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Lívia Spala explica autismo e saúde mental

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Desde muito cedo, a vida de Lívia Spala foi marcada por risco, cuidado e resistência. Prematura e acometida por uma infecção grave logo após o nascimento, precisou ser transferida de helicóptero para o Rio de Janeiro para receber tratamento especializado. Anos mais tarde, essa mesma sobrevivente se tornaria médica e conduziria sua prática com atenção especial ao sofrimento psíquico, ao autismo e ao TDAH.

Filha de uma ginecologista que também viveu a rotina intensa de plantões, Lívia cresceu em um ambiente permeado por conversas sobre cuidado, desafios profissionais e histórias de pacientes. A escolha pela medicina surgiu como uma extensão natural dessa vivência familiar. “Eu sempre gostei de ajudar. A medicina me permite olhar com cautela, ouvir e sentir a dor do outro”, resume.

Atualmente, a médica reside em Resende, no interior do Rio de Janeiro, cidade onde vive há 15 anos e de onde organiza sua prática clínica e suas rotinas de atendimento.

Saúde mental e uma pausa necessária

Apesar da familiaridade com o universo médico, o caminho da graduação não foi linear. Durante o curso, Lívia enfrentou um episódio de depressão que a levou a interromper temporariamente os estudos. A pausa se transformou em parte fundamental de sua visão de cuidado. “Foi muito duro parar, mas eu precisava cuidar de mim. Quando um paciente me conta o que sente, eu sei, porque também passei por isso”, relata.

Sem se apresentar como especialista e atuando como médica generalista dedicada à saúde mental, ela passou a atender pessoas com diferentes formas de sofrimento psíquico e transtornos do neurodesenvolvimento, especialmente autismo e Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) — áreas que dialogariam diretamente com sua trajetória pessoal.

O diagnóstico de autismo na vida adulta

O reconhecimento da própria neurodiversidade surgiu no consultório. Ao ouvir relatos de crianças e adultos autistas, Lívia passou a identificar traços semelhantes aos que havia vivido na infância. “Eu atendia e pensava: eu fazia isso, eu sentia isso. Mas a gente não pode se diagnosticar. Chega uma hora em que você pensa: ou estou errada, ou ninguém viu”, lembra.

Buscou então uma avaliação neuropsicológica completa, que trouxe à tona lembranças marcadas pela incompreensão escolar. “Naquela época não se falava de autismo ou TDAH. Eu fui chamada de burra, sonsa, idiota. Havia algo ali, mas ninguém sabia nomear”, conta.

O diagnóstico de autismo em nível 1 de suporte, associado a altas habilidades, reorganizou sua narrativa interna e ampliou seu compromisso com o acolhimento de pessoas neurodivergentes. Ela observa que muitos adultos só se reconhecem por meio dos próprios filhos, que recebem diagnóstico na infância. “Autismo e TDAH têm componente genético. É comum encontrar mais de uma pessoa neurodivergente na mesma família”, explica.

Espectro autista além dos estereótipos

Parte fundamental de sua prática consiste em desmistificar a ideia restrita de que autismo corresponde apenas a comportamentos muito evidentes. Ela reforça que o transtorno do espectro autista é uma condição do neurodesenvolvimento, com sinais que surgem ainda na primeira infância, mas que se manifestam de formas diferentes ao longo da vida.

Na infância, observa-se dificuldade de contato visual, desafios na interação social, estereotipias, hiperfocos e hipersensibilidades sensoriais. Já na vida adulta, muitos comportamentos são mascarados. “O adulto autista aprende a camuflar. Olha nos olhos, mas desvia quando está cansado; vai a eventos, mas precisa ir embora cedo; cria movimentos repetitivos discretos, como mexer em anéis”, explica. Essa camuflagem reduz conflitos externos, mas costuma aumentar a exaustão emocional.

FOTOS: @dimensional_fotografia

Hipersensibilidade sensorial e a importância da gentileza no ambiente

Lívia dedica grande parte de sua atuação a orientar famílias e escolas sobre hipersensibilidade sensorial. Estímulos como ruídos, luzes intensas ou toques podem desencadear crises de meltdown ou shutdown, frequentemente mal interpretadas. Pequenas adaptações podem transformar a convivência. “Evitar toques sem aviso, baixar o volume, permitir que a criança se deite no chão, oferecer abafadores ou brinquedos sensoriais… tudo isso ajuda muito”, afirma.

Ela chama atenção também para os irmãos de crianças autistas, que muitas vezes enfrentam sobrecarga silenciosa. Segundo a médica, esses irmãos precisam de espaço, atividades próprias e acolhimento. “A família inteira precisa ser cuidada”, reforça.

Níveis de suporte e o trabalho conjunto

Lívia explica que, no lugar da antiga divisão em leve, moderado e grave, hoje o autismo é organizado em níveis de suporte, que indicam a quantidade de ajuda necessária no cotidiano. Independentemente do nível, todas as pessoas autistas se beneficiam de acompanhamento multidisciplinar, que pode incluir fonoaudiologia, terapia ocupacional, psicopedagogia, psicologia e outras intervenções conforme as necessidades individuais.

“É sempre um trabalho de equipe, voltado para tornar cada paciente o mais funcional possível, respeitando limites e potenciais”, afirma.

Cinoterapia, ecoterapia e recursos complementares

No consultório, terapias complementares ganham espaço. A cinoterapia, realizada com cães treinados, costuma facilitar o vínculo com crianças ansiosas, deprimidas ou autistas. “Às vezes a criança não quer falar comigo, mas com o cão ela fala. Ele acolhe sem julgar”, descreve. A ecoterapia, oferecida em alguns municípios, também pode contribuir para ganhos motores e sensoriais, sempre integrada ao cuidado multidisciplinar.

Para Lívia, o país avança de forma desigual no cuidado à neurodiversidade. Iniciativas municipais com clínicas especializadas são exceções em meio a uma rede que ainda enfrenta falta de profissionais, ausência de mediadores escolares e longas filas por atendimento. “Não é falta de amor dos pais. É falta de política pública e de estrutura”, afirma.

Em palestras, especialmente no contexto da prevenção do suicídio, ela destaca a urgência de olhar para a saúde mental de pessoas autistas, frequentemente expostas a sofrimento silencioso, falta de diagnóstico e ausência de acolhimento adequado.

Entre escuta e ciência, uma prática guiada por empatia

A trajetória de Lívia Spala reúne sobrevivência, autoconhecimento e compromisso com o outro. Entre relatos pessoais, estudos, histórias de pacientes e responsabilidade clínica, ela constrói uma forma de cuidar que combina técnica, sensibilidade e presença.

A médica deixa uma reflexão que sintetiza seu propósito: “Não desista de procurar ajuda. Você não está sozinho, ninguém está. E, se for preciso, eu estarei sempre de braços abertos para acolher, ouvir e amparar quem precisar de uma palavra e de um cuidado que respeite quem você é.”

CRM RJ 1251643

Instagram: @dra.liviaspala

Doctorália: https://www.doctoralia.com.br/livia-spala

FOTOS: @dimensional_fotografia

O conteúdo dessa publicação é de responsabilidade da TV Notícias Assessoria de Imprensa / Brasil News

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