Connect with us

Música

‘Ato Noturno’, ‘Hamnet’, ‘O Agente Secreto’ e mais destaques do Festival do Rio 2025

Published

on


O Festival do Rio, um dos maiores eventos de cinema do Brasil e da América Latina, encerrou mais uma edição no último domingo (12). Em seu 27º ano, o evento permitiu a cinéfilos e entusiastas da sétima arte conferir centenas de produções inéditas, obras de diretores consagrados e novos talentos em sessões distribuídas por todo o Rio de Janeiro.

A seguir, a Rolling Stone Brasil lista destaques nacionais e internacionais na programação do Festival do Rio 2025, incluindo O Agente Secreto, novo longa de Kleber Mendonça Filho (Bacurau) estrelado por Wagner Moura (Marighella), que irá representar o Brasil na corrida pelo Oscar 2026; Hamnet: A Vida Antes de Hamlet, emocionante novidade de Chloé Zhao (Nomadland); e Ato Noturno, vencedor do Prêmio Felix de Melhor Filme LGBTQIAPN+, com comentários de Henrique Nascimento, editor de cinema do site. Confira:

O Agente Secreto

Sinopse:

Em O Agente Secreto, Marcelo (Wagner Moura) é um professor universitário, que foge para Recife para escapar de agentes governamentais que o procuram por atividades subversivas. No entanto, ao chegar na cidade, onde acredita que está seguro até conseguir fugir do país com o filho pequeno, ele descobre que está jurado de morte por um antigo desafeto.

Breve comentário:

Se tem algo em que Kleber Mendonça Filho excede expectativas é na arte de ser brasileiro. Essa é a primeira coisa que salta aos olhos em suas obras e, com O Agente Secreto, não é diferente. Seus filmes têm cara, corpo e alma de Brasil – e o Brasil de verdade, não o “Brazil” pra gringo ver.

É neste Brasil, em “uma época cheia de pirraça”, que se passa a história de Marcelo, um homem condenado por tentar conduzir a sua vida por caminhos mais justos e honestos, o que o leva a viver escondido, seguro apenas por uma rede invisível e vulnerável de pessoas, que se encontram em situação parecida com a sua em um país sufocado por um regime autoritário.

Ao contrário de Ainda Estou Aqui, que ganhou o mundo no ano passado ao retratar os horrores da ditadura militar brasileira através do desaparecimento do engenheiro Rubens PaivaO Agente Secreto aborda o período com ares de tragicomédia.

Kleber Mendonça Filho não tem pressa de dar cabo de sua história e — enquanto desenrola o seu “noir pernambucano”, em meio à crescente tensão vivida por Marcelo, especialmente após descobrir que está jurado de morte — nos revela que a vida não foi feita para doer, mas também para pular carnaval, brincar, curtir, sorrir, beijar, transar, viver e, principalmente, ser feliz. É um retrato bastante honesto de um Brasil que, mesmo sob as piores desgraças, consegue encontrar motivação para colocar um pé à frente do outro e viver mais um dia, com esperança de um futuro “com menos pirraça”.

Além disso, O Agente Secreto também usa da memória como ferramenta de transformação. O filme retrata um Brasil que ficou no passado, sim, mas que, surpreendentemente, é ainda muito atual. São dois períodos de tempo que se conversam em suas injustiças, no preconceito, na manutenção de privilégios e no apagamento histórico. Embora não tenha essa finalidade, a produção serve como um lembrete de que, para que os horrores do passado fiquem apenas por lá, é preciso olhá-los nos olhos e reconhecê-los. E nada como o cinema para ajudar com essa dura tarefa.

Depois da Caçada

Sinopse:

Em Depois da Caçada, uma professora universitária se vê envolvida em uma crise ética e profissional quando a sua melhor amiga acusa outro professor, um amigo de longa data, de agressão sexual. Enquanto os conflitos no campus se intensificam, a partir da divulgação da notícia e o início de uma investigação, segredos da professora ameaçam vir à tona, testando os seus limites entre lealdade, justiça e convicção.

