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Música

As melhores histórias de Bruce Springsteen, segundo Rolling Stone

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Ao longo da primeira década de sua carreira, Bruce Springsteen acreditava que era importante limitar seus comentários públicos e deixar que sua música falasse por si. Seu primeiro empresário, Mike Appel, precisou insistir muito para que ele aceitasse falar com a Time para uma matéria de capa em 1975, e Springsteen geralmente se mantinha longe de qualquer envolvimento político partidário — mesmo quando o presidente Reagan tentou aproveitar parte de sua popularidade ao mencioná-lo durante a campanha eleitoral de 1984.

Mas, com o passar dos anos, Springsteen foi aos poucos encontrando sua voz. Ele passou a conceder entrevistas profundas à Rolling Stone e a outras publicações, participou de campanhas ao lado de John Kerry, Barack Obama, Hillary Clinton e Joe Biden, e fez discursos brilhantes na cerimônia do Rock & Roll Hall of Fame, entre outros eventos da indústria musical. Na última década, publicou uma autobiografia, apresentou um espetáculo solo na Broadway e participou de podcasts e programas de entrevistas ao redor do mundo.

Nesse percurso, ele compartilhou muita sabedoria e revelou bastante sobre sua música, carreira, vida pessoal, política e conexões com os membros da E Street Band. Reunimos tudo isso para te apresentar este guia do Tao de Bruce.

Sobre seus heróis

“A voz de Roy Orbison era sobrenatural. Ele tinha a capacidade, como todo grande roqueiro, de soar como se tivesse caído de outro planeta e, ao mesmo tempo, captar aquilo que tocava o coração do que você vivia naquele momento. Era assim que ele expandia sua visão. Eu ainda levo seus discos comigo quando saio em turnê.” — 1987

“Dylan foi um revolucionário, cara. Do mesmo jeito que Elvis libertou o seu corpo, Bob libertou a sua mente. E ele mostrou que, só porque a música era fisicamente instintiva, isso não significava que ela era anti-intelectual. Ele rompeu as limitações do que um artista podia alcançar. Sem Bob, os Beatles talvez não tivessem feito Sgt. Pepper, os Beach Boys talvez não tivessem feito Pet Sounds, os Sex Pistols talvez não tivessem feito God Save the Queen, o U2 talvez não tivesse feito Pride (In the Name of Love), Marvin Gaye talvez não tivesse feito What’s Going On, o Grandmaster Flash talvez não tivesse feito The Message, e o Count Five certamente não teria feito Psychotic Reaction. E nunca teria existido um grupo chamado Electric Prunes, com certeza.” — 1988

“O Creedence Clearwater Revival cometeu o pecado de ser popular demais numa época em que o que importava era ser cool. Eles tocavam música americana simples, feita para o povo. No fim dos anos 1960 e início dos 1970, não eram a banda mais descolada do mundo — apenas a melhor.” — 1993

“Todo músico tem o seu momento de gênese. Para você, pode ter sido o Sex Pistols, a Madonna ou o Public Enemy. O meu foi em 1956, Elvis no The Ed Sullivan Show. Foi a noite em que percebi que um homem branco podia fazer mágica, que você não precisava ser limitado pela sua criação, pela sua aparência ou pelo contexto social que te oprimia. Você podia invocar seu próprio poder de imaginação e criar um eu transformado.” — 2012

“Para mim, o The Animals foi uma revelação. Foram os primeiros discos com plena consciência de classe que eu ouvi. We Gotta Get Out of This Place tinha aquele riff de baixo incrível, que parecia simplesmente marcar o tempo. [Toca um trecho da música] Essa é toda música que eu já escrevi. Não estou brincando.” — 2012

“Astral Weeks foi um disco extremamente importante pra mim. Ele me fez acreditar na beleza, me deu um senso do divino. O divino parece correr pelas veias de todo aquele álbum. Claro que havia um canto extraordinário e o baixo de Richard Davis. Era música de transe. Repetitiva. A mesma progressão de acordes o tempo todo. Mas mostrou como algo com base simples podia ser expansivo. Não existiria New York City Serenade se não houvesse Astral Weeks.” — 2016

Sobre crescer

“Na terceira série, uma freira me enfiou dentro de uma lata de lixo embaixo da mesa dela porque disse que era lá que eu pertencia. Também tive a distinção de ser o único coroinha derrubado por um padre nos degraus do altar durante a missa. O velho padre ficou bravo. Minha mãe queria que eu aprendesse a servir à missa, mas eu não sabia o que estava fazendo, então tentava fingir.” — 1975

“Vivi metade dos meus primeiros 13 anos em um tipo de transe, sei lá. As pessoas achavam que eu era esquisito porque andava por aí com uma certa expressão no rosto. Eu estava sempre de fora, olhando para dentro.” — 1975

