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Celebridade

Gabriel Massot explica como tontura e zumbido são sinais importantes

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Com voz serena e olhar atento para as nuances da vida real, Gabriel Villela de Andrade Massot fala da medicina como quem fala de casa. Filho de dois médicos, criado entre consultórios, Santa Casa e postos de saúde em Barra Mansa (RJ), ele cresceu acompanhando visitas a hospitais, esperando o pai no trabalho e observando, ainda adolescente, o cotidiano de quem cuida. Anos depois, uniu essa vivência precoce à formação em otorrinolaringologia e à experiência em gestão de grandes serviços, construindo uma trajetória que hoje se reparte entre o consultório na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro (RJ), a atuação em hospitais e projetos ligados ao Sistema Único de Saúde (SUS), sempre com disposição para ouvir antes de decidir.

“A medicina era uma relação normal ali em casa”, lembra. “Saía do colégio e ia para o consultório do pai e da mãe, final de semana ia junto passar a visita. Isso fez parte da minha vida.”

Da infância em Barra Mansa à escolha pela medicina

Nascido em Barra Mansa, Gabriel se mudou para o Rio de Janeiro aos 15 anos, em busca de formação acadêmica. A convivência diária com o trabalho dos pais, ajudou a naturalizar o ambiente hospitalar, mas a escolha profissional não foi uma imposição familiar.

“Nunca ninguém disse ‘quero que você faça medicina’, mas eu sempre participei do dia a dia”, conta. “Você convive com consultório, hospital, campo da Santa Casa, isso te influencia sem perceber.”

A aprovação em medicina não veio de primeira. Sem passar no vestibular, ele iniciou o curso de administração. O retorno ao caminho original foi impulsionado por amigos que já estavam na área. “Eles falavam ‘você tem que fazer de novo’. Fiz, passei e entrei na medicina”, recorda.

Poucos meses depois de ingressar na faculdade, viveu uma perda que mudou os rumos da família: a morte do pai. A ausência, ainda no início da formação, alterou planos e exigiu adaptação rápida.

“Quando você tem pai e mãe, a tendência é acabar trabalhando junto. Com a morte dele, dá aquela perdida”, admite. A mãe, também médica, passou a sustentar sozinha três filhos, enquanto Gabriel buscava maneiras de se manter durante o curso. Além de bolsas e apoio de familiares, trabalhou cantando e operando videokê em bares aos fins de semana para complementar a renda.

Da pediatria à otorrino: um caminho guiado pelas crianças

Durante a graduação, a pediatria apareceu como primeira afinidade. Sempre brincalhão e próximo de crianças, ele se viu confortável naquele cenário, mas acabou percebendo algo que mudou sua rota: boa parte das queixas pediátricas passava pela otorrinolaringologia. “Sempre gostei de criança, mas percebi que a maioria das doenças pediátricas tinha relação com otorrino”, explica. “A escolha pela otorrino veio por causa da pediatria.”

Fez a especialização em otorrinolaringologia na Universidade Federal Fluminense, no Hospital Universitário Antônio Pedro. Lá, enfrentou um cenário cotidiano na realidade pública: a falta de materiais para exames e procedimentos. “No hospital faltava material. Eu trabalhava como clínico em plantões, cheguei a fazer mais de 100 horas semanais. Com o que ganhava, comprava material de vídeo, material cirúrgico, levava para o ambulatório para poder fazer os exames e aprender.”

Campo Grande e a construção de uma clínica voltada à resolutividade

Ao terminar a especialização, o desafio era abrir espaço em um mercado competitivo e, ao mesmo tempo, atender uma população com grande necessidade de cuidado. Gabriel estudou o mapa do Rio de Janeiro e decidiu atuar em Campo Grande, na Zona Oeste, região com alta densidade populacional e demanda reprimida.

“Fui para um bairro muito populoso, referência para uma região com cerca de um milhão de pessoas”, relata. A partir dali, construiu uma clínica de otorrinolaringologia com foco em exames complementares e possibilidade de diagnóstico abrangente. O objetivo era que o paciente encontrasse, em um só lugar, praticamente tudo o que envolvia seu cuidado na área.

“Cheguei, vi que não tinha determinados exames e fui repetindo o que tinha feito no hospital: comprava e colocava”, conta. “Fui criando uma clínica em que eu pudesse resolver os problemas do paciente ali mesmo.”

Atendendo muitas crianças, atraídas por indicações de pediatras, ele passou a lidar com volume crescente de casos de rinite, sinusite, otites, tonturas e queixas de sono. A experiência clínica intensa o ajudou a reconhecer padrões e entender o impacto da respiração, do sono e da audição em questões que, muitas vezes, os pacientes não associavam à otorrino.

Fotos: Omar Radam

Gestão em saúde e um olhar ampliado para o sistema

Anos depois, a prática na clínica abriu um novo campo de atuação. Gabriel foi convidado por um grupo para integrar a gestão da rede própria em um dos maiores planos de saúde do estado. Passou a cuidar de um hospital, dois prontoatendimentos, cerca de 20 mil atendimentos de emergência por mês e um espaço de reabilitação destinado a recuperação cardíaca e fisioterapia. “Entrei muito na gestão e me achei, porque juntou o lado administrativo com o lado médico.”

