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Música

Como ‘Crystal’ se tornou a música definitiva de Stevie e Lindsey

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Há uma cena no começo de Da Magia à Sedução, em que a jovem Sally Owens (personagem de Sandra Bullock, interpretada na infância por Camilla Belle) lança um feitiço em si para garantir que nunca se apaixonará. Ela recolhe ervas e pétalas de flores brancas, coloca tudo em uma tigela de madeira e a ergue em direção ao céu noturno. Conforme os ingredientes se elevam magicamente e voam em direção à lua cheia, começa a tocar “Crystal”, de Stevie Nicks, com o violino hipnótico girando pela escuridão.

Quando Da Magia à Sedução chegou aos cinemas, em outubro de 1998, “Crystal” já tinha 25 anos — e vivido mais vidas do que a maioria das bruxas. A música foi gravada três vezes: a primeira em 1973, por Nicks e seu então namorado Lindsey Buckingham, no álbum conjunto Buckingham Nicks; a segunda em 1975, com o Fleetwood Mac, depois que o casal se juntou à banda; e a terceira por Nicks sozinha, para a trilha sonora de Da Magia à Sedução. (Embora Nicks tenha escrito “Crystal”, ela não a cantou até o filme — Buckingham fez os vocais principais nas duas primeiras versões.)

Mas agora estamos em 2025. Por que ainda estamos falando dessa música e de suas várias versões, tantos anos depois? Bem, porque ainda temos “visões de cristal”. Em setembro de 2025, Buckingham Nicks foi relançado após décadas fora de catálogo, reacendendo o apreço por aquele disco que, essencialmente, abriu as portas do Fleetwood Mac — e pela delicada, mas incrivelmente poderosa balada que ele contém. “Crystal” não é um hit mundial e viral de Nicks como “Dreams”, mas é o fio dourado que costura toda a história de Stevie e Lindsey, com cada gravação representando uma fase diferente do relacionamento entre os dois. Essa história é cheia de altos e baixos, mas “Crystal” sempre esteve lá. O conhecimento cristalino é profundo.

Crystal” é um clássico de Stevie — uma canção sobre ouvir a própria intuição (“Você sempre confia na sua primeira sensação?”) — envolta em uma paisagem mística e quase tolkieniana da natureza. Há o mar, fontes de água clara e — sua imagem favorita — montanhas. (Stevie adora cantar sobre montanhas; é só lembrar de “Landslide” e “Leather and Lace”.) Ela escreveu a música anos antes da fama, antes dos xales e das pombas brancas, para Buckingham, seu novo namorado e parceiro musical. “Eu escrevi a música sobre ele e sobre mim, quando as coisas ainda estavam boas”, contou ela a David Fricke nos encartes do relançamento de Buckingham Nicks. “Eu disse: ‘Você canta para mim.’”

Nicks conheceu Buckingham em 1966, anos antes de se tornarem um casal, em um evento de grupo juvenil na Bay Area, onde eles cantaram juntos “California Dreamin’”. A primeira gravação de “Crystal”, cantada por Lindsey em Buckingham Nicks, soa como uma prima distante de Laurel Canyon do clássico dos The Mamas & the Papas. O fato de músicos lendários como o guitarrista Waddy Wachtel e o baterista Jim Keltner participarem só a torna ainda mais “californiana”. Ela começa com um dedilhado cintilante e cresce suavemente no refrão, enquanto Nicks adiciona harmonias ensolaradas.

Crystal” foi uma das faixas de Buckingham Nicks que o produtor Keith Olsen mostrou a Mick Fleetwood quando tentava conseguir o trabalho de produzir o próximo álbum do Fleetwood Mac. Não apenas Olsen conseguiu o emprego — como também Buckingham e Nicks foram convidados a entrar na banda, em dezembro de 1974. No álbum Fleetwood Mac (1975), o casal trouxe várias composições, como “Landslide”, “Monday Morning” e “Rhiannon”. Outra contribuição foi “Crystal”, que eles regravaram para o disco. Essa versão é mais polida, com o brilho característico do pop dos anos 1970, enquanto os vocais de Buckingham soam mais suaves. Quando ele canta “do you always trust your first initial feeling?”, parece uma pergunta sussurrada ao ouvido de Stevie.

Anos depois, Nicks gravaria “Crystal” mais uma vez — e, dessa vez, assumindo finalmente os vocais principais de sua própria canção. Essa versão, produzida por Sheryl Crow, toca mais de uma vez em Da Magia à Sedução, ao lado de outra colaboração das duas: a faixa inédita “If You Ever Did Believe”. E com a sequência de Da Magia à Sedução em andamento, Nicks quer revisitá-la mais uma vez.

“É engraçado, porque ‘Crystal’ já foi gravada três vezes”, contou Nicks em 2024. “Talvez devêssemos gravá-la uma quarta. Eu definitivamente acho que deveriam me deixar participar da trilha. Assim que eu chegar em casa, vou fazer essa ligação e dizer: ‘Olha, vocês têm que me deixar fazer uma música para isso — e pelo menos pular do telhado com vocês.’”

Não está totalmente claro o quanto “Crystal” realmente fala sobre Buckingham; no livro Stevie Nicks: Visions, Dreams & Rumours (2014), Zoë Howe escreve que a letra teria sido inspirada no pai e no avô de Stevie. Ainda assim, é difícil não pensar em seu relacionamento com Buckingham ao ouvir versos como “e eu mudei, oh, mas você continua eterno” e “o amor que finalmente, finalmente me encontrou.”

Ouvir “Crystal” hoje causa um aperto no peito — especialmente sabendo tudo o que os dois viveram desde que ela a escreveu. Buckingham foi demitido do Fleetwood Mac em 2018 e, como Nicks contou à Rolling Stone no ano passado, os dois quase não se falaram desde então. Stevie não considera fazer uma turnê de despedida com o Fleetwood Mac (especialmente após a morte de sua grande amiga Christine McVie, em 2022), nem qualquer show que reviva o material de Buckingham Nicks com Lindsey. Fleetwood Mac só tocou “Crystal” ao vivo em 1975 e 1976, e não há registros de Nicks a interpretando em carreira solo — o que apenas aumenta o mistério em torno dela. Não importa quantas vezes tenha sido gravada, “Crystal” continua sendo um tesouro mítico à espera de ser redescoberto.

Muitos fãs se apegam ao famoso clipe de 1997 de “Silver Springs”, que viralizou no TikTok nos últimos anos — aquele em que Nicks encara Buckingham intensamente enquanto canta versos sobre assombrá-lo para sempre. Mas, para quem realmente conhece a história desses dois músicos, “Crystal” é a música definitiva de Stevie e Lindsey — a que representa toda a trajetória deles ao longo das décadas e captura o motivo pelo qual se apaixonaram, antes que a escuridão tomasse conta. Ela continua eterna.

+++LEIA MAIS: A história de origem de Stevie Nicks e Lindsey Buckingham

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