Celebridade
Laura Castro floresce com talento precoce: ’11 anos de batalha e luta para chegar aqui’

Ela tem grandes sonhos, mas só vai revelá-los quando se concretizarem! “Não gosto de compartilhar antes de realizar“, brinca Laura Castro. Alguns, porém, já se tornaram reais. Aos 22 anos, Laura se tornou a mais jovem artista a ser indicada como Melhor Atriz de Musicais no Prêmio Bibi Ferreira por seu desempenho como Cady, de Meninas Malvadas, que pela primeira vez no mundo teve a protagonista interpretada por uma atriz negra.
Tanto sucesso a levou aos palcos de Dreamgirls, no papel que já foi de Beyoncé (44) nas telonas. E a lista não para por aí: Laura também deu voz a Ariel, do live-action de A Pequena Sereia, e à protagonista do sucesso da Netflix Rainha Charlotte: Uma História Bridgerton. E parece que os sonhos estão só começando!
Como está sendo esse momento tão especial?
Estou descobrindo novas facetas minhas como artista. Comecei no teatro musical, mas me afastei por alguns anos, me dedicando ao audiovisual e à carreira musical. Este é o ano em que voltei para o teatro. Isso é muito especial. Essa indicação ao Bibi foi muito simbólica neste momento em que estou me reencontrando. Quando eu era pequena, ainda estudando, eu via todos os atores indo para o prêmio e hoje eu sou a mais jovem a ser indicada na minha categoria! Isso é muito especial.
Como é conquistar tantas coisas ainda tão jovem?
Apesar de ser muito jovem, passei metade da minha vida trabalhando. Ao mesmo tempo que reconheço que as coisas aconteceram relativamente rápido, também tenho noção que foram 11 anos de batalha e luta para chegar aqui. E antes desses 11 anos, eu já estava estudando, fazendo cursos, recebendo nãos. Para cada sim conquistado, foram muitos nãos. As pessoas veem todas essas conquistas e não imaginam o que tem por trás. Foi muita batalha, muita aula, muita falta na escola para poder me dedicar a isso. Eu não vejo como algo rápido, do meu ponto de vista, porque não veio do nada.
Foi difícil abdicar de vivências durante a infância e a adolescência pelo trabalho?
Por ter começado muito cedo, eu soube diferenciar as coisas cedo também. Eu convenci meus pais a me deixarem trabalhar. E eu já entendia essas renúncias. No começo, era difícil balancear a vida de uma criança com a carreira. Mas eu sempre tive muito apoio e estrutura familiar. Minha mãe é muito presente e abriu mão da carreira dela para estar comigo. É uma luta coletiva. Meus pais estiveram do meu lado para tudo. Quase tudo que meu pai recebia, ele reinvestia em cursos e aulas para mim. Todas essas renúncias se tornaram mais leves por ter esse apoio por trás.
Como nasceu o seu interesse pelo mundo das artes?
Sempre gostei de cantar e era afinada. Ninguém na minha família é artista, mas meu pai tem uma voz muito bonita. Ele sempre me estimulou a cantar e via que eu gostava. Minha brincadeira favorita era fingir que eu era uma cantora pop. Me arrumava inteira, passava maquiagem, colocava o salto da minha mãe. Aos 5 anos, vi um vídeo da Whitney Houston e disse que cantaria como ela. Fomos morar fora, no interior da França, e lá fiz parte de um coral. O meu professor chamou meus pais para conversar e disse que eu tinha vocação. Quando voltamos ao Brasil, fomos investir nisso.
Quais são os seus cuidados para dar conta de tantas sessões do espetáculo?
O teatro musical demanda uma reorganização da minha rotina. Passei muitos meses trabalhando todos os dias, sem folga alguma. O teatro demanda muita presença, energia física, vocal. Foi um processo de readaptação, de rever a minha agenda e me forçar a ter um dia sem trabalho. É algo que precisa de muita técnica e estudo. De quinta a domingo, quando eu faço o espetáculo, chego em casa e fico em silêncio absoluto. Eu nunca saio de final de semana, especialmente depois das sessões da peça. O dia que não trabalho é de repouso total.
Dreamgirls tem um elenco totalmente negro. Como percebe a importância disso?
Esse meu encantamento por cantoras desde pequena era muito específico por cantoras pretas. Ao longo da vida, crescendo numa realidade de classe média-alta, eu não via outras pessoas pretas. A única pessoa preta do meu convívio era o meu pai. Eu não tinha amigos na escola com a minha cor. Não tinha essas figuras na minha vida, mas eu tinha todos esses questionamentos. Perguntava para a minha mãe por que meus amigos não tinham o cabelo como o meu ou a pele como a minha. Eu era obcecada pela Whitney, pela Beyoncé, por essas cantoras que pareciam comigo. Muito da minha vontade de ser artista veio de enxergar essas mulheres nesse lugar de poder, algo que eu não via no meu cotidiano. A representatividade cria sonhos e possibilidades. Ver esses exemplos na minha vida fizeram com que eu quisesse me tornar uma artista também. Quando eu fiz parte do grupo musical BFF, nos shows e turnês, muitas menininhas pretas vinham me abraçar e dizer que se pareciam comigo. Era muito emocionante. Eu me enxergava nessas meninas também. Tudo isso vai muito além do meu trabalho. Isso, na verdade, mexe com a minha criança interior. É muito legal fazer parte de projetos que tragam essa marca, como A Pequena Sereia, que trouxe uma releitura dessa sereia preta. Agora é a primeira vez que eu estou em um elenco cem por cento preto na vida. Isso nos impacta profundamente e tem tudo a ver com a nossa missão como artistas.
Foto: Rafael Cusato | Styling: Fe Schiavelli | Vestido: Alphorria | Sapato: Schutz | Joias: Héctor Albertazzi | Beleza: Matt Gadelha | Look completo: Saint Laurent | Agradecimentos: Hipólito Mobília, Cristina Lemos e Decorlab | Vestido: Chart | Sapato: Saint Laurent