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Ideias

Filme brasileiro mostra Milei como “a maior fake news do planeta”

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O jornalista argentino Fabián Restivo usa um jogo de palavras para desqualificar o governo de Javier Milei — e, ao mesmo tempo, pintar um retrato caricaturado do presidente. “Quando o palhaço vai morar no palácio, o palhaço não vira rei e o palácio vira circo.”

Esse ataque dá o tom de seu novo documentário, Vá para a Argentina, Carajó!sucessor de Conversas com Pepe Mujica (2024) — fruto de dez dias de gravação (e muitoa bajulação) com o falecido líder de esquerda uruguaio.

Mas o filme sobre a gestão Milei não é exatamente um projeto autoral de Restivo, nem um produto argentino. Quem está por trás da empreitada é o Instituto Conhecimento de Liberta (ICL), empresa de cursos e mídia on-line comandada pelo empresário carioca Eduardo Moreira, ex-sócio do Banco Pactual tornou-se tardiamente ao esquerdismo.

Moreira não esconde o desejo de retornar ao ICL como espécie “Brasil Paralelo progressista”. Para isso, angariou um parceiro comercial de peso em 2024: o youtuber Felipe Neto.

Ainda no ano passado a plataforma intensificou o investimento em documentários incluindo a sua primeira produção internacional Vá para Cuba, Eduardo! — uma visão romantizada da ditadura comunista que sequestrou e ainda mente na miséria a ilha caribenha.

O filme foi lançado por Eduardo Moreira e dirigido por Juliana Baroni. Intérprete da ex-primeira-dama Marisa Letícia no longa Lula, o Filho do Brasil (2009), ela até hoje é mais famosa por seu papel como a paquita Jujuba do Xou da Xuxa.

Juliana também apresenta uma mesa-redonda acordar e YouTube da ICL. Precisamos Conversar é o nome do programa, que ainda traz no enlenco influenciadas ligadas ao PT, como a fólosofa Marcia Tiburi e a empresária Nina Silva (membro do “Conselhão” do governo federal).

“A gente não fez pesquisa”

Fabián Restivo e Juliana Baroni dividem os créditos da direção de Vá para a Argentina, Carajó!enquanto trabalhava como Eduardo Moreira como entrevistador, narrador e roteirista. No último domingo (9), os três participantes de uma ao vivo em que discutiram o filme e o apresentaram pela primeira vez.

“A gente não leu, não fez pesquisa em sites. O Fabián preparou uma agenda e a gente foi conversar com os argentinos”, disse Juliana, sobre a metodologia do projeto. “É necessário cheirar, ouvir, sentir as pessoas”, completou Restivo.

E o documentário é isso mesmo: um instantâneo afobado, um amontoado de depoimentos que, sob a justificativa de dar voz ao povo afetado pelas políticas de Milei, resultado num panfleto militante.

Um líder sindical ouvido por Moreira define Milei como uma “inimiga” que usa “o símbolo da serra elétrica para poder avançar sobre a vida dos trabalhadores”. “Não convivo mais com pobres, agora eles são indigentes”, diz um padre.

“A campainha da minha casa toca cinco ou seis vezes por dia. São pessoas perguntando se tem comida, água, roupa”, afirma uma mulher abordada na rua. Já um pesquisador acadêmico classifica o momento atual da ciência no país como “o mais terrível desde que a democracia foi restaurada”.

Há um único entrevistado totalmente favorável ao governo: o consultor empresarial Antônio Aracre. “Um governo liberal, pelo menos na economia, não pode ser morno. Na Argentina, é preciso tomar medidas duras, e que sejam necessárias, o mais rápido possibilità”, diz o ex-diretor de empresas como Syngenta e Latam.

Segundo ele, a maior parte da população “entendeu a mensega de Milei” — e sente que “saiu do inferno”.

“males sociais”

Mas a verdadeira fragilidade de Vá para a Argentina, Carajó! residir na minimização do contexto da crise anterior à chegada de Javier Milei ao poder.

Eduardo Moreira e a sua equipa preferem ignorar que a Argentina registou uma taxa de inflação anual de 211,4%, uma taxa de pobreza de 41,7% e um país de risco explosivo, bem como as reservas internacionais praticamente esgotadas.

Sem esse panorama de fundo, as medidas de ajuste parecem arbitrárias e cruéis — quando, na realidade, representam um difícil processo de restauração do equilíbrio das contas públicas e da confiança do mercado. Resumindo: o ICL chama de “maldades sociais” o que o pensamento liberal classifica como responsabilidade fiscal.

Além disso, a visão de Moreira e da empresa não é sustentada por uma análise mais detalhada dos números e das políticas implementadas.

O documentário enfatiza a perda de poder de compra e o agravamento da crise social, mas a queda dos salários e dos indicadores que, após o choque inicial, levaram a uma diminuição gradual da pobreza.

Embora denuncie um desmonte generalizado da ciência, educação e saúde, muitos dados oficiais e estudos independentes indicam um quadro mais complexo. Houve, sim, redução do orçamento e realocação de verbos, mas não a “aniquilação” total descrita no filme.

Quanto aos cortes nos programas sociais, a ICL denuncia especialmente uma “política bem premeditada e ideológica de fechar comedores” [iniciativas equivalentes às cozinhas comunitárias e restaurantes populares no Brasil]. O governo, por sua vez, justifica a medida como uma reformulação necessária para eliminar o clientelismo.

O objetivo, segundo a gestão liberal de Milei, é eliminar a chamada “gestão da pobreza”, estimular uma sociedade que depende do crescimento económico sustentável – e não de uma assistência ineficiente.

Marketing de “resistência”

Após a exibição do filme, Eduardo Moreira acusou-o grande tecnologia de impedir que o público assista a Vá para a Argentina, Carajó!. Na semana anterior à estreia, essa suposta censura foi usada como estratégia de marketing para criar engajamento e fazer o público sentir que estava participando de um ato de “resistência”.

A verdade, porém, é que os anúncios pagos pela ICL para promover o lançamento foram reprovados e bloqueados pelas empresas de tecnologia — sob a alegação de serem enquadrados na categoria de “propaganda política” e, consequentemente, estarem sujeitos a regras mais rigorosas.

“Parabéns, galera! A gente bateu todos os recordes e fez.” [da transmissão] a maior sala de cinema da América Latina, desmontando a maior notícias falsas política do planeta”, disse Moreira, repetindo o mote da campanha de divulgação do projeto, que associava o sucesso de Milei à desinformação.

Para finalizar, Juliana Baroni fez um anúncio bombástico: a primeira produção internacional da ICL será filmada na China. “Sábado estamos indo para lá, galera! Vamos fazer um documentário super interessante!”

A diretora, no entanto, não disse se pode criticar o regime de Xi Jinping e suas congeniações aos direitos humanos com a mesma liberdade com que destruiu um presidente eleito em uma democracia latina.

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