Música
O estado das rivalidades no rap na indústria musical

As rivalidades no rap sempre caminharam numa linha tênue entre competição e caos, mas em 2025, essa linha estava mais turva do que nunca. Antes uma questão de disputas líricas de alto risco, rivalidades como a de Kendrick Lamar e Drake agora podem impulsionar streams, hashtags e visibilidade de marca às alturas, trazendo novas questões. Muitos observadores ficaram se perguntando: rivalidade é um esporte, uma ferramenta de marketing, ou algo mais perigoso?
“As redes sociais amplificaram tudo”, diz Trent Clark, chefe do TMZ Hip Hop. “Até um fã casual pode ter uma opinião de peso com conhecimento mínimo”. Ele aponta que o volume enorme de conversas em torno desses conflitos transformou as rivalidades do rap em seu próprio segmento de entretenimento que a indústria e seus algoritmos exploram avidamente.
Rob Markman, VP de música e conteúdo da Genius, concorda que a dinâmica mudou. “Agora, o mundo inteiro está assistindo, ouvindo e incentivando”, ele diz. “Você está realmente investido nessa cultura? Ou [apenas] na destruição que vem com ela?”
Drake vs. Kendrick: Segunda Rodada
QUANDO Kendrick Lamar e Drake terminaram de trocar indiretas na primavera de 2024, sua disputa havia se tornado a rivalidade mais lucrativa da história do rap. Not Like Us (2024) de Lamar dominou as paradas e ganhou cinco Grammys, incluindo Gravação e Música do Ano, na premiação em fevereiro passado. “Pelos números, é a maior rivalidade de todos os tempos”, diz Clark.
Mas as consequências borraram os limites entre performance e precedente. Em janeiro, Drake entrou com um processo de difamação contra a Universal Music Group por promover a faixa de Kendrick. Dez meses depois, um juiz rejeitou o processo, mas a indústria permanece cautelosa sobre como isso poderia afetar futuras faixas de diss. “Rappers ainda podem batalhar entre si?”, Markman se pergunta.
Enquanto o processo destacou as maneiras pelas quais o conflito pode impulsionar streams, especialistas dizem que também mostrou como essas situações podem complicar campanhas de marketing, patrocínios e turnês. A rixa de Kendrick e Drake acabou na justiça em parte porque ambos os artistas lançam música pela Universal Music Group, e é difícil imaginar que essa tensão foi bem-vinda nos bastidores. Pode gerar atenção de curto prazo, mas também pode tornar os negócios de longo prazo complicados.
Os fãs estão conduzindo a narrativa?
NESTE OUTONO, a tensão renovada entre Cardi B e Nicki Minaj dominou as manchetes, mas embora as duas tenham trocado muitas farpas online, não houve troca oficial de músicas. “Com Nicki e Cardi, há uma parcela de ‘eu não gosto de você’. Elas simplesmente não gostam uma da outra”, observa Markman.
Ele acrescenta que as rainhas do rap rivais frequentemente pareciam estar reagindo ao que seus fãs lhes contaram que aconteceu. “Os exércitos de fãs alimentam o fogo”, ele diz. “Isso tem que ter um efeito psicológico. A natureza da internet e do fandom mudou as regras do jogo”.
Esse ciclo de feedback — fãs provocando artistas, artistas respondendo online, veículos de mídia amplificando a resposta — confunde a linha entre competição e drama movido pela audiência. E para as mulheres no hip-hop, o escrutínio é ainda mais profundo. “Você tem que ser dura o suficiente para ser convincente, mas ainda tem que mostrar algumas [qualidades de] garota delicada”, acrescenta Clark.
Depois que Minaj insultou sua filha, Cardi foi elogiada por ter seguido o caminho mais digno. A rivalidade delas permaneceu online, e quando o álbum de Cardi Am I the Drama? (2024) chegou ao número um em setembro, não havia uma única indireta a Minaj gravada.
Quando a rivalidade vira derramamento de sangue
ALGUNS CONFLITOS, porém, carregam um risco maior. A tensão entre NBA YoungBoy e Lil Durk, e seus respectivos protegidos, Quando Rondo e o falecido King Von, escalou para violência no mundo real há cinco anos. Em 2020, o associado de Rondo, Lul Timm, atirou e matou Von do lado de fora de uma boate em Atlanta, alegando legítima defesa; as acusações foram posteriormente retiradas. Durk está atualmente na prisão após ser preso em novembro passado sob acusação de que supostamente arquitetou um plano de 2022 para assassinar Quando Rondo em retaliação. (Ele se declarou inocente.)
Esse histórico tornou o recente show de YoungBoy em Atlanta especialmente tenso. Na mesma noite em que disse à multidão que não carrega mais armas e que está “mirando fazer a coisa certa”, YoungBoy trouxe Lul Timm ao palco e apresentou sua indireta de 2022 a Durk, “I Hate YoungBoy”. Um show subsequente em Atlanta foi cancelado. E semanas depois, NLE the Great (anteriormente NLE Choppa) ganhou manchetes ao atacar YoungBoy em uma nova faixa própria.
Momentos de reconciliação — como YFN Lucci e Young Thug enterrando sua rixa de uma década neste outono — frequentemente fazem menos barulho. “O público te abandona quando o drama acaba”, diz Clark.
Então, a rivalidade é boa para os negócios? Em casos como os de Kendrick e Cardi, onde a competição indiscutivelmente acaba elevando a arte, talvez. “A rivalidade no rap é boa para a cultura de algumas maneiras, em termos de dar voz às pessoas”, diz o veterano da indústria Al Branch, que trabalhou no marketing de Jay-Z, Lil Nas X e outros. “[Mas] você tem que saber aceitar suas derrotas”.
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