“Eu morava numa casa de duas famílias, e à noite meu pai trancava a porta da frente, então eu e minha irmã tínhamos que entrar pela cozinha. Ele ficava sentado lá a noite toda, com as luzes apagadas, fumando um cigarro, bebendo cerveja — e minha mãe ficava na sala vendo TV… Ele começava a conversar comigo sobre a escola ou perguntava se eu estava procurando emprego. Logo a gente começava a discutir, gritar um com o outro. Minha mãe corria da sala tentando impedir que a gente brigasse. E eu acabava saindo correndo da casa, gritando que era a minha vida, que eu podia fazer o que quisesse.” — 1976

“Eles me deram os formulários do alistamento militar, e eu marquei tudo. Até disse que era gay e tudo mais. Aí o cara me chamou na sala, conversou comigo por uns três minutos e disse pra eu ir pra casa.” — 1979

“Lembro de ter voltado pra casa depois de três dias fora, entrei na cozinha e meus pais estavam sentados lá. Meu pai perguntou: ‘Onde você esteve?’ E eu disse: ‘Fui fazer o exame físico.’ Ele perguntou: ‘E aí?’ Eu disse: ‘Eles não me aceitaram.’ E ele respondeu: ‘Que bom.’” — 1985

“Minha mãe me cobria de afeto. O amor que me faltava do meu pai, ela tentava compensar — talvez até buscasse nele o amor que ela mesma não recebia. Tudo o que sei é que ela sempre esteve do meu lado. Quando eu era levado pra delegacia por uma série de pequenas infrações, ela sempre aparecia pra me levar pra casa. Ia a todos os meus jogos de beisebol, tanto quando eu era péssimo quanto na única temporada em que a sorte virou e eu realmente joguei bem, com meu nome nos jornais. Foi ela quem me deu minha primeira guitarra elétrica, incentivou minha música e elogiava meus primeiros textos criativos. Ela foi uma verdadeira mãe, e era exatamente isso que eu precisava enquanto meu mundo estava prestes a explodir.” — 2016

Sobre política

“Não sei o que vocês acham do que aconteceu ontem à noite, mas eu acho bem assustador. Vocês são jovens, e muita gente vai depender de vocês no futuro, então esta é pra vocês.” — No dia seguinte à eleição presidencial de 1980

“É um longo caminho entre o governo que deveria representar todo o povo e o ponto em que estamos agora. Parece que algo está acontecendo aí fora, onde muita coisa está sendo tirada de pessoas que não deveriam perder nada. Às vezes é difícil lembrar que este lugar é nosso, que esta é a nossa cidade natal.” — 1984

“A América é um país conservador, realmente é. Acho que é uma das coisas que os últimos dez anos mostraram. Mas não sei se as pessoas estão realmente organizadas, e não acho que exista alguém capaz de incorporar tudo o que está corroendo a alma da nação como um todo… O sistema político realmente entrou em colapso. Abandonamos uma parte gigantesca da população — simplesmente os deixamos para morrer. Mas um dia vamos ter que pagar o preço.” — 1992

“Acho que a invasão do Afeganistão foi conduzida de forma muito, muito tranquila.” — Time Magazine, 2002

“Eu sabia, depois que invadimos o Iraque, que acabaria me envolvendo na eleição. Senti que eles tinham sido fundamentalmente desonestos e haviam assustado e manipulado o povo americano para entrar em guerra. E como diz o ditado, ‘a primeira vítima da guerra é a verdade’. Achei que a doutrina Bush de preempção era uma política externa perigosa. Não acho que tenha tornado a América mais segura.” — 2004

“Se a eleição de 2004 tivesse acontecido seis meses depois, eles teriam perdido. As pessoas ainda estavam sob o feitiço do 11 de Setembro, da manipulação e da campanha suja dos Swift-boaters. Um dos momentos mais satisfatórios daquela eleição foi ver Ted Koppel acabar com os Swift-boaters no Nightline, cerca de uma semana antes da votação, quando foram até a vila no Vietnã onde o incidente aconteceu e entrevistaram as testemunhas vietnamitas. Estava tudo lá, mas não foi suficiente, e foi tarde demais.” — 2007

“Não sei vocês, mas eu quero meu país de volta, quero meu sonho de volta, quero minha América de volta! Agora é a hora de se unir a Barack Obama e Joe Biden, arregaçar as mangas e se erguer novamente.” — 2008

“Parecia que, se eu fosse usar o pouco de capital político que tinha, [a eleição de 2008] era o momento certo pra isso. Mas esse capital diminui quanto mais você o gasta. Não estou dizendo que nunca mais farei isso — ainda gosto de apoiar o presidente —, mas é algo que não fiz por muito tempo e não pretendo fazer o tempo todo.” — 2012

