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'Silent hill f' assusta com terror psicológico na medida certa, mas combates frustram; g1 jogou

‘Silent hill f’: assista ao trailer do jogo
O horror japonês está entre os estilos mais assustadores da cultura pop. Apostar em mostrar um cenário onde coisas bizarras estão acontecendo em um vilarejo no Japão da década de 1960 — com suas casas de madeira que rangem a cada passo, ruelas estreitas que dão uma sensação de se estar sempre perdido e monstros perturbadores — é um dos grandes acertos de “Silent hill f”. No entanto, a forma de enfrentar essas ameaças – combatendo com canos e objetos improvisados – torna muitos momentos de tensão monótonos e frustrantes.
Lançado para PlayStation 5, Xbox Series X|S e PC no final de setembro, o game representa uma mudança bem-vinda na franquia. Sai o protagonista mais preparado para o combate, entra uma estudante do Ensino Médio, Hinako, que luta não só contra criaturas bizarras, mas também contra seus traumas pessoais. Em vez de armas de fogo, ela usa o que encontra pela frente: canos, facas e outros objetos comuns.
Por trás dessas novidades, porém, permanece a essência que define “Silent Hill” há quase 30 anos: o lado psicológico da personagem, carregado de traumas e problemas, é o que conduz a trama e torna a experiência interessante.
Os monstros de ‘Silent hill f’ são assustadores
Divulgação/Konami
Horror excelente
Desde o início, a vida familiar de Hinako é apresentada como fonte do seu sofrimento: a irmã mais velha é a preferida, o pai é alcoólatra, a mãe é submissa, e todos esperam que ela se case para cuidar do lar. Contrariada, ela foge de casa para encontrar amigos, mas encontra o vilarejo imerso em uma estranha neblina densa e silenciosa. A visão limitada por essa névoa assustadora é o ponto de partida para o horror.
O jogo constrói a tensão de forma eficaz. Barulhos estranhos ecoam ao longe, vultos cruzam a tela rapidamente e seres bizarros surgem de surpresa. A ambientação é claustrofóbica, fazendo o jogador se sentir perdido entre ruelas, casebres e até plantações de arroz. O nível de detalhe dos cenários de altíssima qualidade é fundamental para manter a atmosfera de medo constante.
O horror começa sutil, com uma flora bizarra crescendo pelo ambiente – flores, raízes vermelhas e algo que parecem anêmonas que são mortais ao toque. Logo surgem manequins sinistros armados com tesouras, e a partir daí, o design das criaturas mergulha no melhor do “body horror” japonês.
Os monstros parecem inspirados em temas como inveja (uma criatura cheia de rostos pelo corpo que despeja veneno), cobiça (um amálgama de corpos e objetos) e vaidade (seres com o rosto arrancado), além de versões distorcidas de amigos e da protagonista. É perturbador e exige ter estômago forte.
“Silent hill f” sabe dosar o horror com momentos de respiro. As cenas que desenvolvem a história são bem dirigidas, com destaque para a atuação convincente dos personagens. Hinako transmite seu sofrimento e vulnerabilidade de adolescente, mas o roteiro constrói bem sua evolução ao longo da campanha, mostrando que ela é capaz de superar seus medos e traumas.
Os inimigos (e sustos) estão por todos os cantos em ‘Silent hill f’
Divulgação/Konami
Combate deixa a desejar
Se a atmosfera e a narrativa de “Silent Hill f” impressionam, o combate é seu ponto fraco. Hinako usa armas improvisadas como canos e martelos, que possuem durabilidade limitada e quebram, exigindo itens especiais para reparo.
O sistema de luta é lento e, em vez de potencializar a tensão, gera frustração. Hinako possui ataques fracos e fortes, que consomem uma barra de fôlego. A esquiva, essencial para contra-ataques, também gasta energia. Uma barra de “sanidade” permite focar nos inimigos e antecipar ataques, liberando um golpe mais forte no momento certo, mas também se esgota quando Hinako é atingida por ataques sonoros perturbadores, tornando-a mais vulnerável.
O clima de ‘Silent hill f’ amedontrador e nojento
Divulgação/Konami
Apesar do sistema de combate fraco, as batalhas contra os chefes são desafiadoras e visualmente impactantes. Exigem reflexos rápidos, bom uso da sanidade e estudo dos padrões de ataque dos inimigos, que por vezes são quase imprevisíveis.
Os quebra-cabeças, por outro lado, são um ponto alto. O jogo não oferece pistas fáceis, obrigando o jogador a ler documentos e interpretar lendas locais para encontrar soluções. Um enigma exige decifrar uma lenda para manipular imagens; outro, relembrar um piquenique para abrir uma caixa. Como é tradição na série, resolver esses desafios é crucial para avançar na história.
Um bom ‘Silent hill’
“Silent Hill f” resgata a essência do horror psicológico japonês, criando uma atmosfera opressora e monstros genuinamente perturbadores em um cenário rico em detalhes. A trama, focada nos traumas de uma adolescente, e os quebra-cabeças inteligentes honram o legado da franquia. A imersão proporcionada pelo ambiente e pela narrativa é inegável e mantém o jogador tenso durante a maior parte do tempo.
Mas a experiência é frequentemente prejudicada por um sistema de combate lento e frustrante. A dificuldade em lidar com os inimigos comuns quebra o ritmo e transforma momentos que deveriam ser de puro medo em aborrecimento. Apesar das batalhas contra chefes serem visualmente interessantes, esta mecânica falha em que elas atinjam o ápice desejado.
É um jogo que brilha intensamente em seus momentos de exploração e horror atmosférico, mas tropeça quando exige ação direta do jogador.
Cartela resenha crítica g1
Arte/g1