Moda
Projeto SilverBack transforma jovens com Jiu-Jitsu na Baixada
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Chegar à Parada Angélica, em Duque de Caxias, é como visitar um território de fronteira. O bairro marca o limite do município com Magé e, assim como muitas áreas da Baixada Fluminense, enfrenta desafios ligados à vulnerabilidade social, à falta de oportunidades e à violência urbana. Foi nesse cenário que nasceu o Projeto SilverBack (Leão de Cristo), uma iniciativa que vem ressignificando o tempo e os sonhos de crianças, jovens e adultos do território.
O projeto foi criado em junho de 2021 por Sérgio Benedito, pastor, motorista de aplicativo e instrutor de Jiu-Jitsu. A inspiração surgiu após uma graduação no esporte e a responsabilidade transmitida por seu professor. A proposta, segundo ele, é simples e ao mesmo tempo poderosa: tirar crianças, jovens e adultos da ociosidade e apresentar um caminho diferente daquele que o bairro costuma oferecer.
O SilverBack tem como foco o ensino do Jiu-Jitsu e da defesa pessoal, mas vai muito além das técnicas de luta. No tatame, os alunos aprendem valores como hierarquia, disciplina, humildade, responsabilidade, compromisso e respeito, princípios que ultrapassam as paredes do projeto e se refletem em casa, na escola e na convivência com a comunidade.
A vitória para Sérgio não está apenas nos resultados esportivos, mas na permanência dos alunos e na transformação que ele testemunha todos os dias. “Ver os alunos chegarem e ficarem é o que nos mantém de pé. Sem eles, o projeto não existiria”, afirma ele. Mesmo assim, os resultados em competições também enchem de orgulho: na Copa Magé, o grupo levou seis atletas e voltou com quatro cinturões de primeiro lugar e duas medalhas de segundo, prova do potencial que existe dentro da comunidade.
Para o fundador, conduzir o projeto é motivo de realização e esperança. “Eu me sinto maravilhosamente bem em saber que temos talentos que podem mudar de vida e dar uma condição melhor às suas famílias. Acredito que daqui podem sair atletas de alto rendimento”, diz Sérgio, que sonha em ampliar o espaço e alcançar mais moradores da região.
Mas os desafios ainda são grandes. A falta de compreensão de alguns pais sobre os treinos e competições é um obstáculo frequente, assim como as operações policiais que, por questões de segurança, muitas vezes interrompem as atividades. Além disso, o projeto não possui sede própria, funcionando atualmente em um espaço cedido pelo professor Vando, líder do projeto Um Passo a Mais Capoeira.
Mais do que medalhas, o SilverBack coleciona histórias de superação. Para Luiz Otávio, de 16 anos, o projeto é um lugar para desestressar, descansar e aprender. “Aqui me sinto feliz e confiante. Quero alcançar alto rendimento no esporte”. Já Alisson Cardoso, de 15 anos, vê o Jiu-Jitsu como um refúgio: “Antes eu não fazia nada da vida. Agora treino por amor. Isso mudou minha rotina e meu jeito de ver o futuro”.
Os relatos se repetem entre os alunos. Luiz Eduardo Benedito, de 16 anos, sonha em lutar fora do país: “O Jiu-Jitsu mudou minha vida. Se pudesse, moraria no tatame. Quero seguir carreira no UFC”. Já Wélson, de 13 anos, conta que o esporte trouxe mudanças físicas e emocionais: “Antes eu era frágil. Depois do Jiu-Jitsu, fiquei mais forte, aprendi a respirar e até correr melhor. Ganhei postura e resistência”.
Os impactos chegam também às famílias. Rosana Gonçalves da Costa, mãe e avó de alunos, observa transformações no comportamento dos jovens: “Eles mudaram completamente. Estão mais obedientes, calmos e educados. Fazem as tarefas de casa, frequentam a escola e aprenderam a ter disciplina. Mesmo que não virem profissionais, só essa mudança já valeu a pena”.
Entre os muitos depoimentos, o de Vitória Martins, 14 anos, resume o sentimento coletivo: “No tatame esqueço tudo de ruim que acontece lá fora. É minha liberdade”.
Como colaborar
O projeto precisa de apoio financeiro. A iniciativa sobrevive com a ajuda da comunidade. Quem quiser contribuir pode fazer doações financeiras via Pix 21975597627, oferecer materiais como tatames, sacos de pancada, pesos e elásticos, apadrinhar um aluno que não tem condições de comprar uniforme ou oferecer tempo como voluntário em áreas como fotografia, enfermagem, administração e marketing.