“O presidente Obama concorreu na última eleição como um homem de esperança e mudança. Você ouve muita conversa sobre como as coisas estão diferentes agora. As coisas não estão diferentes — estão apenas mais reais. É hora de agir. O trabalho do presidente, o nosso trabalho — o seu e o meu —, seja você republicano, democrata, independente, rico, pobre, negro, pardo, branco, gay, hétero, soldado ou civil, é manter viva essa esperança, combater o cinismo e a apatia, e acreditar no nosso poder de mudar nossas vidas e o mundo em que vivemos. Vamos reeleger o presidente Barack Obama para levar adiante nosso estandarte rumo à América que nos espera.” — 2012

“A república está sob ataque de um idiota, basicamente. Tudo isso é trágico. Sem exagero, é uma tragédia para a nossa democracia. Quando você começa a falar em eleições fraudadas, está empurrando as pessoas para fora do campo da governança democrática. E isso é algo muito, muito perigoso de se fazer. Depois que esses demônios saem da garrafa, eles não voltam com facilidade — se é que voltam… Acredito que estamos pagando o preço por não encarar o verdadeiro custo da desindustrialização e da globalização que ocorreram nos Estados Unidos nos últimos 35, 40 anos, e por como isso afetou profundamente a vida das pessoas, ferindo-as a ponto de elas buscarem alguém que diga ter uma solução. E a coisa de Trump é oferecer respostas simples para problemas muito complexos. Respostas falsas para problemas complexos. E isso pode ser muito atraente.” — 2016

“Vivemos tempos em que também vimos pessoas marchando — e ocupando os mais altos cargos da nossa nação — que querem apelar para os nossos anjos mais sombrios, que desejam invocar os fantasmas mais feios e divisivos do passado da América, e destruir a ideia de uma América para todos. Essa é a intenção deles. É o que vimos na indignação das famílias separadas na fronteira, e nas marchas cheias de ódio nas ruas americanas neste ano. Coisas que eu nunca pensei que voltaria a ver na minha vida. Coisas que eu acreditava estarem mortas e enterradas para sempre, no lixo da história.” — 2017

“O poder da ideia americana foi abandonado. É uma vergonha terrível, e precisamos de alguém que possa dar vida a isso novamente… Acho que, se conseguirmos eleger Joe Biden, será um grande passo para recuperarmos nosso prestígio no mundo. O país, antes o farol da democracia, foi manchado por esta administração. Abandonamos amigos, fizemos amizade com ditadores, negamos a ciência climática… A primeira coisa é tirar a administração Trump do poder e começar de novo.” — 2020

“O desprezo [de Trump] pela santidade da nossa Constituição, pela santidade da democracia, do Estado de Direito e da transferência pacífica de poder deveria desqualificá-lo para ocupar novamente o cargo de presidente. Ele não entende o significado deste país, sua história ou o que significa ser verdadeiramente americano.” — 2024

“Na América, os homens mais ricos estão sentindo satisfação em abandonar as crianças mais pobres do mundo à doença e à morte — isso está acontecendo agora. No meu país, estão sentindo prazer sádico na dor que infligem aos trabalhadores americanos leais. Estão revertendo leis históricas de direitos civis que levaram a uma sociedade mais justa. Estão abandonando nossos grandes aliados e se aliando a ditadores contra aqueles que lutam por sua liberdade. Isso está acontecendo agora. Estão cortando verbas das universidades americanas que não se curvam às suas exigências ideológicas. E estão removendo cidadãos das ruas americanas sem o devido processo legal e enviando-os a centros e prisões estrangeiras. Isso está acontecendo agora.” — 2025

Sobre a E Street Band

“Sabe, dá pra ver só de olhar pra eles que esse não é um grupo de caras com muita coisa em comum. Mas, de alguma forma, a música atravessa tudo isso. É estranho, porque não é exatamente uma banda de turnê nem apenas uma banda de estúdio. E eu sou um artista solo, sabe?” — 1978

“Inicialmente, algumas pessoas ficaram surpresas [quando eu os dispensei], outras nem tanto. Tenho certeza de que alguns ficaram com raiva, e outros não. Mas, com o tempo, tudo acabou indo pra um lugar muito bom. Quero dizer, eu deixei de ser o cara que assinava o cheque todo mês. De repente, eu era só o Bruce, e algumas amizades começaram a florescer de verdade.” — 1992

