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Festival reintroduz o cinema em Carazinho e apresenta a cidade gaúcha ao mundo

Localizada a cerca de 290 km de Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, a cidade de Carazinho está redescobrindo a sétima arte. Há mais de uma década sem ver o interior de uma sala de cinema, os carazinhenses foram presenteados com um mergulho de cabeça nesse universo com o lançamento do Festival Internacional de Cinema de Carazinho, realizado entre 13 e 20 de novembro.
Uma das mentes por trás do projeto é o cineasta Diego Esteve, que nasceu em Porto Alegre, mas cresceu na cidade. Foi lá que surgiu o seu desejo de explorar o cinema, primeiro como ator e, depois, como diretor, a partir da observação da própria experiência vivendo na região sul do país:
“O Rio Grande do Sul tem uma cultura rígida, uma cultura de tradição, uma educação rigorosa. Como gaúcho, eu posso falar que temos uma raiz preconceituosa, machista, homofóbica. O Brasil tem isso, o mundo tem isso. E eu enxergava na arte a possibilidade de ampliar o discurso, de sair de dentro do meu umbigo e olhar para o mundo de uma forma mais diversa. Eu virei uma pessoa muito mais sensível, muito mais aberta, depois que eu encontrei a arte”, conta.
Diego construiu a sua carreira fora de Carazinho, passando por Nova York, nos Estados Unidos, e o Rio de Janeiro, onde reside atualmente, mas foi na cidade do coração que decidiu dar um dos maiores passos na sua história com o cinema: “Eu amo essa cidade. Eu me sinto carazinhense, de coração e de verdade. Minha família, meu pai, meu irmão, todo mundo é daqui”, declara.
Mas não foi apenas a ligação pessoal que levou à ideia do Festival de Internacional de Cinema de Carazinho — e é aí que entra a outra cabeça do projeto, Yasmin Martins Mendes. Apaixonada pelo cinema desde a infância, a atriz e roteirista se encontrou no amor pela arte:
“Para mim, o cinema é uma fuga. Eu tenho um lugar de fuga, de proteção, quando estou no cinema. É como se eu pudesse ser 100% minha, um lugar em que posso ser mais honesta comigo mesma. E, depois que eu comecei a trabalhar com o cinema, foi como se eu tivesse me encontrado”, afirma.
Parceira de vida de Diego, além do trabalho, Yasmin se encantou por Carazinho desde a primeira vez que visitou a cidade e era com o cinema que queria retribuir o carinho que recebeu: “A primeira vez que eu vim a Carazinho, eu fui muito bem acolhida pelos carazinhenses, pelas pessoas que moram aqui”, relembra.
“E sabe quando você vê que as oportunidades não estão aqui? Que você precisa ir a outro lugar buscar? Como eu passei a vida inteira nessa função de buscar por oportunidades, porque nunca houve uma oportunidade para mim no Rio de Janeiro, eu senti uma necessidade de devolver [o acolhimento]. Tem como as oportunidades existirem aqui. Sair tem que ser uma opção de cada um, não uma obrigação”, acrescenta Yasmin.
De fato, o festival abriu oportunidades para os moradores da cidade: além de reintroduzir a cultura do cinema aos carazinhenses, a primeira edição do Festival Internacional de Cinema de Carazinho foi realizada por uma equipe 80% composta por trabalhadores locais. “É um projeto que não se faz sozinho”, completa Diego.
Outra proposta do festival é democratizar o acesso ao cinema. O projeto surgiu para Yasmin e Diego antes mesmo de Carazinho ganhar as suas primeiras salas de exibição: inicialmente, a ideia era adaptar espaços distribuídos pela cidade, como escolas e faculdades, e realizar as exibições por lá.
Porém, após Mariá Marins, que já atua no mercado audiovisual há cerca de 20 anos, abrir o primeiro cinema na cidade em mais de uma década, o Cine Lúmine acabou se tornando a casa do Festival Internacional de Cinema de Carazinho: “Nós inauguramos em maio de 2025 e veio essa proposta do primeiro festival. Eu achei muito oportuno, fiquei muito feliz, senti que merecia essa alegria de participar com eles”, celebra. “Só tenho a agradecer por tanta felicidade, por ver tanto conteúdo lindo e pessoas maravilhosas que acabamos conhecendo.”
Com o casamento, a proposta de Yasmin e Diego agora começa a ganhar vida: “Cinema é uma forma de botar o mundo dentro de uma tela e levar para todos os lugares. O cinema é uma arte muito democrática nesse sentido. Você traz a Ásia e põe dentro de Carazinho, você traz os Estados Unidos e põe dentro de Carazinho, você traz o Brasil e põe dentro de Carazinho. O meu desejo é trazer o mundo para dentro de Carazinho e mostrar Carazinho para o mundo”, afirma o cineasta.
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