Música
O grande arrependimento de Ace Frehley em relação ao Kiss
Ace Frehley, que nos deixou nesta quinta-feira, 16, dizia no geral que não tinha arrependimentos. Mesmo após deixar o Kiss por duas vezes, em 1982 e 2002, o guitarrista original do grupo afirmava dispensar qualquer lamentação como um todo em sua vida.
Ele, porém, admitia se arrepender de algo não tão decisivo para sua vida, mas que gostaria de ter feito. O Spaceman confessou que queria ter participado da gravação de Creatures of the Night (1982), décimo álbum de estúdio da banda que o consagrou.
Frehley é creditado pelo disco em questão e apareceu até mesmo na capa, bem como nos primeiros eventos de divulgação. No entanto, ele não toca: as guitarras foram gravadas por Vinnie Vincent (que seria escolhido como seu substituto oficial), Robben Ford, Steve Farris e Adam Mitchell, além do também vocalista Paul Stanley. Curiosamente, este foi o trabalho que trouxe o Kiss ao Brasil em turnê pela primeira vez, em 1983.
Em entrevista de 2016 ao jornalista Eddie Trunk, Ace citou que sua vontade em participar de Creatures ocorria porque este trabalho contava com uma sonoridade pesada, orientada ao hard rock e até flertando com o heavy metal. O antecessor direto no catálogo, Music from The Elder (1981), soava leve e se aproximava do progressivo. E antes disso, a banda absorveu influência da disco music em Dynasty (1979) e Unmasked (1980). Nada rock’n’roll, né?
Frehley disse:
“Acho Creatures um bom disco. Era o disco que eu gostaria de ter gravado, ao invés de Music from The Elder. Durante as gravações de The Elder, insisti a Paul [Stanley, voz/guitarra], Gene [Simmons, voz/baixo] e BobEzrin [produtor] que aquele era o álbum errado na época errada. Deveríamos ter feito um disco de hard rock pesado. Era o que os fãs queriam e esperavam.”
O guitarrista original, inclusive, enchia o peito para dizer que previu o fiasco de Music from The Elder. É um dos álbuns mais criticados da trajetória do Kiss e um dos raros a não conseguir disco de ouro nos Estados Unidos.
“Todos me ignoraram. E sabemos o que aconteceu e como The Elder foi recebido.”
Por que Ace Frehley está na capa de Creatures of the Night
Ainda durante a entrevista, Ace Frehley explicou por que aceitou participar da capa e de eventos promocionais de Creatures of the Night, apesar de já ter saído da banda naquele período. O guitarrista havia feito um acordo com seus ex-colegas.
“Prometi a Paul e Gene que cumpriria com minhas obrigações em promover o disco. É o que músicos profissionais fazem.”
Frehley — que deixou o grupo pela primeira vez em 1982 devido a problemas com a dependência química e desentendimentos com Simmons e Stanley — chegou a regravar “Rock And Roll Hell”, uma das faixas de Creatures of the Night, no trabalho de covers Origins Vol. 1 (2016). Ouça a seguir.
Sobre o guitarrista original do Kiss
Nascido em 27 de abril de 1951, Paul Daniel “Ace” Frehley começou a tocar guitarra aos 13 anos e cresceu em família musical. Na juventude integrou várias bandas locais enquanto conciliava trabalhos como carteiro, motorista de táxi e entregador.
Em 1972, respondeu a um anúncio para guitarrista de uma nova banda. Foi selecionado por Paul Stanley (voz e guitarra), Gene Simmons (voz e baixo) e Peter Criss (bateria) após uma curiosa audição na qual apareceu “mal vestido”, segundo os colegas, mas surpreendeu com sua performance.
Juntou-se ao grupo que adotou o nome Kiss em 1973. Frehley criou a persona Spaceman (também Space Ace), pintando estrelas prateadas nos olhos. Também é dele o o logotipo de raio duplo da banda.
Ace permaneceu na formação inicialmente até 1982, quando, em meio a problemas com a dependência química e conflitos com Stanley e Simmons, saiu do grupo.
Após deixar o Kiss, formou o Frehley’s Comet, com a qual lançou dois álbuns, e iniciou carreira solo. Em 1996 retornou à banda mascarada para uma turnê de reunião, permanecendo até 2002.
Frehley foi introduzido no Rock and Roll Hall of Fame em 2014 como membro do Kiss. Foi creditado por 11 álbuns de estúdio do grupo, embora não tenha tocado em um (Creatures of the Night, 1982) e sua presença em outro (Psycho Circus, 1998) seja limitada a apenas algumas faixas. Também disponibilizou oito discos de estúdio em carreira solo.
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