A partir daí, seu olhar sobre a saúde se ampliou. Atuou em parcerias públicas e privadas, em licitações, em hospitais privados que prestam serviços ao SUS e em clínicas de periferia, onde também trabalhou para adquirir materiais e fortalecer a prática em otorrino. Essa trajetória lhe deu uma percepção concreta de como as pontas do sistema se conectam — ou, muitas vezes, não se conectam.

“Transitei em vários pontos: plano de saúde, clínica que presta serviço, hospital, SUS, particular. Isso me deu uma visão muito ampla do que é a realidade médica, sempre tentando pensar em sustentabilidade e acolhimento.”

Na gestão, ele percebeu na prática como a forma de abordar o paciente influencia não só indicadores assistenciais, mas também o resultado administrativo. “O resultado administrativo estava muito ligado à forma como você abordava o paciente e acolhia com excelência. Aprendi a criar uma linha em que fosse possível fazer o necessário, sem desperdício e sem faltar.”

Humanização possível e os limites do cuidado médico

Falar de humanização, para Gabriel Massot, não significa repetir um discurso abstrato ou romantizar a prática médica. Envolve reconhecer que o cuidado ético também passa por limites claros, decisões responsáveis e pela preservação da saúde de quem cuida.

“O médico não é sacerdote. O médico é um profissional que precisa entregar ao paciente o que ele realmente precisa, da melhor forma possível”, pontua. “Existe um apelo emocional muito grande em cima da medicina, e encontrar esse ponto de equilíbrio é um desafio constante.”

Na prática clínica, essa postura se traduz em saber orientar, explicar e, muitas vezes, conduzir o paciente para caminhos que nem sempre correspondem às expectativas imediatas, mas que fazem mais sentido do ponto de vista técnico e humano. Para ele, humanizar também é sustentar uma conduta responsável, baseada em escuta, clareza e prudência.

Ao mesmo tempo, Massot reconhece o peso de uma rotina em que o tempo de consulta é frequentemente comprimido por modelos de remuneração que não favorecem a escuta aprofundada. Essa dinâmica, segundo ele, impacta diretamente a saúde emocional dos profissionais.

“Imagina ouvir o problema de 30 pessoas por dia, durante 15 minutos, e depois chegar em casa com os seus próprios conflitos. Hoje, a classe médica é uma das que mais adoece. O burnout é uma realidade”, afirma.

Para ele, falar de humanização também implica olhar para o médico como alguém que precisa de condições adequadas de trabalho, espaço para reflexão e cuidado com a própria saúde mental, para que o vínculo com o paciente se mantenha íntegro e sustentável ao longo do tempo.

Cinco sentidos, três na otorrino e a lacuna na saúde pública

Atualmente, Gabriel divide a agenda entre o consultório na Barra da Tijuca, a consultoria em uma unidade hospitalar ligada à universidade em que se formou e um projeto em Resende, no interior do estado, voltado à otorrinolaringologia para a população atendida pelo SUS. O ponto de partida é simples e, ao mesmo tempo, pouco lembrado: entre os cinco sentidos, três — olfato, paladar e audição — passam diretamente pela otorrino.

Ele se mostra especialmente inquieto com a forma como a audição é tratada na saúde pública. “É vergonhoso o nível de valorização da audição na saúde pública. Você tem filas de quatro, cinco anos para colocar um aparelho auditivo. A perda da audição está ligada à demência, porque a pessoa não participa, não interage, morre em vida”, afirma.

Além da audição, destaca o impacto de problemas nasais e de garganta ao longo da vida, sobretudo em crianças. Rinites e sinusites não tratadas, respiração cronicamente pela boca e otites de repetição podem trazer consequências que vão muito além do incômodo imediato.

“Muitas deformidades faciais e problemas de mastigação e respiração começam em infâncias em que ninguém olhou para o nariz, a garganta e o ouvido direito. A otorrino é muito ampla e, ao mesmo tempo, pouco valorizada, principalmente na rede SUS”, observa.

Tontura não é sinônimo de labirintite

No consultório, uma queixa aparece com frequência e quase sempre acompanhada de um rótulo pronto: a tontura. Para Gabriel, a associação direta com “labirintite” é um dos equívocos mais comuns entre leigos. “Labirintite existe, é uma inflamação do labirinto, mas nem toda tontura é labirintite. As pessoas chegam dizendo o diagnóstico. A primeira coisa é desconstruir isso.”

Ele explica que o labirinto, no ouvido interno, é um dos componentes do equilíbrio, ao lado da visão, da propriocepção e de outros sistemas. Quando o chamado “GPS do corpo” falha, o cérebro recebe informações desorganizadas sobre movimento e posição, o que pode gerar vertigem, sensação de giro, desequilíbrio ou mal-estar.

As causas, porém, são diversas. Envolvem desde pequenos “cálculos” que se soltam dentro do labirinto e desorganizam o fluxo do líquido, até processos infecciosos, alterações metabólicas, hipofunção ou hiperfunção do sistema vestibular.

