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‘Battlefield 6’ é uma fantasia militar retrô inteligente o bastante para fingir ser burra

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O Brooklyn está em chamas. Os estouros intermitentes de disparos são abafados enquanto tanques destroem o asfalto da Washington Street em direção à orla do East River, onde um carrossel centenário jaz em ruínas. À medida que as forças dos EUA devastam pontos turísticos e food trucks de comida halal em um confronto mortal com uma célula paramilitar fictícia, é impossível não se encolher de horror.

Felizmente, a cena não é algo tirado do noticiário diário — embora esteja assustadoramente próxima de um futuro que muitos americanos temem. Em vez disso, a violenta convulsão da cidade de Nova York é apenas um dos cenários de Battlefield 6, da EA (lançado nesta sexta, 10), em que 64 jogadores competem para dominar o território em um jogo de tiro em primeira pessoa de realismo impressionante.

A palavra “realista” é um pouco carregada — as cenas retratadas não são exatamente o que alguém espera ver tão cedo. Ainda assim, parecem assustadoramente próximas, e o peso dos passos da infantaria e a física detalhada dos prédios desmoronando fazem tudo parecer o mais real possível. Enquanto outros jogos apostam em ação cartunesca e fantasias de poder, o gameplay angustiante de Battlefield 6 soa como um retorno às origens — ainda que continue sendo exagerado.

Após passar boa parte da última década à sombra do sucesso colossal de Call of Duty, a franquia Battlefield volta como o jogo de tiro militar mais aguardado de 2025. Com uma campanha solo sólida e um modo multiplayer de primeira linha que transforma os horrores da guerra em uma diversão viciante, Battlefield 6 é um retorno bem-vindo — mesmo quando faz você querer fechar os olhos.

Machismo militar da era Obama

Embora tenha tentado diversas vezes ao longo dos anos — com sub-séries como Bad Company — as campanhas solo nunca foram o ponto forte de Battlefield. A mais nova tampouco é revolucionária; serve basicamente para exibir versões lineares e altamente detalhadas dos mapas do modo multiplayer, com algumas boas sequências de ação. A trama rasa acompanha um grupo de fuzileiros navais dos EUA que viaja pelo mundo tentando frustrar os planos terroristas de um exército privado fictício chamado Pax Armata.

A história é um amontoado de clichês, com trechos jogáveis funcionando como flashbacks para situar o público no presente — quando os fuzileiros interrogam um funcionário do governo sobre como o mundo virou um caos total. O elenco principal é esquecível, mas o jogo recorre a truques de títulos antigos de Call of Duty, como Modern Warfare e Black Ops, alternando os pontos de vista dos personagens apenas o suficiente para o jogador decorar o nome de alguém antes de testemunhar sua morte.

Mecanicamente, a maioria dos confrontos se resume a corredores de tiro, o que não favorece o que Battlefield tem de melhor. Embora algumas áreas sejam relativamente abertas, o ritmo imposto pela trama significa que sempre há um caminho “certo” e outro “errado” — algo que você só descobre quando o cronômetro na tela manda “voltar à zona de combate”.

O design das fases às vezes se inspira no multiplayer, onde a melhor maneira de lidar com um sniper é derrubar o prédio inteiro. Mas, na campanha, isso acaba sendo confuso. O jogador é instruído a limpar um prédio de três andares, enquanto balas de fuzil fazem as paredes caírem e inimigos surgem do nada como sustos de terror.

Os desenvolvedores tentaram, de forma louvável, incluir o sistema de classes na história — cada membro do esquadrão tem um papel, como médico ou engenheiro —, mas na prática isso só significa que, ao ser alvejado, o jogador fica caído esperando que um companheiro de IA pouco inteligente venha ressuscitá-lo, mesmo com inimigos por perto.

A campanha brilha nos momentos em que mostra a destruição cinematográfica em sequências roteirizadas. Logo no início, um salto HALO (queda livre de alta altitude) cobre o visor do jogador com fumaça e condensação enquanto ele despenca rumo a uma zona de guerra em Gibraltar. Em outro trecho, o esquadrão se esgueira pelos becos do Cairo com óculos de visão noturna, tentando evitar um protesto que está prestes a virar um motim em larga escala.

O grande chamariz do marketing é o caos em Brooklyn, que ocupa boa parte do primeiro ato. Levar a batalha para dentro de casa — invadindo sobrados no Brooklyn Heights ou cruzando desesperadamente uma Ponte do Brooklyn em colapso — é assustador de forma eficaz. Apesar da ficção especulativa claramente apolítica, é difícil não traçar paralelos entre as forças armadas dos EUA ocupando uma cidade liberal em um videogame e as imagens que passam diariamente na CNN.

A dissonância cognitiva é contornada ao colocar a culpa em um exército privado fictício e moralmente ambíguo, mas é evidente que a experiência funciona de ambos os lados do espectro político. Para certos jogadores com mentalidade nacionalista, atravessar a Grand Army Plaza com uma metralhadora .50 é quase um afrodisíaco virtual. Para outros, é um pesadelo familiar demais — embora com uma pitada de alívio hipócrita: é reconfortante voltar ao Egito ou ao Irã para cometer o mesmo nível de carnificina em solo estrangeiro que a cultura pop já tornou banal. O truque é convencer o jogador de que, não importa o motivo pelo qual ele goste do jogo, está tudo bem — porque ele é o “mocinho”.