Breve comentário:

Emendando um longa atrás do outro desde 2017, quando ganhou destaque com Me Chame Pelo Seu NomeLuca Guadagnino se debruça sobre o roteiro de estreia da atriz Nora Garrett e entrega um suspense à altura de seus lançamentos mais recentes, Rivais Queer, ambos de 2024.

Depois da Caçada apresenta um conflito geracional calcado em uma questão que atravessa gerações tornando-se cada vez mais complicada com o passar dos anos. Não há respostas fáceis para um caso de agressão sexual e o longa de Guadagnino trabalha justamente em cima disso, atualizando a discussão com novas possibilidades: a situação é a mesma — o abuso viabilizado por uma hierarquia de poder —, mas as personagens são diferentes.

De um lado, há a vítima, uma jovem mulher negra e lésbica, mas nascida em uma família rica e privilegiada, que mesmo assim não teria o talento ou a habilidade para ser extraordinária em sua vida acadêmica, como seria esperado. Do outro, um homem branco e heterossexual, um superpredador na cadeia social, mas que lutou para conquistar o destaque profissional pelo qual é reconhecido. Ambos contam as suas histórias — e ambos podem estar dizendo a verdade.

Sem uma única versão a ser considerada, a questão acaba caindo sobre Alma Imhoff (Julia Roberts, O Mundo Depois de Nós), a professora universitária que se vê no meio do conflito entre a vítima, a sua melhor aluna Maggie Price (Ayo EdebiriO Urso), e o agressor, um de seus amigos mais íntimos, o professor assistente Hank Gibson (Andrew GarfieldTodo Tempo que Temos).

Progressista na hora de defender os próprios direitos em um mundo dominado por homens exatamente como o seu colega, Alma se mostra bastante conservadora quando a acusação surge. Fielmente atada à sua rotina, a professora pende para a manutenção do status quo — afinal, como ser correto em um mundo incorreto? — por parecer temer que a sua vida perfeitamente construída vá pelos ares.

Ao final, sem banalizar uma questão delicada e de extrema importância, Depois da Caçada se exime de dar um veredito sobre o conflito principal, deixando pistas no ar de que, no fim das contas, uma andorinha só não faz verão; e centra a sua solução em Alma e o que a levou a tomar as atitudes que tomou diante do caso. A revelação não só choca como acrescenta uma nova perspectiva dramática à história, aumentando ainda mais as dúvidas e reafirmando que a questão pode ser sempre mais delicada e nociva do que podemos imaginar.

Ato Noturno

Sinopse:

Ato Noturno acompanha o caso em sigilo entre um ator, Matias (interpretado pelo estreante Gabriel Faryas) e um político, Rafael (Cirillo Luna, Reis), ambos em ascensão, que descobrem um fetiche por sexo em lugares públicos. No entanto, quanto mais se aproximam de seus objetivos, mais a prática se torna perigosa, colocando tudo o que sempre sonharam em risco.

Breve Comentário:

Vendido como um thriller erótico, Ato Noturno poderia ser bom. Com protagonistas ridiculamente atraentes, cenas de sexo bem coreografadas e realmente excitantes, e uma trama crível e bem desenvolvida, é um filme fácil de agradar. Mas Ato Noturno não é só bom; ele é excelente.

Escrito e dirigido pela dupla Marcio Reolon e Filipe Matzembacher, responsáveis por Tinta Bruta, grande vencedor do Festival do Rio em 2018, Ato Noturno, que chamou atenção ao integrar a programação da mostra Panorama na 75ª edição do Festival de Berlim, dobra de tamanho quando escolher não se conformar e caminhar pelo seguro — algo que nem combinaria com a ousadia de sua proposta.

Quando o espectador acha que está confortável e sabe como a história irá se desenrolar, a partir de um previsível ponto de ruptura, o longa toma novos e empolgantes rumos, que se estendem até o seu último momento, resultando em um final catártico para a história de Matias Rafael.

