Música
Cameron Crowe relembra bastidores da ‘era de ouro’ do rock e memórias com David Bowie

Antes de se estabelecer no ramo cinematográfico, Cameron Crowe (Quase Famosos, Jerry Maguire: A Grande Virada) foi um dos jornalistas musicais mais memoráveis dos anos 1970, por adentrar no mundo conturbado da “era de ouro” do rock and roll. Dentre os grandes nomes que ele cobriu está David Bowie: os dois passaram um ano e meio juntos na estrada, dividindo experiências e confissões.
Décadas após o ápice de sua fama, Bowie voltou a conversar com o jornalista. Em entrevista ao The Independent, Crowe comenta que o astro ainda tinha muita dificuldade em falar sobre seu passado turbulento. “Ele não queria voltar para lá. […]. Eu lia as citações dele para ele. Tipo, ‘você disse que Patti Smith e Kraftwerk seriam tudo o que seria lembrado dessa época’, mas ele não mordia a isca”.
Segundo a NME, Bowie admitiu para Crowe que o vício em anfetaminas durante sua juventude lhe causou muitos prejuízos. “Ele continuou me repetindo tudo e, por fim, disse: ‘Cameron, essas eram divagações insanas de um jovem viciado em anfetaminas’.”
Questionado se estava triste por Bowie não se lembrar muito do tempo que passou em turnê, Crowe respondeu: “Acho que ele se lembrava de tudo. Ele só não queria se lembrar comigo, mas tudo bem.” Mais informações sobre a relação entre eles serão reveladas no livro de memórias inédito do jornalista, que será lançado em breve.
A história de Cameron Crowe
Crowe começou a escrever profissionalmente para a Rolling Stone com apenas 15 anos. Ao longo da década de 1970, ele entrevistou e acompanhou diversas bandas em turnês, como Led Zeppelin, The Allman Brothers Band, Bob Dylan e Fleetwood Mac.
Crowe fez seu primeiro roteiro em 1982, para o longa Picardias Estudantis, e migrou oficialmente para as telonas em 1989, quando estreou como diretor de Digam o que Quiserem. Mas ele nunca se afastou totalmente do mundo da música: Crowe conta que seus filmes frequentemente ressoam com a obra de artistas que conheceu como jornalista, como Tom Petty and the Heartbreakers, The Who e Pearl Jam.
Ele ganhou destaque na década seguinte com a direção de Jerry Maguire (1996) — indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Original — e Quase Famosos (2000), que venceu a premiação cinco anos depois.
O mais interessante sobre Quase Famosos (2000) é seu caráter semi-autobiográfico: Crowe se baseou nas experiências da sua própria juventude como jornalista musical para escrever o roteiro. O protagonista do filme é William Miller, um adolescente (alter ego de Crowe) contratado para cobrir a turnê da banda fictícia Stillwater, que vive conflitos com a família e consigo mesmo durante uma conturbada viagem de alguns meses pelos EUA.
Reunir memórias
50 anos depois das vivências como jornalista, Crowe finalmente reunirá suas histórias mais marcantes no livro The Uncool, que será publicado no dia 28 de outubro de 2025 (ainda sem previsão de adaptação e lançamento no Brasil). A obra incluirá crônicas sobre uma jornada única ao lado de lendas da música: entre grandes aventuras e um processo de amadurecimento, ele revisita seu tempo com Bowie — enquanto o artista lutava contra um grave vício.
O livro também aborda aspectos da vida pessoal de Crowe, que ele já pincelou em Quase Famosos de forma ficcional (como sua relação complicada com o pai e o espírito singular de sua mãe). Para os amantes da música e nostálgicos dos anos 70, a obra promete uma verdadeira viagem no tempo.
Além deste lançamento, Crowe tem outro projeto em fase de desenvolvimento. Ele irá dirigir um novo filme biográfico sobre Joni Mitchell, que também conheceu nos anos 1970. No elenco, Anya Taylor-Joy (A Bruxa) e Meryl Streep (O Diabo Veste Prada) irão interpretar a cantora em diferentes fases da vida.
“[Será] um filme sobre alguém que vale a pena fazer um filme, e que realmente tem minha voz nele”, afirmou em entrevista ao Ultimate Classic Rock. “É a vida da Joni, não através do prisma de outra pessoa. É através do prisma dela. São os personagens que impactaram a vida dela que você conhece e muitos que você desconhece. E a música é tão cinematográfica.” A previsão original de estreia do longa era para este Natal, mas ele não cumprirá o prazo.
Outros projetos sobre David Bowie
A BBC também confirmou que um documentário sobre David Bowie está em produção, com estreia prevista para o segundo semestre de 2026. 50 anos depois, o enfoque da obra será nas vivências do Camaleão do Rock em Berlim entre 1976 a 1978, quando ele se afastou da fama para combater o vício e criar a aclamada “Trilogia de Berlim” (Low, Heroes e Lodger).
A produção será dirigida por Francis Whately, que já trabalhou em David Bowie: Five Years (2013)e David Bowie: The Last Five Years (2017). A ideia é contar a história nas palavras do próprio Bowie: por meio de entrevistas, imagens de arquivo e conversas com quatro mulheres que o viram de perto nesse período, a obra propõe uma visão íntima e pouco conhecida do artista.
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