Música
Morre Lô Borges, gênio mineiro da MPB, aos 73 anos

O compositor e cantor mineiro Lô Borges faleceu, aos 73 anos, após mais de quinze dias de internação em Belo Horizonte. A notícia foi confirmada pela família do artista nesta segunda-feira, dia 3 de novembro.
Ele estava estava internado desde 17 de outubro, em estado grave e com necessidade de ventilação mecânica e traqueostomia, após sofrer intoxicação medicamentosa em sua residência. O quadro evoluiu para falência respiratória e exigiu intervenção cirúrgica.
Apesar dos esforços médicos, o cantor não resistiu e morreu, deixando uma marca profunda na música brasileira, reconhecido como um dos mais importantes compositores da MPB e do movimento mineiro.
Vida e carreira de Lô Borges
Salomão Borges Filho, mais conhecido como Lô Borges, nasceu em 10 de janeiro de 1952, em Belo Horizonte, Minas Gerais. Ainda jovem, aproximou-se de outros músicos que viriam a integrar o coletivo Clube da Esquina, como Milton Nascimento e Toninho Horta, grupo que se tornaria central para a música popular brasileira. No início da década de 1970, esse movimento trouxe ao país um novo olhar sonoro, misturando MPB, jazz, rock e música mineira.
Em 1972, Lô Borges coassinou o álbum Clube da Esquina (1972). No mesmo ano, lançou seu primeiro álbum solo, intitulado simplesmente Lô Borges (1972), cuja capa com um par de tênis fez o LP ganhar o apelido de “Disco do Tênis”.
Nos anos seguintes, Lô experimentou diferentes linguagens musicais. Em 1979, lançou A Via-Láctea (1979), terceiro álbum de estúdio, ampliando suas influências. Em 1982, veio Nuvem Cigana (1982), que revisita a faixa-título já presente no universo Clube da Esquina e reforça sua capacidade de reinventar a própria obra. Ao longo das décadas, lançou inúmeros discos, explorando estilos que iam da MPB ao rock, do jazz à canção de raiz, sempre com a marca de sua guitarra, sua voz e sua identidade mineira.
Legado, influência e presença até os dias de hoje
Lô Borges é amplamente reconhecido como um dos compositores mais influentes da música brasileira contemporânea. Suas canções atravessaram gerações: faixas como “Um Girassol da Cor do Seu Cabelo”, “O Trem Azul” e “Paisagem da Janela” continuam sendo regravadas e referenciadas por novos artistas. Seu trabalho ajudou a definir a sonoridade sonhadora da “mineiridade” nos anos 70 — uma mistura de MPB, rock e jazz.
Sua influência não ficou restrita ao Brasil: músicas e arranjos de Lô foram citados por grupos internacionais, e o “Disco do Tênis” virou cult entre ouvintes que descobriram o álbum décadas depois. Ele manteve presença constante em shows, colaborações e álbuns, provando que, mesmo após os grandes clássicos das décadas passadas, ainda tinha relevância artística e criatividade ativa.
Mesmo depois de mais de cinco décadas de carreira, Lô Borges manteve uma impressionante regularidade de lançamentos. A partir de 2019, lançou álbuns como Rio da Lua (2019), Dínamo (2020), Muito Além do Fim (2021), Chama Viva (2022) e Não Me Espere na Estação (2023). Em 2025, seu álbum Céu de Giz, Lô Borges convida Zeca Baleiro (2025) também apareceu como novidade. Ainda que sua agenda fosse interrompida por questões de saúde, ele seguia se apresentando — como no Festival Estilo Brasil, com a turnê “Esquinas & Canções”. Essa fase final da carreira atestava não só sua longevidade, mas também sua adaptação a diferentes tempos, plataformas e públicos.
