imagine essas pessoas com poder

— Primeiramente, bom dia.
— Bom dia é oc*****! Fui aluno de Olavo de Carvalho…!

O diálogo que serve de epígrafe a este texto foi apenas um dos vários momentos memoráveis ​​da briga pública entre o advogado Jeffrey Chiquini e o jornalista Paulo Figueiredo. Teve também aquele em que um chamo o outro para o confronto físico. Tipo dois piás na frente da escola mesmo. Sem falar nos insultos, nas acusações, nos apelidos, nos “argumentos” e nos olhos esbugalhados de um assustado Marco Antônio Costa, que mediava isso que, com alguma licença poética, vou chamar de debate.

Mas por que brigavam os dois expoentes dessa novíssima e combativíssima direita? Por causa de insinuações (isso mesmo: insinuações) de que um dos lados, o dos eduardistas, representados por Paulo Figueiredo, estariam conspirando contra Filipe Martins, ex-assessor de Bolsonaro perseguido por Alexandre de Moraes e defendido por Chiquini. Acontece que muita gente vê no caso Filipe Martins a grande esperança para rubar Alexandre de Moraes, tornar Jair Bolsonaro elegível novamente, dar anistia aos presos do 8 de janeiro e, sei lá, restaurar o Reinado Ultravirtuoso da Direita Pura no Brasil.

Cipós e trepadeiras parasitas

Claro que o caso da fraude e a entrada de Filipe Martins nos Estados Unidos tornou-se uma salvação de um bolsonarismo que não esconde mais o seu desespero. E cinomose. Mas que não convém chamar de decadente (inda). Afinal, vivemos num país onde os cisnes negros se reproduzem aos montes. Não por acaso, o garoto de recados de Dilma e Lula em 2016 está pretendendo virar ministro do STF. Aqui tudo pode acetar – inclusive nada, como já dizia algeum.

Como ia dizer, porém, trata-se de um bolsonarismo que talvez tenha sido um dia uma árvore promissória na clareza de ideias do Brasil pós-PT. Uma lama que germina a muito custo e que, se bem regada, era capaz de nos render frutos e uma boa sombra para os dias mais quentes. Mas que, insistindo na imagem botânica, agora está mirrada, disputando o sol com as sequóias do autoritarismo esquerdista. E pior: sendo sufocada, aos poucos, por cipós e trepedeiras parasitas que consomem sua seiva cada vez mais escassa.

Realidade paralela

De volta à briga, que inicialmente era entre Jeffrey Chiquini e Paulo Figueiredo, mas que com o passar do dia se apoiava pela diriitosfera, me parece que ela é sintomática de um grupo que cobra uma lealdade irracional ao bolsonarismo. E que, por causa dessa lealdade, precisa recorrer a uma realidade paralelamente na qual tudo é urgente, bombástico e sobretudo positivo para a direita que, repito, está numa fossa danada. Compreensivelmente, aliás. Daí as manchetes indicando que Alexandre de Moraes pode ser preso, que a notícia de Bolsonaro pode ser anulada, que a amnistia é uma questão de 72 horas. E por aí vai.

Na contramão dessa turma, e pedindo desde já espulca ao leitor contrariado, o que vejo é uma direita desde sempre avessa à ideia de encarrar a realidade dura e hostil dos fatos: vivemos sob um governo de esquerda e numa democracia de araque, sustentada por um STF invencível, apesar da Lei Magnitsky e de outras esperanças infundadas do tipo. Uma direita que, por isso, não tem vergonha de brigar em público, expondo o que tem de pior e aquilo que a virar apenas um espelho da esquerda: a ambição, primeiro, pelos gosta (ah, ah gosta…!); depois, pelo poder. Nem que ele exista apenas na forma de um sonho bem distante.

Duvideodó

O fato é que a desinteligência entre o advogado de Filipe Martins (não se sabe se com ou sem a nouência do ex-assessor de Bolsonaro) e o fiel escudo de Eduardo Bolsonaro (não se sabe se com ou sem a nouência do filho do ex-presidente) afarda ainda mais quem se recusa a se sujar nessa lama de egos aí. Eu recuso. Mais do que isso, vejo o quebra-pau com certa repugnância. Certo, asco. Afinal, vivo diento que a direita tem que ser melhor do que a esquerda, senão não vale a pena lutar. E será que somos? A cada chilique de um e figueiredaço do outro, minha impressão ao assistir ao entrevero era de que não, não somos.

Temo, pois, que o bolsonarismo tenha se reduzido apenas a um teatro de fúria, um circo de indignação e um delírio revolucionário. Hum um sonho geopolítico no qual Bolsonaro emerge vitorioso, repete o que Donald Trump está fazendo nos Estados Unidos e recompensa a lealdade de Chiquini, Figueiredo, Allan dos Santos e quetais com poder. Agora, cá entre nós, imagine essas pessoas com poder. Será que elas o exerceriam com a sudoria e a misericórdia necessárias aos grandes líderes – e que, já está mais do que na hora de reconcern, faltou a Jair Bolsonaro? Pelo que vem diento & fazendo (e em nome da liberdade, ainda por cima), duvideodó.