A Voz de Hind Rajab

Sinopse:

Vencedor do Leão de Prata, grande prêmio do júri na 82º Festival Internacional de Cinema de Veneza, A Voz de Hind Rajab narra a agonizante tentativa de voluntários da Cruz Vermelha de resgatar uma garota de apenas seis anos, presa em um carro em meio a um conflito em Gaza.

Breve Comentário:

Uma dramatização de eventos reais, A Voz de Hind Rajab é angustiante, assustador e difícil de assistir. A produção resgata um acontecimento de janeiro de 2024, em que a pequena Hind Rajab ficou presa no carro de sua família, com os corpos de seus tios e primos, após um ataque do exército israelense em Gaza.

O grande feito de A Voz de Hind Rajab é ser capaz de escancarar os horrores do conflito israelo-palestino, que faz novas vítimas a cada dia desde 2023, sem ser gráfico ou apelativo. O longa usa os áudios originais das ligações telefônicas da Cruz Vermelha para Hind Rajab e deixa toda a gravidade da situação transparecer na reação dos voluntários ao lidar com aquilo.

Assistir a esse filme é uma experiência desesperadora, de tensionar todos os músculos do corpo, mas também única e fundamental. Normalmente, sou contra dizer que um filme é “necessário”, mas A Voz de Hind Rajab é extremamente necessário. É uma chamada de atenção definitiva para os horrores que ainda estão acontecendo neste momento, além de um registro histórico, para que isso jamais seja esquecido ou se repita no futuro.

Ruas da Glória

Sinopse:

Em Ruas da Glória, após sofrer uma grande perda, Gabriel (Caio Macedo, Prédio Vazio) decide se mudar para o Rio de Janeiro e, em uma saída noturna, fica obcecado por Adriano (Alejandro Claveaux, Rensga Hits!), um misterioso e instável garoto de programa. Quando o rapaz desaparece sem deixar rastro, Gabriel inicia uma jornada perigosa para encontrá-lo, que pode lhe custar a própria vida.

Breve comentário:

Ruas da Glória lembra bastante Baby, um dos vencedores do prêmio principal do Festival do Rio em 2024: assim como no longa de Marcelo Caetano (Corpo Elétrico), o protagonista é um homem jovem, gay, inexperiente, inserido em ambientes que desconhece e não sabe como navegar, porque mal sabe quem realmente é.

Recém-chegado ao Rio de Janeiro após perder a avó que o criou, Gabriel está em busca de uma nova vida, que substitua aquela que agora está no passado. Ele é rapidamente acolhido por um grupo de pessoas como ele, incluindo a dona da boate Glória, Mônica (papel de estreia no cinema da cantora Diva Menner), uma figura materna para a comunidade local, que o trata como um de seus “filhos”.

No entanto, com pouquíssimas referências do que faz uma família e o que é o amor, Gabriel confunde o sentimento com desejo e cai na armadilha de Adriano, um rapaz que já se perdeu há muito tempo e não consegue mais encarar a realidade sem estar sob o efeito de drogas.

Ruas da Glória não é original, de fato, e é muito fácil julgá-lo como um clichê do gênero. Porém, um clichê só é um clichê quando se esgota e há histórias que devem ser contadas e recontadas, como a de Gabriel. O rapaz se envolve em experiências às quais qualquer homem jovem e gay, naquele período cinza de descoberta da própria sexualidade e de como se envolver com outras pessoas, está sujeito. E, assim como acontece com Gabriel, às vezes é preciso ouvir uma, duas, três ou mais vezes uma mesma coisa para, finalmente, entender o que ela significa.

Herança de Narcisa

Sinopse:

Herança de Narcisa conta a história de Ana (Paolla Oliveira, Vale Tudo), uma mulher que, assombrada pelas memórias de sua recém-falecida mãe, decide vender o casarão de infância que herdou e dividir o dinheiro com o irmão. No entanto, durante o processo de limpeza do imóvel, ela acaba descobrindo uma herança diferente da que imaginava.

