Celebridade
Escritora que morreu há três anos deixou herança de quatro apartamentos para duas cachorras

Há exatos três anos, em 17 de dezembro de 2022, morria em Lisboa em Portugal, a escritora Nélida Piñon (1934-2022), uma das maiores vozes da literatura brasileira. Primeira mulher a presidir a Academia Brasileira de Letras (ABL) e autora de obras fundamentais como A República dos Sonhos, ela deixou não apenas um legado literário amplamente reconhecido no Brasil e no exterior, mas também uma história pessoal que voltou a chamar atenção após sua morte: a escritora destinou quatro apartamentos para suas duas cachorras.
Nélida Piñon morreu aos 88 anos, após complicações decorrentes de uma cirurgia na vesícula. Internada em um hospital na capital portuguesa, ela chegou a se recuperar do procedimento, mas não resistiu. Seu corpo foi trasladado para o Brasil e enterrado no mausoléu da ABL, no cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro, onde também repousam as cinzas de Gravetinho, seu cachorro de estimação que morreu em 2017 e era tratado por ela como um filho.
Sem herdeiros diretos, a escritora deixou como sucessoras Suzy, uma pinscher que à época já tinha 13 anos, e Pilara, uma chihuahua que tinha apenas três aninhos. De acordo com informações divulgadas na ocasião, Nélida possuía quatro apartamentos em um prédio na Lagoa, zona sul do Rio, que foram destinados às duas cachorras. Enquanto elas estiverem vivas, os imóveis não poderão ser vendidos. A guarda dos animais ficou com Karla Vasconcelos, assistente pessoal e companheira da escritora por muitos anos.
Trajetória
Nascida no Rio de Janeiro em 3 de maio de 1934, Nélida Cuíñas Piñon construiu uma carreira marcada por linguagem poética, rigor narrativo e reflexões profundas sobre identidade, memória, imigração e liberdade feminina. Estreou na literatura em 1961, com Guia-mapa de Gabriel Arcanjo, e alcançou reconhecimento internacional com romances como A Casa da Paixão, Vozes do Deserto e, sobretudo, A República dos Sonhos, considerada sua obra-prima.
Ao longo de mais de três décadas de produção literária, recebeu prêmios de grande prestígio, como o Juan Rulfo, em 1995, e o Príncipe de Astúrias das Letras, em 2005, concedido pelo conjunto de sua obra. Foi também acadêmica correspondente da Academia das Ciências de Lisboa e integrante da Real Academia Galega, além de ter atuado como jornalista, editora e ensaísta.
Eleita para a ABL em 1989, tomou posse no ano seguinte e, entre 1996 e 1997, tornou-se a primeira mulher a presidir a instituição, conduzindo os eventos do Centenário da Academia. À época de sua morte, o presidente da ABL, Merval Pereira (76), afirmou que Nélida era “provavelmente, a maior escritora viva do país”.
Três anos após sua partida, Nélida Piñon segue lembrada tanto pela força de sua literatura quanto por escolhas pessoais que refletiam sua relação afetiva intensa com os animais e a vida doméstica — uma dimensão íntima que, assim como sua obra, continua despertando curiosidade e admiração.