Nos seus melhores momentos, o modo história de Battlefield 6 opera na mesma frequência dos jogos militares do fim dos anos 2000, onde atos moralmente cinzentos de guerra são comuns, pontuados pelo choque de ameaças domésticas retratadas em primeira pessoa.

Caos multiplayer em múltiplos níveis

Apesar da campanha surpreendentemente competente, o verdadeiro atrativo de Battlefield sempre foi o multiplayer — e raramente ele esteve tão bom quanto neste novo título. Eliminando os excessos e truques das versões recentes, como Battlefield 2042 (2021) e Battlefield 1 (2016), o jogo retorna ao estilo das melhores fases da franquia, como Battlefield 3 e 4 (2011 e 2013, respectivamente).

Desde os primeiros títulos, o diferencial do modo competitivo de Battlefield é sua escala gigantesca. Antes eram 24, depois 32, e agora 64 jogadores em uma verdadeira avalanche sensorial. Poucos jogos se comparam ao que o shooter militar da EA oferece: uma experiência em que o jogador pode começar a partida a pé, correndo sob uma chuva de balas, e minutos depois estar em um jipe, tanque ou helicóptero de ataque despejando fogo sobre o telhado de um prédio.

O sistema baseado em classes incentiva o trabalho em equipe; a única maneira de conquistar com sucesso uma zona designada é avançando em grupo, mas é fácil ser abatido por snipers e artilharia. A forma mais inteligente de avançar é coordenar-se e cumprir seu papel — seja Assalto, Engenheiro, Suporte ou Reconhecimento. Cada classe possui habilidades únicas: Assalto permite liderar a linha de frente com grande poder de fogo e mobilidade aprimorada; Engenheiros podem reparar veículos aliados ou causar danos extremos aos inimigos; Suporte pode reabastecer munição e reviver aliados instantaneamente; Reconhecimento permite marcar inimigos para aumentar a visibilidade no campo de batalha.

Diferente de Call of Duty, onde todos são praticamente “Rambo” solitários, Battlefield vai além de simplesmente correr e matar adversários sem parar. Claro, existe o deathmatch básico, jogável em um clássico 2v2 ou em pequenos esquadrões de quatro, onde todos correm para acumular 50 eliminações e vencer.

Mas a experiência real de Battlefield está na disputa por pontos estratégicos em longas batalhas de desgaste. Modos como Conquest, Breakthrough e Domination são variações desse conceito, com pequenas mudanças nas regras que definem cada um. Conquest é um confronto em grande escala, onde duas equipes lutam para controlar diferentes pontos sinalizados no mapa (A a F), e manter cada ponto por um período reduz a pontuação do adversário até zerar. Domination funciona da mesma forma, mas com menos pontos e arenas menores para ação mais frenética.

Breakthrough é semelhante, mas em vez de todos estarem em igualdade circulando pelos pontos, há um cenário mais direto de atacante e defensor: uma equipe avança enquanto a outra deve segurar a linha. O modo Rush é parecido, porém menor, com foco em destruir objetivos ao invés de simplesmente dominar áreas.

Embora a maioria dos modos multiplayer seja variações da mesma ideia, há um elemento de improviso constante que faz Battlefield 6 brilhar onde outros shooters falham. Se uma equipe não consegue tomar um ponto porque a infantaria ficou presa em uma porta que se torna uma “caixa de mortes”, você pode simplesmente derrubar a parede inteira com um RPG. De repente, a barreira se quebra e todos podem avançar.

Enquanto a velocidade mais lenta e a ênfase na física — desde a trajetória de balas de longa distância até a destruição de estruturas — são parte do DNA de Battlefield, há também um certo absurdo divertido em algumas táticas.

Jogando como médico de Suporte, você pode ganhar muita experiência e virar o jogo apenas correndo por um local de colisão, desfibrilando uma dúzia de soldados caídos enquanto grita: “Levante-se, soldado!” Como engenheiro, é emocionante andar no assento de apoio de um helicóptero, segurando o botão de reparo enquanto um simples maçarico mantém a aeronave no ar, mesmo com fogo intenso transformando suas paredes em queijo suíço. É o equilíbrio entre realismo e diversão que acerta em cheio.

Hoje em dia, todos têm algum truque. Na corrida para prender a atenção do público, tanto jogos solo quanto competitivos se tornaram ecossistemas auto-perpetuantes. Tudo é maior, mais barulhento e cheio de skins de IP da cultura pop apenas para atrair jogadores.

Em comparação, Battlefield 6 parece quase antiquado. É um shooter de ação direto, que segue um manual de 20 anos, tanto na jogabilidade quanto em evitar qualquer ponto de vista sobre seu jingoísmo militar amoral. Diante do ruído avassalador nos games e na vida real, é uma distração francamente bem-vinda.

Battlefield 6 foi lançado em 10 de outubro para PS5, Xbox Series X|S e PC.

+++LEIA MAIS: ‘Ghost of Yōtei’ conta uma boa história de vingança, mas tropeça com repetições

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