Música
Pam Hogg morre aos 66 anos: a rebel da moda punk que marcou quatro décadas de criação

A moda britânica perdeu uma de suas figuras mais indomáveis. Pam Hogg, designer escocesa que fez da roupa um manifesto de rebeldia e autonomia estética, morreu aos 66 anos, hoje, 26 de novembro, cercada por amigos e familiares em um hospital psiquiátrico em Hackney, Londres.
Nascida em Paisley, perto de Glasgow, Hogg começou a costurar aos cinco anos, transformando roupas doadas por vizinhos mais ricos em algo que traduzisse sua identidade. “Já estava formulando meu estilo lá atrás”, disse à BBC. Formou-se em Artes Plásticas e Têxteis Impressos na Glasgow School of Art e, posteriormente, no Royal College of Art, em Londres. Mas foi na vida noturna que sua assinatura realmente emergiu.
No início dos anos 80, Hogg criava looks para garantir entrada no lendário Blitz Club, epicentro do movimento New Romantic comandado por Steve Strange. Suas peças eram imediatamente reconhecíveis: exageradas, futuristas, nada sutis. A primeira coleção, Psychedelic Jungle (1981), nasceu desse ambiente: um cruzamento entre rigor estético, brilho agressivo e uma recusa explícita a qualquer noção de discrição.
Seu visual era extensão de sua obra: cabelo louro amarelo, batom vermelho, delineador intenso e roupas que não pediam licença. A revista i-D a definiu, em 1989, como “a designer britânica mais consistentemente inventiva, ao lado de Vivienne Westwood”.
O catsuit virou seu símbolo definitivo: peça moldada ao corpo, provocativa, quase uma armadura futurista. Ao longo das décadas, ele apareceu em Kylie Minogue, Rihanna, Lady Gaga, Kate Moss, Naomi Campbell, Björk, Siouxsie Sioux, Grace Jones e Claudia Schiffer. Cada peça era feita à mão por Hogg, mesmo após seu retorno às passarelas em 2009.


Sua influência escapava da moda. Diana, Princesa de Gales, usou um de seus vestidos. Em 2013, a Princesa Eugenie escolheu um modelo customizado por Hogg para o Royal Ascot. Em 2016, ela assinou a estatueta do Brit Awards — treze troféus com brilho metálico e excesso na medida.
Nos anos 90, enquanto o minimalismo tomava as passarelas, Hogg migrou para a música. Tornou-se vocalista da banda Doll, abrindo shows para Blondie e The Raincoats, sempre vestindo figurinos tão extravagantes quanto seus designs. Uma de suas histórias mais famosas resume seu impacto: convidada para uma festa de David Bowie na casa de Kate Moss, levou um look Ziggy Stardust feito por ela. Moss tirou o vestido couture que usava e colocou o de Hogg na hora.
De volta à moda nos anos 2000, seguiu criando para ícones da nova geração. Jamais perdeu o pulso punk: frequentava festas da fashion week de aviadores, cabelo amarelo-limão e jaquetas teddy boy. Sua última coleção, Of Gods and Monsters (2024), foi feita com tecidos reciclados e itens resgatados de seu estúdio, abordando meio ambiente e o genocídio em Gaza. “Não há tempo como o presente para corrigir isso. Por favor, use sua voz”, disse ela.
Hogg nunca se encaixou na cartilha da indústria. Na Guardian, diante de uma pergunta trivial, respondeu: “Estou apenas feliz em não ser chamada de normal. Que se f*** a normalidade!”. Seus designs hoje estão em museus, como o vestido de noiva semitransparente criado para Lady Mary Charteris, preservado no Victoria and Albert Museum. Mas seu verdadeiro legado é outro: criadores que aprenderam, com ela, que subversão é uma escolha estética e política.
Sua família resumiu no comunicado oficial: “Pamela tocou vidas de todas as idades. Ela deixa um legado magnífico que continuará inspirando e nos desafiando a viver além dos limites da convenção”.
Quarenta anos depois de começar, Pam Hogg ainda costurava, ainda criava, ainda desafiava. Sua morte não encerra apenas uma carreira, encerra uma era da moda em que a rebeldia era um princípio, não um adorno.
