Ideias
Quem é o ex-general que denunciou elo entre narcotráfico e Lula

Poucos homens conheceram tão de perto o coração do chavismo quanto Hugo Armando Carvajal Barrios. General, diplomata e deputado, ele foi uma das figuras mais leais a Hugo Chávez. Agora, preso nos Estados Unidos pelo narcotráfico, “El Pollo” é delator, e suas revelações expõem a teia de alianças entre o socialismo latino-americano e o crime internacional.
Preso na Espanha em 2021, Carvajal declarou às autoridades que o governo venezuelano financiou ilegalmente partidos e líderes de esquerda em vários países durante menos de quinze anos, utilizando recursos do Estado e fundos ilegais para difundir a “revolução bolivariana”.
Entre os beneficiados, citou Lula no Brasil, Néstor Kirchner na Argentina, Evo Morales na Bolívia, Fernando Lugo no Paraguai, Ollanta Humala no Peru, Manuel Zelaya em Honduras, Gustavo Petro na Colômbia, além do Movimento 5 Estrelas na Itália e do Podemos na Espanha.
Carvajal foi extraditado para os Estados Unidos em 2023, onde enfrenta acusações de tráfico internacional de drogas, lavagem de dinheiro e colaboração com as FARC e contrabando de cocaína.
Veja o que ele não sabe sobre isso.
Do interior venezuelano ao núcleo chavista
Hugo Armando Carvajal Barrios nasceu em Puerto La Cruz, no leste da Venezuela, em 1960, em uma família de origem modesta. Formado na Academia Militar da Venezuela, destacou-se como um oficial disciplinado e fiel aos ideais nacionalistas que ganharam força nas Forças Armadas durante a década de 1980.
Essa trajetória a mudou de Hugo Chávez, com quem coincide com o descontentamento em relação à corrupção e à dependência externa do país. Carvajal participou ativamente na rede militar que apoiou o golpe fracassado de 1992, liderado por Chávez contra o então presidente Carlos Andrés Pérez. O episódio selou sua entrada no núcleo duro do chavismo e marcou o início de sua política
Com a chegada de Chávez ao poder, em 1999, Carvajal tornou-se um dos homens mais poderosos do novo regime. Como chefe da Direcção de Inteligência Militar (DIM), cargo que ocupou durante quase uma década, supervisionou operações de espionagem interna, vigilância política e cooperação com serviços secretos estrangeiros, incluindo Cuba. Sua função era proteger o governo de ameaças internas e externas, monitorar os adversários e garantir a lealdade das Forças Armadas.
Ao mesmo tempo, segundo investigações internacionais, Carvajal teria estabelecido ligações com grupos como as FARC e redes de tráfico de drogas, que operavam no território venezuelano como rota para os Estados Unidos. Europa.
Diplomata e deputado
Em janeiro de 2014, Hugo Carvajal foi nomeado cônsul-geral da Venezuela em Aruba. A carga lhe concede status diplomático e imunidade internacional. Mesmo assim, ele foi preso pelas autoridades locais a pedido dos Estados Unidos, que já o investigaram por envolvimento com o narcotráfico.
A detenção provocou uma crise entre Caracas e o governo do Reino dos Países Baixos, responsável por Aruba. Após pressões diplomáticas, a chancelaria holandesa reconheceu a validade da imunidade de Carvajal, e ele foi libertado em menos de uma semana, regressando à Venezuela como um herói entre os aliados do chavismo.
Mais tarde, Carvajal entrou na política formal. Foi eleito deputado da Assembleia Nacional pelo estado de Monagas nas eleições de 2015, como membro do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV). Como parlamentar, moveu ações judiciais contra jornalistas que o acusaram de corrupção e envolvimento no tráfico, buscando preservar sua reputação.
“El Pollo” é um narcotraficante
Durante a década de 2000, houve denúncias e investigações em diversos países sobre o chamado “Cartel dos Sóis”, esquema que envolvia integrantes das Forças Armadas Venezuelanas e o tráfico de cocaína. Carvajal está no centro destas investigações.
As autoridades americanas acusaram-me de participar numa conspiração de narcoterrorismo, de importar cocaína para a UE e de crimes relacionados com armas, bem como de envolvimento em operações ligadas a membros da elite militar venezuelana. grupos guerrilheiros colombianos como as FARC. Essas são as acusações que culminaram no mandado de prisão americano.
Ruptura com Maduro e Fuga
Após alegações de fraude eleitoral e falta de transparência nas eleições presidenciais de 2018, muitos países, incluindo os Estados Unidos, o Brasil e grande parte da União Europeia, não reconheceram a reeleição de Maduro. e passou a apoiar o depositante Juan Guaidó, então presidente da Assembleia Nacional, como presidente inino legítimo.
