Música
A grande crítica que Marcelo D2 faz ao rap atual

Chamar Marcelo D2 de lenda do rap nacional parece redutivo. Seja como parte do Planet Hemp ou em sua carreira solo, ele foi influente não apenas para a popularização do gênero no país, como também em fazer o público perceber que dá para fazer esse tipo de música sem abdicar da brasilidade.
Todavia, ele tem críticas ao estilo. Mais especificamente, ao que ele se tornou.
Em entrevista a Ricardo Pinheiro para o jornal O Globo, D2 foi perguntado sobre arrependimentos em sua carreira. Na resposta, citou o estado atual do rap e a perda da essência do estilo musical, ao seu ver.
Ele falou:
“Pode parecer um saudosismo, mas eu sinto muita falta do rap. O rap se transformou em outra coisa. Assim como qualquer movimento revolucionário, o rap foi engolido pelo sistema e hoje em dia ele faz parte do sistema, não é mais um ‘outsider’. Eu, enquanto um ‘outsider’, um cara que gosta de viver à margem dessa sociedade, não me sinto mais tão representado. Tem muita coisa boa, mas o rap de maneira geral já virou ‘mainstream’. Sinto muita falta do rap ‘underground’. Ele ainda existe, mas é quase uma cópia do que foi feito naquela época. Sinto falta desse ‘movimento rap’, até porque eu vou ficando velho e não faço mais parte dessa parada, também, né? Nem me interessa muito mais.”
O rapper ainda falou sobre fazer músicas equilibrando a necessidade de entreter com sua vontade de oferecer conteúdo nas letras. Além disso, discutiu a utilidade de olhar para o passado em busca de inspiração.
D2 disse:
“Lembrando que o rap era uma música que não existia no Brasil. Cantar rap era ‘coisa de americano’. O jeito de fazer rap brasileiro era samplear os mais velhos. Não se escreve o futuro sem olhar para o passado, não existe. É o trabalho que faço hoje com o ‘Novo samba tradicional’, a metáfora do arco e flecha: quanto mais a gente puxa para trás, mais lá na frente vamos atingir. É burrice achar que sabemos de tudo e que não precisamos olhar para trás e reverenciar os mais velhos e agradecer o caminho que foi aberto. A gente não vai reinventar a roda, ela já está aí, não dá para ignorar. Então, vamos ver como a gente consegue fazer ela rodar melhor.”
Marcelo D2 também vê o “copo meio cheio”
Em entrevista de 2023 à Rolling Stone Brasil, Marcelo D2 apresentou ponto de vista similar. O artista citou que o momento atual é o “melhor para o hip hop no Brasil enquanto movimento, mas não na parte criativa”. Ainda assim, preferiu enxergar um lado mais positivo.
“O Playboy Carti diz em uma rima que está sustentando a família com um hobby. Para nós, que começamos no fim dos anos 1980 e começo dos anos 1990, ver que as pessoas conseguem sobreviver e viver com arte — e alguns estão ficando milionários — é muito interessante. O rap tem muito a contribuir com a discussão contemporânea. É quase um sonho. Eu não achava que o rap estaria tão forte 50 anos depois. Ele se adapta aos grandes guetos. Já viajei para fazer show em mais de 30 países e todo lugar tem um rap muito local. Essa regionalidade deixa o rap sobreviver.”
Shows de despedida
O Planet Hemp faz neste sábado, 15, o penúltimo show da carreira, no Allianz Parque. A apresentação faz parte da turnê Até a Última Ponta, que marca a despedida do grupo dos palcos. Ainda há ingressos à venda no site Eventim.
A performance final ocorrerá dia 13 de dezembro, na Fundição Progresso, Rio de Janeiro, cidade onde a banda foi criada. Ingressos também estão disponíveis via Eventim.
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