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Medicamentos comuns continuam alterando seu intestino anos depois de você parar de tomá-los
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Tomar um medicamento pode parecer um ato passageiro, mas seus efeitos podem durar muito mais do que se imagina. Um estudo da Universidade de Tartu, na Estônia, revelou que medicamentos usados há anos ainda influenciam o microbioma intestinal, o conjunto de trilhões de bactérias que afetam digestão, imunidade e até a saúde mental.
A pesquisa analisou amostras de 2.509 pessoas e descobriu que remédios como betabloqueadores, antidepressivos, benzodiazepínicos e inibidores da bomba de prótons deixaram marcas detectáveis nas bactérias intestinais mesmo três ou mais anos após o uso.
Registros médicos revelam rastros de longa duração
Os cientistas conseguiram rastrear o histórico de medicamentos com precisão graças aos registros eletrônicos de saúde da Estônia, que documentam cada receita médica preenchida ao longo de cinco anos.
Ao comparar usuários antigos e não usuários, os pesquisadores constataram que 42% dos 186 medicamentos avaliados causaram alterações persistentes no microbioma, mesmo depois que o tratamento havia terminado.
Embora os antibióticos já fossem conhecidos por afetar a flora intestinal, a pesquisa mostrou que benzodiazepínicos e betabloqueadores têm efeitos igualmente potentes e duradouros. O alprazolam e o diazepam, por exemplo, alteram a composição bacteriana de forma semelhante a antibióticos de amplo espectro. Entre os betabloqueadores, o metoprolol mostrou um impacto muito mais forte do que o nebivolol, evidenciando que diferentes drogas da mesma classe podem ter efeitos muito distintos sobre o intestino.
As bactérias mais afetadas e a redução da diversidade microbiana
Entre as espécies mais afetadas estão membros da ordem Clostridiales e bactérias orais como Streptococcus parasanguinis e Veillonella parvula, que podem migrar para o intestino quando a acidez gástrica diminui. Além disso, pessoas que usam ou usaram medicamentos específicos apresentaram menor diversidade bacteriana, o que indica um microbioma menos saudável e mais vulnerável a doenças.
O estudo também revelou um padrão “aditivo”: quanto mais medicamentos uma pessoa tomou ao longo da vida, maior o impacto sobre seu microbioma atual.
Os efeitos acumulados foram até mais significativos do que o uso de medicamentos no momento da coleta das amostras. Segundo os pesquisadores, isso significa que o histórico de uso de remédios pode ser tão importante quanto o tratamento atual para entender a saúde intestinal.
Consequências para a medicina e a saúde intestinal
Essas descobertas levantam questões cruciais para a prática médica. Se os medicamentos deixam marcas duradouras nas bactérias intestinais, e se o microbioma influencia diretamente a saúde, então as decisões terapêuticas de hoje podem afetar o bem-estar de longo prazo. Os cientistas alertam que é fundamental considerar o histórico de medicações em pesquisas e diagnósticos sobre o microbioma, para evitar confusões entre os efeitos de doenças e os dos remédios.
Ainda não há motivo para interromper tratamentos prescritos, afinal, eles são essenciais para condições graves, mas o estudo reforça a necessidade de entender melhor como os medicamentos moldam o corpo humano e de buscar estratégias para minimizar seus impactos intestinais no futuro.