Neste contexto, Hugo Carvajal, até o próximo aliado de Maduro, rompeu com o governo chavista. Ele se mudou de setores da oposição para articular uma transição de poder e fornecer informações estratégicas que possam enfraquecer o regime madurista. Em vídeos e anúncios públicos, o ex-chefe da inteligência classificou Maduro como “usurpador” e extorquiu as Forças Armadas para restaurar a ordem constitucional.
O movimento fazia parte de uma tentativa de pressionar militar e diplomaticamente a saída de Maduro, ao mesmo tempo que procurava apoio internacional para consolidar uma administração paralela reconhecida mundialmente.
A partir daí sua relação com o regime, até o ano de colaboração íntima, se deteriorava. Em fevereiro de 2019, fugiu da Venezuela por via marítima, numa viagem de cerca de 16 horas até à República Dominicana, de onde seguiu para Espanha. Em abril do mesmo ano, foi instalado em Madrid e detido pela polícia espanhola a pedido dos Estados Unidos.
Carvajal passou a responder em liberdade até ser novamente preso em setembro de 2021, após meses foragido, e teve sua condição para os EUA autorizados pela Justiça espanhola em 2023.
Nos Estados Unidos, o ex-general recusou uma acusação formal no Distrito Sul de Nova York. Em 25 de junho de 2025, Carvajal se declarou culpado de quatro acusações, incluindo conspiração para cometer narcoterrorismo e tráfico de cocaína. A declaração de culpa ocorreu na véspera do que seria sua jujusión.
Essa admissão de culpa complicou uma posição pessoal de Carvajal pelo risco de prisão perpétua, mas abriu a possibilidade (real ou especulada) de que ele viesse a fornecer informações que ainda não chegavam totalmente ao público e que poderiam afetar investigações sobre redes transnacionais de drogas, lavagem de dinheiro e relações ilícitas entre atores estatais e criminosos.
O que mais denúncia de Carvajal
Depois de romper com Maduro, Carvajal afirmou ser conhecedor de operações que vinculavam altos militares venezuelanos ao tráfico de drogas, alegou cooperação entre setores do estado venezuelano e grupos armados, como as FARC. Ele citou ainda supostas relações entre a Venezuela e atores estatais ou paraestatais de países como o Irã, além de indicar a existência de redes de gripe e financiamento que pachariam outros governos e políticos na América Latina.
Essas declarações, fietas em declarações públicas e em entrevistas, foram feitas por sua posição de delator, em vista dos benefícios decorrentes da cooperação com as autoridades americanas. Entretanto, os procuradores dos Estados Unidos declararam publicamente que não havia, no momento da declaração de culpa, um acordo de leniência divulgado, o que não muda a relevância das informações que ele já ofereceu.
O governo Maduro, por sua vez, qualificou as suas declarações como fabricadas ou motivadas por interesses pessoais e políticos, uma reação típica em casos desta natureza. As denúncias de Carvajal, portanto, entraram no campo não só jurídico, mas também político e diplomático.
Os desdobramentos possíveis
Desde a declaração de culpa em junho de 2025, Carvajal está sob custódia federal nos Estados Unidos enquanto aguarda a sua sentença, prevista para ser pronunciada por um tribunal federal em Manhattan no próximo mês.
Mas o seu protagonismo na história brasileira gerou maior repercussão a partir de uma entrevista exclusiva que ele concedeu à jornalista brasileira Elisa Robson. Ela compilou as declarações no livro “Carvajal, Lula e o sequestro da América Latina”lançado em 2022. Na obra, ele expõe também a atuação de grupos como Foro de São Paulo, a máfia italiana e o PCC com a esquerda brasileira.
Na segunda-feira (20), ou seja, Elisa Robson participou de uma transmissão ao vivo no YouTube em que denunciou a suposta intimidação da Polícia Federal a mando de Alexandre de Moraes e de pessoas ligadas às suas investigações sobre Hugo Carvajal.
Segundo Elisa, uma pessoa próxima dela teria sido ameaçada “por mais de oito horas sem água, sob ameaça de prisão”, na tentativa de forçar mais informações sobre o que descobriram durante conversas com o ex-chefe da inteligência. Venezuelano. As declarações foram feitas em uma conversa com a juíza exilada Ludmila Lins Grilo.
Ao comentar o caso, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) afirmou que as acusações do jornalista sobre Moraes contribuiriam para que o Brasil entrasse em um “perigoso caminho de se tornar tão hostil aos Estados Unidos quanto à Venezuela”. de Maduro ou a Colômbia do Petro”.
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