Breve comentário:

Suspense ainda não é um dos gêneros mais proeminentes no Brasil, mas já nos entregou algumas grandes produções, como O Animal Cordial (2017), As Boas Maneiras (2017), Clube dos Canibais (2018) e, recentemente, Prédio Vazio (2025). Estreando no Festival do Rio 2025, Herança de Narcisa é mais um bom filme para a leva.

A novidade apresenta uma história que, a todo momento, nos leva a acreditar que se trata de mais um clichê do gênero: uma casa abandonada, perturbada por eventos sobrenaturais e repleta de segredos ocultos. No entanto, o grande trunfo do longa de Clarissa Appelt (A Casa de Cecília) e Daniel Dias está em subverter as expectativas, mudando toda a percepção da história.

Durante todo o filme, pistas são jogadas para o espectador: Diego (Pedro Henrique Müller, Orgulho e Paixão), irmão de Ana, relembra uma história de fantasmas contada pela mãe. Em outro momento, fala sobre demônios e outras criaturas sobrenaturais. Antes disso, uma vizinha chega a fazer uma limpeza espiritual na antiga mansão.

Porém, a verdadeira história de Herança de Narcisa está nas entrelinhas: um recado passando de geração para geração, uma foto esquecida em uma roupa antiga, a aparente apatia de Ana após supostamente enfrentar seres sobrenaturais… Ao final, o longa traz uma conclusão surpreendentemente emocionante e nos revela uma história muito mais profunda do poderíamos esperar.

Hamnet: A Vida Antes de Hamlet

Sinopse:

Hamnet: A Vida Antes de Hamlet acompanha Agnes (Jessie BuckleyEntre Mulheres), esposa de William Shakespeare (Paul Mescal, Todos Nós Desconhecidos), enquanto enfrenta a dor da perda de seu único filho, Hamnet, ao mesmo tempo em que revela o pano de fundo para a criação de Hamlet, uma das obras mais famosas do dramaturgo inglês.

Breve comentário:

As pessoas costumam dizer que a morte é a única certeza na vida e, frequentemente, esquecem que o amor é tão inevitável quanto. Nós nascemos amando. Não é algo que se aprende a fazer; a gente só ama. Em Hamnet: A Vida Antes de Hamlet, Chloé Zhao fala sobre a morte, sim, mas principalmente sobre o amor.

Baseada na teoria de que a morte de seu único filho homem, Hamnet, aos 11 anos de idade, inspirou a escrita de Hamlet, Maggie O’Farrell, responsável pelo livro que deu origem à obra e corroteirista da novidade, constrói, junto a Zhao, uma história com ares de conto de fadas, permeada pelo amor, especialmente o de Agnes, uma mulher que enfrentou as piores tragédias e, mesmo assim, não deixou o sentimento amargar em seu coração.

Maldita por aqueles que não a conhecem, mas acreditam que ela seja a filha de uma bruxa, Agnes, na verdade, é abraçada pela magia mais antiga e poderosa que existe: aquela que carrega pela mãe, falecida quando ainda era apenas uma menina; a que levou a se entregar a William Shakespeare e iniciar uma família; a que arrancou a filha do colo da Morte e lhe deu a oportunidade de continuar entre os vivos; e a que, eventualmente, curou as feridas abertas pela antiga inimiga, quando ela levou o seu pequeno Hamnet.

É praticamente impossível descrever a emoção provocada por Hamnet: A Vida Antes de Hamlet, algo que poucos cineastas seriam capazes de realizar. Zhao, que conquistou o mundo com o oscarizado Nomadland (2021) e foi capaz de injetar uma necessária humanidade no engessado Universo Cinematográfico da Marvel com o excelente Eternos (2022), é um desses poucos.

