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Os principais desafios de fazer comédia atualmente, segundo Ben Stiller

Conhecido por seus papéis em comédias de sucesso como Zoolander (2001), Uma Noite no Museu (2006) e Trovão Tropical (2008), o ator e diretor Ben Stiller revelou que está mais difícil fazer comédias devido ao clima político atual, especialmente nos Estados Unidos sob o governo do presidente Donald Trump.
“Obviamente, neste ambiente, comédia mais ousada é mais difícil de fazer”, disse à Radio Times (via NME). Na conversa, o artista falou que sua percepção sobre a comédia mudou, e que o gênero está se tornando mais difícil de navegar nos últimos anos. Ele percebe uma diferença na atitude do público: segundo o ator, Trovão Tropical teria poucas chances de ser feito hoje devido à natureza controversa de muitas piadas.
“Vivemos em um mundo onde arriscar na comédia é mais desafiador. Estamos vendo isso em evidência em nosso país”, explicou. “Definitivamente não na escala em que a fizemos, também, em termos de economia do negócio.”
Há limites na comédia?
A liberdade de expressão na comédia tem sido um tema central em Hollywood, especialmente após o recente caso de Jimmy Kimmel: o programa Jimmy Kimmel Live! foi temporariamente retirado do ar pela ABC, após um comentário sarcástico do apresentador a respeito do assassinato de Charlie Kirk, ativista de extrema-direita.
“A turma do MAGA [sigla para Make America Great Again] está desesperada para caracterizar esse garoto que matou Charlie Kirk como qualquer coisa que não seja um deles e fazendo de tudo para tirar proveito político disso”, afirmou Kimmel.
Segundo a empresa responsável pelo programa, o posicionamento teria sido “ofensivo e insensível”. Ben Stiller republicou uma notícia sobre o assunto no X, e acrescentou: “Isto não está certo”. Outras celebridades também manifestaram indignação com a decisão, como a atriz Jean Smart e a humorista Wanda Sykes. O programa ficou suspenso entre 17 e 22 de setembro, e Kimmel retornou com um pedido de desculpas e um discurso sobre valorização da liberdade de expressão.
A comédia é uma ferramenta historicamente utilizada para satirizar questões sociais, mas a discussão sobre os seus limites — principalmente quando se trata de temas sensíveis ou polêmicos, como raça, gênero, religião, deficiência e identidade — tem ganhado novos contornos frente às transformações políticas recentes.
Ao mesmo tempo em que criadores defendem o uso indiscriminado da comédia por sua capacidade única de canalizar o absurdismo cotidiano com sensibilidade, outros apontam problemáticas de um espetáculo de stand-up se transformar em uma enxurrada de ofensas, em detrimento de um recurso crítica, e a importância de trabalhar com responsabilidade ética.
No entanto, Stiller pediu aos trabalhadores da comédia que não recuem diante da pressão externa. Ele ainda tem esperanças de que o gênero possa prosperar se os criadores continuarem a seguir seus instintos. “Acho importante que os comediantes continuem fazendo o que fazem, falando a verdade aos poderosos e sendo livres para dizer o que quiserem. Isso é o mais importante”, afirma.
O problema das redes sociais
O artista também comentou sobre outra ameaça à comédia: a ascensão das mídias sociais. Segundo ele, o público agora está mais acostumado a conteúdos curtos de plataformas como o TikTok e Instagram, e essa cultura hiper acelerada impacta a capacidade de concentração e engajamento da audiência com os espetáculos. “Acho que reduzimos um pouco nossa capacidade de atenção. Sinto-me sortudo por crescer no mundo analógico”, reflete.
Além dos papéis de sucesso na comédia, Ben Stiller também esteve por trás das câmeras nas duas primeiras temporadas de Ruptura, drama de sucesso da Apple TV+, dirigindo 11 de 19 episódios até agora. A última temporada recebeu 27 indicações no Emmy 2025. Entretanto, ele não retornará como diretor para a terceira temporada, porque trabalha em um novo filme.
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