“Tem situações em que o medicamento ajuda muito, e outras em que ele pode até piorar a tontura. Por isso é importante entender o tipo de labirintopatia e o contexto em que a pessoa está”, acrescenta.

Ao orientar o público, ele sugere atenção a dois critérios que se repetem em várias áreas da medicina: persistência e recorrência: “Uma dor de garganta isolada, uma sinusite pontual ou uma tontura eventual podem acontecer. O que acende o sinal de alerta é quando a queixa se repete ou não passa. Casos repetidos ou que persistem pedem investigação.”

Ansiedade, zumbido e o peso da mente na consulta de otorrino

Ao ouvir pacientes com tontura, zumbido ou sensação de desequilíbrio, Gabriel aprendeu a não olhar apenas para o ouvido. Uma parte importante dos sintomas, especialmente na rotina do SUS, está ligada à saúde mental e a doenças metabólicas.

“A maioria dos zumbidos e tonturas que atendi em determinado dia no SUS era por ansiedade. Eles não tinham perda auditiva importante. Muita gente chega dizendo ‘tô com zumbido’, mas por trás podem estar resistência insulínica, problemas na tireoide, triglicerídeos altos, alterações de ATM ou um quadro ansioso importante”, explica.

Para ele, é cada vez mais evidente o ciclo em que ansiedade, piora do sono, alimentação desorganizada e ganho de peso se retroalimentam. A apneia do sono aparece nesse contexto como um eixo central. “A pessoa ansiosa tem dificuldade de pegar no sono e de manter o sono. Dorme por exaustão. Se não dorme, não descansa; aumenta o cortisol; cresce a vontade de comer, principalmente doce; e o ciclo se repete”, descreve.

Apneia do sono, obesidade e um projeto multidisciplinar

A partir da observação de consultório, Gabriel percebeu que muitos casos de apneia do sono, zumbido e tontura estavam conectados a hábitos de vida e à saúde emocional. Em vez de olhar isoladamente cada sintoma, começou a desenhar, com outros profissionais, uma abordagem integrada.

“Cheguei à conclusão de que, na minha prática, esses quadros representavam mais de 70% dos problemas de apneia, zumbido e tontura. Não adianta tratar só o labirinto se você não olhar alimentação, exercício, sono e psique.”

O projeto envolve trabalho conjunto com sua esposa, nutricionista, um profissional de educação física e um psicólogo. A ideia é construir um plano em que mudanças alimentares, movimento, acompanhamento da ansiedade e organização do sono caminhem junto ao acompanhamento médico, respeitando o ritmo de cada pessoa.

“A alimentação não pode ser algo impossível de seguir, senão a adesão é péssima. É um processo. A mesma coisa vale para exercício físico e para o cuidado com a mente”, observa.

Tecnologia, IA e o cuidado com os modismos

Atento às transformações em saúde, Gabriel vê com bons olhos o avanço de tecnologias como a inteligência artificial e a cirurgia robótica, mas faz questão de destacar a necessidade de uso criterioso. “A inteligência artificial veio para inovar, encurtar caminhos e melhorar o acesso à informação, mas não podemos esquecer que ela é alimentada por dados humanos, com erros e acertos. Ela trabalha com probabilidades, e isso exige senso crítico”, pondera.

Para ele, a mesma lógica vale para modismos cirúrgicos. Nem tudo que é mais novo é necessariamente a melhor opção para todos os casos. “Já vi amigo querendo fazer uma cirurgia simples, que poderia ser rápida, com robô, gastando mais tempo para montar o robô do que na própria cirurgia. A questão é custo-benefício e manutenção dos recursos, que são finitos”, relata.

Ele também observa como a internet moldou a forma como os pacientes interpretam seus sintomas. “Quando um paciente faz uma pesquisa em sites de busca, por exemplo, nunca diz que um caroço no pescoço pode ser só um linfonodo reacional. Ele diz logo que é um tumor grave”, comenta. “A informação está ali, mas cabe usar da maneira correta. Senão, só aumenta a ansiedade.”

Pilares de cuidado e uma síntese possível

Entre o consultório na Barra da Tijuca, a atuação em hospitais e os projetos ligados ao SUS, Gabriel segue tentando integrar o cuidado individual com impacto coletivo. Ao falar sobre como cada pessoa pode cuidar melhor de si no dia a dia, ele volta a um conjunto simples de princípios, que atravessa toda a sua prática.

“Coma melhor, se exercite, cuide da sua mente e durma”, sintetiza. “Se você pensa melhor, come melhor, faz exercício e dorme melhor, você consegue viver melhor. A mente é o grande ponto de partida. Quando ela está bem, o resto tem muito mais chance de entrar no eixo.”

CRM: 5279849-5/RJ

Instagram: @dr.gabriel_massot

Site: https://www.gabrielmassot.com.br

Doctorália: https://www.doctoralia.com.br/gabriel-massot

Fotos: Omar Radam

O conteúdo dessa publicação é de responsabilidade da TV Notícias Assessoria de Imprensa / Brasil News.

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