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Música

Khalid deixa o R&B e aposta em sonoridade pop no novo álbum

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Na última sexta, 10, o cantor Khalid fez o lançamento do seu sexto álbum de estúdio, After the Sun Goes Down (2025), marcando mais uma virada na sua carreira. O disco traz o artista de 27 anos explorando uma sonoridade pop mais dançante e com letras celebrando seu lado queer, após assumir publicamente sua homossexualidade.

Depois do seu incrível e último projeto, Sincere (2024), ser bem mais introspectivo, sentimental e voltado ao R&B, After the Sun Goes Down é um retorno ao pop, com elementos de música eletrônica, de forma interessante e divertida de ouvir.

Nos últimos anos, Khalid vinha de projetos bem fracos, como Scenic Drive, The Tape (2021) e, um pouco antes, Free Spirit (2019), que refletiam um pouco da sua carreira: explodiu quando tinha 18 anos e depois se acomodou. No entanto, três meses após Sincere, a vida pessoal dele roubou os holofotes de forma inesperada: em novembro de 2024, um ex-namorado expôs publicamente sua orientação sexual nas redes sociais. Khalid, que até então evitava discutir sua vida amorosa em público, respondeu de maneira franca e bem-humorada. Ele publicou no X:

 

 

Um pouco depois, ele comentou: “Sofri um ‘exposed’ e o mundo continua girando… não estava escondendo nada, só não era da conta de ninguém”. Em vez de se abalar, Khalid transformou essa situação em combustível criativo: ele encarou a revelação forçada como uma oportunidade de trabalhar em um novo álbum que refletisse sua liberdade recém-encontrada.

E esse é o sentimento principal de After the Sun Goes Down: confiança, tanto na letra quanto na forma que ele quer soar. Se antes ele compunha com letras ambíguas e sem pronome definido, agora o cantor não se esquiva mais ou faz insinuações abertas. Em “Momentary Lovers“, por exemplo, ele canta sem rodeios e faz referência explícita a sua atração por homens.

Essa honestidade confere ao álbum um tom autêntico e destemido, alinhado com o momento que Khalid vive. Como comentou o próprio artista, ele queria voltar ao universo pop de um jeito que fosse verdadeiro para si, prestando homenagem aos ícones que abriram caminho e, ao mesmo tempo, filtrando tudo pela lente atual de “um homem negro e gay assumido”.

A produção, por parte de Ilya — conhecido por trabalhos com Ariana Grande, Sam Smith e Destiny’s Child — sinaliza a mistura de pop mainstream com toques de R&B e urban que permeia o álbum.

O trabalho é composto por 17 faixas divididas em 53 minutos, e o título, After the Sun Goes Down (“Depois que o Sol Se Põe”, em tradução livre), parece ser uma metáfora para sua transformação e liberação recente. Quando o “sol se põe”, ele se permite brilhar de outras formas; longe dos holofotes do dia, ele explora sentimentos e desejos com menos inibições.

Liricamente, o álbum gira em torno das diversas faces do amor e da vida afetiva — do desejo de “Impulsive” e “Rendezvous“, à euforia de “Tank Top“, à vulnerabilidade e desilusão de “Angel Boy” e “Please Don’t Call (333)“, por exemplo — só que agora contadas de forma mais aberta.

Essa abrangência de temas amorosos rende ao disco uma qualidade meio diário pessoal, porém embalado para as pistas de dança. Há um fio condutor de otimismo e autoconfiança mesmo nas faixas mais tristes, fruto, talvez, da sensação de alívio e autenticidade que ele vivencia após se assumir.

Os destaques

Do ponto de vista sonoro, After the Sun Goes Down mergulha em influências do final dos anos 1990 e começo dos anos 2000, com batidas mais encorpadas, refrões chicletes e arranjos cheios de groove. O álbum começa com energia: a faixa de abertura, “Medicine”, traz uma vibe urbana dos anos 2000, com um beat pop-R&B contagiante e letra comparando os efeitos inebriantes do amor a uma droga — “eu não uso nenhum narcótico, doente de amor por respirar suas toxinas”, canta Khalid.

Essa faixa inicial dá o tom do disco, celebrando o sentimento de estar “viciado” em alguém especial e já evidenciando a produção elegante. Logo de cara, percebe-se um artista se divertindo com a própria música, mais leve e desinibido.

