São interrupções confusas, mal distribuídas e sem propósito narrativo, o que reforça a sensação de que TYCOON é uma junção de ideias inacabadas.


Kadu Soares (@soareskaa)

Kadu Soares é formando em Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero, passa o dia consumindo música, esportes, filmes e séries. Possui um perfil no TikTok e um blog no Substack, onde faz reviews de projetos musicais.

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