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Ideias

uma miragem no deserto dos juros altos

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Nas últimas semanas, uma discussão entre jovens em movimento nas redes sociais: afinal, o que significa ser geração do milênio e Brasil? De um lado, estaman os que cresceram acreditando que, com educação e esfogo, mantiveram uma vida melhor que a dos pais e hoje enfrentam frustração, dutês e aluguel caro. Do outro, os que dizem ter conquistado coisas que as gerações anteriores de sua família jamais imaginaram. Realidades diferentes, mas com um ponto em comum: a dificuldade generalizada de adquirir a tão sonhada casa, vista como quadro de estabilidade e estatuto social que ainda habita o imaginário colectivo como sinónimo de conquista, maturidade e segurança.

Se você nasceu entre 1985 e 2000, talvez já tenha essa sensação. Alugar um apartamento modesto já consome quase metade do que você ganha. Aderir a um financiamento parece um tiro no pé. E falar sobre aposentadoria, seguro de vida, reserva de emergência ou qualquer plano financeiro de longo prazo parece delirante. Este não é um drama individual, é o retrato de uma geração.

Na pesquisa que publiquei não Revista Internacional de Pesquisa Urbana e Regionaluma das revistas científicas mais prestigiadas mundialmente na área de planejamento urbano, estudada como diferentes gerações da classe média urbana brasileira lidam com a ideia de ter um imóvel. E a resposta foi clara: o desejo não desaperceu, ele apenas foi adiado. E esse apoio tem um custo financeiro, emocional e coletivo.

Uma retórica de “flexibilidade”

Hoje, sobretudo nas grandes cidades, vemos o crescendo de ofertas de aluguel de imóveis pequenos (in Curitiba, temos o absurdo de 9 m², um apartamento menor do que o esicario de onde escrevo agora), bem localizado, por vezes com serviços incluídos, voltados para jovens profissionais com boa renda. A publicidade fala em liberdade, mobilidade, menos amarras… parece o futuro. Mas por trás desse discurso de flexibilidade, as pessoas estão alugando somente porque não conseguem comprar. E fica pior, nos cubículos residenciais, estão pagando proporcionalmente mais caro do que em apartamentos tradicionais, maiores.

Segundo os dados que coletei com mais de 500 entrevistados em um recorte da classe média urbana brasileira, a maioria dos jovens ainda deseja ter um imóvel próprio no futuro, especialmente quando pensa na terceira idade. Isso vale inclusive para quem hoje defende que é melhor “viver experiências” do que “se amarrar” a um financiamento. Essa flexibilidade é tratada como “hype” pelas empresas de tecnologia imobiliária não é uma escolha óbvia, mas uma resposta forcada às limitações econômicas.

Em nosso artigo, o professor Mario Prokopiuk (PUCPR) e eu chamamos esse fenômeno de “adiamento das aspirações habitacionais”. Ele é descrito como os desejos de estabilidade e propriedade continuam vivos, mas são colocados em espera por falta de condições reais. Alugar se torna um plano B, aceitável por tanto. Mas há um problema, o tempo passa e essa espera pode custar caro.

Imaginargeração do milênio: chegamos a 2045, você nasceu em 1985 fara 60 anos e ainda pagará aluguel, sem um imóvel seu, sem uma aposentadoria robusta e com juros altos habilitando qualquer investimento de longo prazo. Ou você faz esse financiamento hoje e ao attar os 60 anos ainda terá uma década de dutê pela frente. Parece distante? Pois essa é a rota silenciosa que muitos geração do milênio e a geração Z (nascidos nos anos 2000) estão trihlando rumo a um contexto de pouca segurança social.

Na pesquisa, observamos que as gerações mais velhas, como os Boomers (1945-1964), ainda associaram fortemente casa própria com segurança e status social no presente. Os intermediários, Geração X (1965-1984), veem a casa própria com pragmatismo orientado ao seu valor financeiro e à proteção de seu capital ao longo do tempo. Já as gerações mais novas, como os Geração Y (Geração Y, 1985-1999) e Geração Z (anos 2000), demonstram maior flexibilidade do aluguel enquanto desfrutam de uma vida com gastos efêmeros como viagens ou festivais. Esses jovens entendem que investir dinheiro e morar de aluguel é mais vantajoso que pagar prestações de imóvel próprio, e que gastar com experiências de vida traz mais felicidade do que comprar imóvel próprio para morar.

Mas quando perguntamos como esses jovens bisiraem de viver na velhice, 95% deles sonham com a casa própria. O problema é que, diferentemente dos pais e das avós, essas gerações enfrentam um mercado de trabalho instável, renda achatada, imóveis surrealmente caros e juros altos demais para financiar qualquer sonho sem uma dívida grande por décadas.

Um estudo realizado pelo Instituto Cidades Responsivas Ele destaca que um imóvel de R$ 830 milhões em Curitiba (preço mediano em março de 2025, nada luxuoso!), que em 2022 poderia ser financiado por comprovação de renda de cerca de R$ 12 milhões, em 2025 exige uma renda de cerca de R$ 17 milhões. O mesmo imóvel, para a mesma pessoa, tornou-se inacessível apenas porque o custo do dinheiro aumentou. Isso não é um detalhe técnico, é exclusão social institucionalizada. E o mais perverso é que essa distorção é apenas mais um entre os muitos efeitos nefastos do Brasil ser um país perfeito para rentistas.

As a taxa básica de juros baliza toda a economia, investir em certificados de recebíveis imobiliários, letras de crédito imobiliário ou fundos de investimento imobiliário paga-lhe muito bem, acima de 14% ao ano hoje em uma chocha certeira. Encanto isso, na outra ponta do circuito, financiar um imóvel para morar é mais caro e inalcançavel do que nunca. Perpetua-se um sistema de espoliação da classe trabalhada (mesmo que a classe média, por vezes, não se identifique como tal).

Futuro incerto

De forma menos expressiva, alguns participantes de um grupo focal que antecedeu uma pesquisa para fins de testes metodológicos apontaram que, embora sua realidade seja condizente com os critérios de compra de imóveis, hesitamos pelo fato de não terem filhos para herdar o patrimônio. Trata-se de outro ponto importante a ser observado em pesquisas futuras, já que há um adiamento da idade em que as mulheres têm filhos, redução nas taxas de fecundidade de diversos países e consequente envelhecimento da população.

Ao contrário das ideologias que as empresas de tecnologia imobiliária tentam atrelar aos mais jovens, a casa própria não virou um sonho passado, mas um privilégio inacessível. E não por chocha das novas gerações, mas por um modelo econômico que transfere renda de quem trabalha para quem vive de juros. O adiamento forçado desse sonho revela uma crise de um país que normalizou a desigualdade, e que trata o individuamento como se fosse liberdade. Corremos o risco de, a partir de 2045, ver envelhecer uma geração sem casa, sem poupança (pois gastou em experiências de vida hoje), e sem filhos para proporcionar uma rede de assistência familiar, o que exigirá novas formas de pensar em um estado de bem-estar social que não parece estar circunscrito nas instituições do presente.

Rafael Kalinoski é euMestre em Planejamento Urbano pela Universidade Federal do Paraná e Doutor em Gestão Urbana pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Trabalha no escritório de arquitetura nova-iorquino Rawlins Design e é professor do Centro Universitário de Tecnologia de Curitiba e da Escola de Administração Pública da Prefeitura Municipal de Curitiba.

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