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5 razões para shows internacionais não passarem pelo Rio, segundo especialistas

 
O Rio de Janeiro é a cidade mais famosa do Brasil. Destino turístico bem consolidado, foi sede dos Jogos Olímpicos de 2016, é o lar do mais tradicional festival de música do país, o Rock in Rio. Mesmo assim, nos últimos anos se viu fora do circuito de shows internacionais para vários dos principais artistas internacionais.
Uma reportagem de Bernardo Araujo publicada pelo jornal O Globo na última sexta-feira, 31, apontou como o Rio de Janeiro só receberá três shows internacionais de grande porte nos próximos tempos: Dua Lipa em novembro de 2025, Bryan Adams em março de 2026 e The Weeknd em abril/maio de 2026. Nomes como Guns N’ Roses, Oasis, Linkin Park, Weezer, Imagine Dragons, Limp Bizkit, Korn, entre tantos outros deixarão de passar pela capital fluminense.
A avaliação geral é de que a cidade está sendo deixada para trás especialmente por Curitiba, que tem população menor e não conta com a mesma tradição no turismo.

O jornal reuniu especialistas para analisar o porquê disso. Os depoimentos mostram como há uma série de fatores que contribuem para essa seca. Confira a seguir.
1) Falta de grandes casas de eventos
O grande diferencial para São Paulo se tornar um destino atraente para shows internacionais, na visão dos especialistas, é a presença de um estádio perfeito para esse tipo de apresentação. O Allianz Parque, casa do Palmeiras, se tornou o destino preferido para artistas de fora desde sua inauguração, em 2014.
Em entrevista a O Globo, Bernardo Amaral, CEO da casa de espetáculos carioca Qualistage, explicou como os estádios cariocas possuem seus problemas comparados à casa do Palmeiras. Ele disse:
“O Allianz Parque é um estádio bem localizado, de fácil acesso, com toda a estrutura para shows. O universo da música, aqui e no exterior, já sabe dele, então as turnês acabam direcionadas para lá. No Rio, como o Maracanã só fica disponível fora da temporada do futebol, em dezembro e janeiro, a opção é o Engenhão, que sofre muita rejeição do público. Não sei por que não usam mais a Apoteose.”
O Engenhão, nome popular para o Estádio Nilton Santos, é localizado na Zona Norte da cidade, e existem problemas de transporte para chegar no local. Não existe estação de metrô próxima, apenas trem da SuperVia, o que requer baldeação no Centro da cidade para quem vem da Zona Sul.
O Green Day tinha uma data marcada por lá em setembro, quando vieram para o Brasil tocar no festival The Town, em São Paulo. Infelizmente, cancelaram o show carioca. O motivo oferecido publicamente foi conflito de agenda, pois o Botafogo, clube de futebol administrador, precisaria usar o estádio no dia. Entretanto, uma rádio local reportou que as vendas de ingressos estavam baixas.
2) Falta de público
Outros especialistas também apontam a ausência de espaços de pequeno e médio porte na cidade. Nem todo artista é capaz de lotar um estádio, e muitos não conseguem sequer encher a arena de médio porte do Rio, a Farmasi Arena, com capacidade de até 19 mil pessoas.
O DJ Melvin Ribeiro, figura conhecida do underground carioca, apontou um show do R.E.M. de 2008 como evidência da apatia do público. Ele enumerou uma série de fatores que contribuíram para isso, como a falta de eventos dedicados ao gênero e espaços alternativos maiores:
“Foram umas duas mil pessoas lá ver uma banda que tinha fechado uma noite do Rock in Rio para cerca de 150 mil sete anos antes. O Rio tinha festas de rock, como a Loud! e a Maldita. Hoje temos a Áudio Rebel, que é maravilhosa, mas comporta 80 pessoas. Fiquei feliz ao ver o Turnstile enchendo o Sacadura 154 [em abril de 2025], foi uma hora na fila para entrar.”
3) Falta de olhar local
Bernardo Amaral também colocou responsabilidade na conta das produtoras. O executivo afirmou que as responsáveis por esses grandes shows não têm escritórios na cidade, e parece não saber o mercado local.
Essa visão é involuntariamente corroborada por José Muniz, CEO da Mercury Concerts, responsável pela vinda mais recente do Guns N’ Roses e pelo festival Monsters of Rock. O empresário afirmou que a praia do Rio de Janeiro é um diferencial pela presença de eventos gratuitos públicos. Os shows da série Todo Mundo no Rio ocorrem atualmente apenas uma vez por ano, e só começaram em 2024.
4) Segurança
Muniz também fez questão de ressaltar o problema da segurança no Rio de Janeiro. Apesar da cidade estar constantemente nas manchetes por questões envolvendo violência urbana, não é o único lugar do país que sofre dessa fama.
Quando a National Football League anunciou que faria jogos de temporada regular na Neo Química Arena, em São Paulo, vários jogadores de futebol americano profissionais expressaram descontentamento por serem forçados a vir para o Brasil. O motivo oferecido foi a falta de segurança do país.
Em 2026, o jogo da NFL no Brasil não será em São Paulo. O evento foi movido para o Maracanã.
5) Taxa de conveniência menor
O último fator levantado é econômico. O Rio de Janeiro tem leis que limitam a cobrança de taxa de conveniência em cima do valor do ingresso, para proteger o consumidor carioca. Enquanto no resto do país é permitido chegar até a 20% do preço integral, na capital fluminense o teto é de apenas 10%.
Segundo Luiz Guilherme Niemeyer, da Bonus Track, produtora responsável pelas vindas de Lady Gaga e Madonna à praia de Copacabana, este limite “representa um desequilíbrio financeiro quando todos os custos da produção são somados”.
Há esperança
Um fator que vários dos entrevistados apontaram, contudo, é que há espaço para melhora. A Arena Jockey, espaço criado em 2023, tem capacidade para sediar shows internacionais de médio porte na Zona Sul da cidade. Desde alguns casos citados, a questão da mobilidade urbana mudou drasticamente, tornando o deslocamento até a Zona Oeste menos complicado.
Além disso, especialistas disseram ter ouvido de produtores estrangeiros que o interesse no Rio de Janeiro para shows existe. É apenas uma questão de resolver a imagem da cidade no mercado.
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