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‘Depois da Caçada’ e a manutenção do status quo pela própria sobrevivência

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Emendando um longa atrás do outro desde 2017, quando ganhou destaque com Me Chame Pelo Seu NomeLuca Guadagnino se debruça sobre o roteiro de estreia da atriz Nora Garrett e entrega um thriller à altura de seus lançamentos mais recentes, Rivais Queer, ambos de 2024, em Depois da Caçada, que já está em cartaz nos cinemas brasileiros.

Na novidade, uma professora universitária se vê envolvida em uma crise ética e profissional quando a sua melhor amiga acusa outro professor, um amigo de longa data, de agressão sexual. Enquanto os conflitos no campus se intensificam, a partir da divulgação da notícia e o início de uma investigação, segredos da professora ameaçam vir à tona, testando os seus limites entre lealdade, justiça e convicção.

Depois da Caçada apresenta um conflito geracional calcado em uma questão que atravessa gerações tornando-se cada vez mais complicada com o passar dos anos. Não há respostas fáceis para um caso de agressão sexual e o longa de Guadagnino trabalha justamente em cima disso, atualizando a discussão com novas possibilidades: a situação é a mesma — o abuso viabilizado por uma hierarquia de poder —, mas as personagens são diferentes.

De um lado, há a vítima, uma jovem mulher negra e lésbica, mas nascida em uma família rica e privilegiada, que mesmo assim não teria o talento ou a habilidade para ser extraordinária em sua vida acadêmica, como seria esperado. Do outro, um homem branco e heterossexual, um superpredador na cadeia social, mas que lutou para conquistar o destaque profissional pelo qual é reconhecido. Ambos contam as suas histórias — e ambos podem estar dizendo a verdade.

Sem uma única versão a ser considerada, a questão acaba caindo sobre Alma Imhoff (Julia Roberts, O Mundo Depois de Nós), a professora universitária que se vê no meio do conflito entre a vítima, a sua melhor aluna Maggie Price (Ayo EdebiriO Urso), e o agressor, um de seus amigos mais íntimos, o professor assistente Hank Gibson (Andrew GarfieldTodo Tempo que Temos).

Progressista na hora de defender os próprios direitos em um mundo dominado por homens exatamente como o seu colega, Alma se mostra bastante conservadora quando a acusação surge. Fielmente atada à sua rotina, a professora pende para a manutenção do status quo — afinal, como ser correto em um mundo incorreto? — por parecer temer que a sua vida perfeitamente construída vá pelos ares.

Ao final, sem banalizar uma questão delicada e de extrema importância, Depois da Caçada se exime de dar um veredito sobre o conflito principal, deixando pistas no ar de que, no fim das contas, uma andorinha só não faz verão; e centra a sua solução em Alma e o que a levou a tomar as atitudes que tomou diante do caso. A revelação não só choca como acrescenta uma nova perspectiva dramática à história, aumentando ainda mais as dúvidas e reafirmando que a questão pode ser sempre mais delicada e nociva do que podemos imaginar.

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Henrique Nascimento (@hc_nascimento)

Formado em Jornalismo pela Universidade São Judas, em São Paulo, Henrique Nascimento começou como estagiário na Veja São Paulo e passou por veículos como SBT, Exitoína, Yahoo! Brasil e UOL antes de se tornar coordenador do núcleo de cinema da Editora Perfil, que inclui CineBuzz, Rolling Stone Brasil e Contigo.

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