Música
Em ‘Clube da Esquina’, clássico de Lô Borges e Milton Nascimento, sonhos não envelhecem

 
Quem não conhece Clube da Esquina pouco sabe de MPB. É um marco na história da nossa música, referência também no exterior e símbolo de uma nova estética e do valor da amizade. Amizade era o chão daqueles jovens músicos mineiros que se encontravam nas esquinas da vida para tocar, cantar, criar, ousar. “Tudo que você podia ser”. Milton Nascimento e Lô Borges foram os protagonistas dessa história que rendeu um dos primeiros LPs duplos registrados no Brasil. Foi gravado apenas em dois canais, apesar da sofisticação dos arranjos para a época. Aliás, até hoje.
A primeira canção, chamada “Clube da Esquina”, de Milton, Lô e Márcio Borges, foi gravada antes, em 1970. Era o começo:
Lembro-me dessa época. Mineira de Juiz de Fora, passei minha adolescência entre músicos, cantando pelas esquinas, nos bares, nas praças e até participei de serenatas. Na verdade, eu era plateia. De vez em quando entrava no coro ou tocava um chocalho. Mas integrava toda aquela magia de um grupo de amigos que sonhava com um mundo melhor e cantava isso por aí. Magia essa muito bem representada pelo Clube da Esquina. Sabíamos de cor todas aquelas músicas. Era muito bom.
O Estado de Minas fez uma belíssima reportagem sobre o aniversário de 40 anos do Clube da Esquina. A equipe do jornal até encontrou Tonho e Cacau, os meninos que estampam a capa do disco e que são incansavelmente e erroneamente confundidos com Lô e Milton quando crianças.
Se a gente quisesse fixar geograficamente o Clube da Esquina, primeiro mostraríamos o mapa do Brasil, depois Minas Gerais, depois Belo Horizonte e, por fim, a esquina das ruas Divinópolis e Paraisópolis no bairro de Santa Tereza. Mas é bem mais que isso. Um grupo de artistas se reuniu para criar um novo tipo de música e rompeu todas as fronteiras. Milton Nascimento conta que no mundo inteiro encontra músicos que querem vir ao Brasil conhecer a tal sede do Clube da Esquina, que não existe! Ele tenta explicar, mas, convenhamos, não é fácil.
“Trem de Doido” com Lô e Tianastácia:
E quer saber mais? A maioria das músicas foi composta no Rio de Janeiro e não em Minas Gerais! Os mineiros viajaram para a casa de Milton Nascimento no Rio e depois foram para uma praia então ainda deserta em Niterói (Mar Azul, Praia de Piratininga) só para criar as canções e arranjos do disco, em paz.
Atualmente, a gente pode encontrar a sede do Clube da Esquina em um museu virtual, projeto do Museu da Pessoa. Clube continua crescendo, abrangendo novas gerações e cada vez mais agregados. O pernambucano Lenine, por exemplo, gravou uma música bem ao estilo do Clube com Rodrigo Borges. Chama-se “Qualquer Palavra”. Rodrigo é filho de Marilton Borges, outro integrante da turma, irmão de Lô e Márcio. Já é a segunda geração.
Clube da Esquina é Minas Gerais – e é, ao mesmo tempo, universal. Os expoentes desse grupo, além de Milton Nascimento e Lô Borges, foram Fernando Brant, Márcio Borges (irmão de Lô), Wagner Tiso, Toninho Horta, Beto Guedes, Tavinho Moura, Ronaldo Bastos e Flávio Venturini. Mas tem mais, muito mais. Milton teve de batalhar na Odeon para conseguir gravar um álbum duplo com um bando de desconhecidos naquela época. O disco fez com que todos ficassem famosos.
Seis anos depois, em 1978, o Clube da Esquina 2 foi lançado. Não causou o mesmo impacto que o primeiro, mas também é muito, muito bom. A música de mesmo nome que o disco é uma das canções que mais gosto. É, “sonhos não envelhecem”.
Mas, em vez de eu ficar aqui escrevendo e escrevendo, é melhor ouvir mais. Escolhi outras três músicas do primeiro Clube da Esquina, mas você pode achar mais no YouTube, em inúmeras versões. E quem se interessar pela história do Clube, recomendo, além do Museu Clube da Esquina, a reportagem do Estado de Minas.
*Texto publicado em 2012, no aniversário de 40 anos do Clube da Esquina. Leia aqui.
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