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Que diabos está acontecendo em ‘Para Sempre Minha’?

Uma mulher em perigo, uma cabana na floresta, uma força maligna à espreita nas sombras — esses são os elementos mais reconhecíveis do horror moderno, subgênero que se baseia em viagens de fim de semana que se transformam em massacres. Para Sempre Minha (no inglês, Keeper), de Osgood Perkins, quer adicionar algumas novidades a essa velha fórmula. Que tal: um bolo? Um primo babaca? Imagens aleatórias de água? Uma montagem de várias mulheres ao longo dos tempos, que ficam cada vez mais irritadas até que imagens de seus rostos ensanguentados passem num piscar de olhos? Uma pessoa com um saco plástico na cabeça, fazendo aquele gesto de coração com os dedos? Uns garotos com mosquetes, típicos da América antiga? Já mencionamos que tem bolo?
Perkins começou como cineasta com uma compreensão sólida do que causa arrepios na psique e um gosto refinado de fã — tanto A Enviada do Mal (2015) quanto A Bela Criatura Que Mora Nesta Casa (2016) exploraram elementos góticos e presenças fantasmagóricas de uma forma que parecia familiar, mas, ao mesmo tempo, inovadora. Ele agora se tornou o mestre do macabro da Neon, produzindo prolificamente três filmes em menos de dois anos (e outro a caminho). Seu thriller sobre um serial killer, Longlegs – Vínculo Mortal (2024), é o filme mais lucrativo da empresa até hoje, e O Macaco (2025) transforma um conto de Stephen King em uma espécie de festival de sangue e comédia pastelão. Perkins faz coletâneas de filmes de terror alternativos, reunindo diversas convenções e deixando-as colidir umas com as outras. Os resultados são definitivamente familiares. Quanto a serem “inovadores”, bem…
Para Sempre Minha mantém essa tradição, aplicando a atmosfera enigmática e assustadora de pesadelo característica do cineasta a uma premissa simples, adicionando uma série de elementos díspares, juntamente com uma boa dose de confusão. Ou talvez seja “ambiguidade” — você decide, leitor.
Liz (Tatiana Maslany) e Malcolm (Rossif Sutherland) namoram há um ano. Ele planejou uma viagem para a casa de campo da família, situada ao lado de um rio em meio à floresta. À primeira vista, o relacionamento parece sólido, embora a melhor amiga de Liz ainda a questione constantemente sobre o namoro. Eles já falaram sobre filhos? Ele está escondendo alguma coisa? O que é aquele cardigã bege que ele te deu de presente? Quem compra roupa bege para alguém?!
Assim que o casal chega a essa cabana pitoresca na floresta, Malcolm começa a agir de forma muito estranha. Há um bolo misterioso em uma caixa manchada, que ele alega ser um presente do zelador do local. Além disso, ele parece ter convenientemente esquecido de mencionar que seu primo babaca (Burkett Turton) mora na casa de hóspedes bem em frente. Quando o tal babaca aparece inesperadamente tarde da noite, acompanhado de uma modelo do Leste Europeu (Eden Weiss), o sujeito rapidamente leva Malcolm para uma conversa particular e depois vai embora. Mas não antes de sua acompanhante da noite mencionar de passagem que o bolo “tem gosto de merda”. Hum.
Depois que eles saem, Malcolm começa a insistir para que Liz coma um pedaço de bolo. Liz não quer bolo. “Coma só um pedacinho”, ele insiste. É de chocolate, e Liz não gosta de chocolate. “Mas é um bolo gostoso”, Malcolm reclama. (Vale ressaltar que esse namorado é um reclamão de primeira, além de ser um namorado inseguro e possessivo, com o ego facilmente ferido e que parece estar reprimido. Parabéns a Sutherland por interpretar tão bem essas camadas.) “Não, obrigada”, diz Liz. “Por favor, coma o bolo”, responde Malcolm, levando um pedaço da sobremesa úmida bem perto dos lábios de Liz. Finalmente, ela dá uma mordida no bolo. Ela realmente quer ser uma boa parceira. Preste atenção e você poderá escutar Malcolm suspirando de alívio.
Quer dizer, tudo isso é totalmente normal e tranquilo, né? Nada com que se preocupar. O mesmo vale para o fato de que nenhuma das portas da casa tranca, exceto a do banheiro. Ou que um coração misteriosamente aparece desenhado no vapor atrás da cabeça da Liz quando ela toma banho, e não tem mais ninguém lá. Ou que, no dia seguinte, Malcolm — que é médico — de repente precisa ir embora porque um paciente está, hum, em coma e, olha, ele simplesmente precisa ir! O que significa que Liz fica sozinha em uma casa onde sombras ocasionalmente parecem se mover pelas paredes por conta própria. Você já deve imaginar onde isso vai dar.
Ou será que não? Será que alguém, incluindo os criadores desta combinação inegavelmente atmosférica de terror sobrenatural, elementos diversos de folclore, travessuras de filme de terror, alusões vagas à política de gênero e exploração descarada de bolos, imagina? Perkins se especializa em evocar uma sensação geral de pavor e criar imagens alucinatórias que funcionam melhor como condutores livres de medo do que, digamos, como peças de um quebra-cabeça para compor um quadro maior. Você passa boa parte de Para Sempre Minha formulando teorias sobre o que está acontecendo, analisando cuidadosamente as pistas na esperança de encontrar possíveis respostas. No entanto, quando tudo é revelado, você deseja ter voltado àquela ignorância anterior que agora parece um estado de êxtase.
Dizer que Tatiana Maslany é um trunfo aqui é óbvio, visto que ela já salvou alguns projetos do desastre total. Este é o tipo de papel que nem sempre permite sutilezas ou nuances, e a atriz canadense sabe exatamente como interpretar alguém que tenta apaziguar potenciais predadores sem ceder, ou deixar o público ver seu terror enquanto o esconde dos aterrorizantes ao redor. Ela é realmente uma escolha valiosa. Quanto ao filme em si? Ainda não há consenso.
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