A primeira metade do álbum mantém uma coerência temática e sonora que destaca a persona de Khalid. “Impulsive” é um pop envolvente que aborda a entrega imediata à paixão — “gosto de ser impulsivo, puxando seu corpo para perto…”, diz a letra, abraçando sem culpa os desejos do momento. Já “Instant” (creditada a Tove Lo) traz uma produção de clima litorâneo e eufórico, narrando a rapidez com que uma amizade pode se tornar algo mais: em poucos minutos, a música evolui de versos íntimos para um refrão grandioso, espelhando a súbita mudança de sentimento de amigos para amantes.

Conforme o álbum avança, Khalid continua a mostrar versatilidade dentro da proposta pop. “Out of Body”, produzida por Darkchild, incorpora um toque de música árabe/Oriente Médio mesclado ao pop teen, diferenciando-se pelo riff exótico e pelo clima sedutor. Outro destaque, talvez o maior deles, seja “Whenever You’re Gone”, que começa com ares de balada R&B suave, mas se infla e explode em um refrão pop embalado por batidas UK garage.

Por fim, o desfecho em “Hurt People” e “Nobody (Make Me Feel)” dá um fechamento emotivo à jornada. A primeira é possivelmente a faixa mais vulnerável de toda a obra, na qual Khalid reflete sobre o ciclo de mágoas que as pessoas causam umas nas outras quando estão machucadas, enquanto a segunda, a faixa final (com participação do cantor Oskar med K), retoma a leveza: tem um clima sonhador e suave, descrevendo aquele estágio inicial de amor entre amigos que percebem uma química especial.

O que poderia melhorar

Embora After the Sun Goes Down tenha sido recebido positivamente em sua maioria, não é um álbum isento de críticas. Apesar da produção caprichada e das boas ideias pop, o disco não é revolucionário dentro do gênero. Em outras palavras, Khalid não se propõe aqui a reinventar o pop, e algumas faixas podem soar familiares demais para quem espera inovação ousada.

Além disso, com tudo isso de música, o álbum poderia ter sido mais conciso. Embora a maioria das músicas seja envolvente, essa duração faz com que inevitavelmente uma ou outra faixa se torne menos marcante em meio às demais, como, por exemplo, casos de “Nah” ou “Please Don’t Call (333)“, que, apesar de agradáveis, não possuem tantos elementos distintivos frente a faixas mais fortes.

Vale a pena ouvir o novo Khalid

Em resumo, os pontos fracos residem na falta de risco: Khalid preferiu acertar dentro do terreno pop/R&B que domina, ao invés de buscar territórios completamente novos — e está tudo bem. Dependendo do gosto do ouvinte, isso pode ser visto como algo positivo (coesão e identidade) ou como uma oportunidade perdida de surpreender.

No geral, After the Sun Goes Down é uma fase de libertação artística e pessoal para Khalid, consolidando-o não apenas como um hitmaker de voz calma, mas agora também como um compositor mais honesto consigo mesmo. Ao abraçar com orgulho sua identidade e canalizá-la na música, ele entregou seu álbum mais pessoal e direto, sem abdicar da acessibilidade pop que o tornou famoso. O resultado é um disco divertido, sensual e emotivo na medida certa, que deve agradar tanto aos fãs que o acompanham desde American Teen quanto a um novo público atraído pelas batidas dançantes e refrões fáceis de cantar.

Ainda que Sincere continue sendo o ponto alto recente da discografia de Khalid — mais coeso, emocional e artisticamente refinado —, After the Sun Goes Down cumpre bem outro papel: o de devolver o artista à superfície, ao calor do pop e às pistas de dança. É menos profundo, mas mais espontâneo; menos sofisticado, mas mais vivo. Se o primeiro é ideal para quem busca introspecção, o novo é para quem precisa de leveza e energia. Vale a pena trocar, ao menos por um tempo, a sua playlist de treino por esse Khalid solar e confiante, que parece, finalmente, se sentir confortável sob o brilho de sua própria liberdade.

Ouça After the Sun Goes Down agora mesmo:

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Kadu Soares (@soareskaa)

Kadu Soares é formando em Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero, passa o dia consumindo música, esportes, filmes e séries. Possui um perfil no TikTok e um blog no Substack, onde faz reviews de projetos musicais.



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