“Esta vai ser a melhor E Street Band que alguém já viu. Se você é jovem e seu pai ou seu irmão nos viu antes, e vier nos ver agora, vai poder dizer: ‘Eu os vi quando estavam no auge.’ Gosto de ver todos os meus caras lá fora, e gosto de saber que todos estão vivos. Houve dificuldades — os mesmos tipos de problemas que muitas bandas têm —, mas cuidamos uns dos outros, e todos estão aqui. Não consigo descrever a alegria de estar ao lado das mesmas pessoas.” — 2007

“A E Street foi uma dança; foi uma ideia; foi um desejo; foi um refúgio; foi um lar; foi um destino; foi um sonho de sarjeta; e, finalmente, foi uma banda. Lutamos juntos — e, às vezes, lutamos uns contra os outros. Nos banhamos na glória, e também na dolorosa confusão das recompensas que recebemos. Tivemos saúde, sofremos doenças, envelhecimento e morte — juntos. Cuidamos uns dos outros quando o problema bateu à porta, e também nos ferimos, em grandes e pequenos modos.” — 2014

Sobre romance

“Conheci Julianne Phillips mais ou menos na metade da turnê Born in the U.S.A.. E nós nos casamos. E foi difícil. Eu realmente não sabia como ser um marido. Ela era uma pessoa incrível, mas eu simplesmente não sabia como fazer isso. Eu precisava de algo, e estava tentando. Qualquer um que tenha passado por um divórcio sabe do que se trata. É difícil, complicado e doloroso para todos os envolvidos.” —1992

“Patti acabou com o clube dos garotos, de verdade. Foi assim: ‘Beleza, pessoal. Vai ter uma mulher na banda. Precisamos de alguém pra cantar as partes mais agudas. Que tão complicado isso pode ser?’ Bem… uma bela foto de paparazzi minha de cueca em uma sacada em Roma… 10 dos melhores anos da minha vida.” —1999

“Patti é minha sexificação noturna… Minha folga da masturbação.” —2000

“Patti e eu estamos juntos há 20 anos. ‘Kingdom of Days’ é algo que você escreve depois de viver uma vida longa com alguém, quando percebe o quanto vocês construíram juntos. Você também vê a finitude disso, a luz do dia passando no rosto do seu parceiro. A música fala sobre tirar o medo e o terror dessas coisas.” —2009

“Patti é inteligente, durona, mas frágil. Não esqueça essa parte. Se amamos aqueles em cuja companhia se reflete o melhor de nós, essa é a luz que ela projeta sobre mim. Em 1984, numa noite no Stone Pony, essa ruiva linda apareceu e se juntou à banda residente de domingo — foi naquela noite que me apaixonei pela voz de Patti. Ela subiu ao palco, uma chama vermelha, e fez uma ótima versão de ‘Tell Him’, sucesso das Exciters. Então, a primeira linha da primeira música que ouvi Patti cantar foi: ‘I know somethin’ about love.’” —2017

Sobre Clarence Clemons

“Na noite em que conheci Clarence, ele subiu ao palco e um som saiu do seu saxofone que pareceu sacudir os copos atrás do balcão e ameaçar derrubar a parede do fundo. A porta literalmente voou fora do clube naquela noite de tempestade, e eu soube que havia encontrado meu saxofonista. Mas havia algo mais — algo aconteceu quando ficamos lado a lado. Uma energia, uma história não contada. Por 15 anos, Clarence foi uma fonte de mito, luz e força imensa pra mim no palco. Ele encheu meu coração em tantas noites, e eu amo quando ele me envolve com aqueles braços no fim do show.” —1999

“Perder Clarence foi como perder a chuva — algo que esteve tão presente na sua vida por tanto tempo. Tudo parece menor. Nosso relacionamento foi uma conexão química imediata, que aconteceu naquela primeira noite em Asbury, quando ele caminhava em direção ao palco: ‘Aí vem o meu cara.’” —2012

“A primeira vez que vi a silhueta imensa de C saindo das sombras de um bar meio vazio em Asbury Park, pensei: ‘Aí vem meu irmão.’ Mas, por mais sólido que o Big Man fosse, ele também era muito frágil. E, de um jeito curioso, acabamos nos tornando os protetores um do outro; acho que talvez eu tenha protegido C de um mundo onde ainda não era fácil ser grande e negro. O racismo ainda estava lá e, ao longo dos anos, às vezes a gente o via. A fama e o tamanho de Clarence nem sempre o tornavam imune. Acho que talvez C tenha me protegido de um mundo onde também não era fácil ser um garoto branco, magricela e esquisito. Juntos, éramos fodões — em qualquer noite, um dos pares mais fodões do planeta. E estávamos indo pra sua cidade pra te sacudir e te acordar.” —2016

+++LEIA MAIS: A música que mudou a vida de Bruce Springsteen

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