No momento decisivo do longa, a cineasta ainda atesta o poder da arte e, no seu tempo, com delicadeza e carinho, evoca um sentimento poderoso de identificação. Em parceria com a brilhante Jessie Buckley, em uma atuação inspiradora, Zhao nos coloca na pele de Agnes, aos pés do palco onde acontece a primeira encenação de Hamlet, para testemunhar como, além de entreter, a arte também é capaz de curar dores, ampliar e democratizar amores, e transformar o finito em infinito. Acredite: não há como ser o mesmo depois de Hamnet: A Vida Antes de Hamlet.

Twinless

Sinopse:

Em Twinless, abalado pela morte do irmão gêmeo, Roman (Dylan O’Brien, Maze Runner) se une a um grupo de apoio para pessoas que perderam seus gêmeos. Lá, ele conhece Dennis (James Sweeney, Almas Gêmeas), um jovem irônico e introvertido, com quem constrói uma amizade inesperada.

Breve comentário:

Usando o luto como fio condutor, Twinless é um filme que aborda a solidão a partir das diferentes perspectivas de seus protagonistas: primeiro, a de Roman, que perdeu a sua outra metade muito antes de sua morte e, por isso, sente-se culpado e incapaz de se perdoar; e Dennis, cuja solidão perpétua em sua vida o levou a um estado em que não há mais nada a perder. É nesse limbo que eles se encontram e acabam se tornando grandes amigos, além de apoio para superar um período delicado… Até que o filme vira a chave e se revela completamente diferente.

Com um roteiro razoavelmente inteligente e divertido, Twinless me conquistou, inicialmente, por sua delicadeza no ato de abertura, que mostra o encontro e o início da amizade entre Roman e Dennis. No entanto, quando o filme revela do que realmente se trata, ele se transforma no que eu costumo chamar de “filme bomba-relógio”, em que você sabe que as coisas vão dar errado e só espera para ver como. Há quem não se incomode com isso — e não é sempre que isso é uma questão para mim —, mas Twinless não é tão inteligente ou tão divertido assim para me manter interessado.

Se Eu Tivesse Pernas, Eu Te Chutaria

Sinopse:

No thriller cômico Se Eu Tivesse Pernas, Eu Te Chutaria, uma mãe se vê à beira de um colapso ao lidar com a doença misteriosa da filha, a ausência do marido e problemas em sua casa, que a forçam a morar em um hotel. Sem apoio algum, ela lida com a frustração, o desespero e o isolamento crescentes, numa tentativa de resolver a sua situação, que só se agrava a cada momento que passa.

Breve Comentário:

Se Eu Tivesse Pernas, Eu Te Chutaria é uma produção que abusa de suas possibilidades narrativas para justificar a sua proposta. Cada novo percalço no caminho de Linda (Rose ByrneAmor Platônico) cai como uma bomba, aumentando os seus níveis de estresse e cansaço a um ponto em que fica impossível entender como ela consegue continuar sem, de fato, colapsar.

Escrito e dirigido por Mary Bronstein — que também faz uma ponta como a terapeuta familiar de Linda, Dra. Spring —, o longa projeta toda a tensão e o estresse da personagem no espectador: são quase duas horas acompanhando a situação piorar por uma câmera fechada no desespero da protagonista e combinada a uma fotografia escura e pouco reveladora, que tornam a experiência desconfortável e sufocante.

Love Kills

Sinopse:

Ambientado em um centro de São Paulo devastado pelo crack, Love Kills acompanha uma jovem vampira, que assombra um café sujo e acaba encantando um garçom ingênuo. À medida que o rapaz descobre os segredos dela, assim como o submundo da cidade, ele começa a se atrair para um mundo perigoso de intrigas imortais, desafiando a própria moralidade.

Breve Comentário:

Embora seja empolgante ver uma história de fantasia como Love Kills ser produzida no Brasil, é frustrante ver como a novidade acaba apenas importando ideias de outras tantas produções estrangeiras do gênero e, infelizmente, caindo na mesmice, tanto em sua narrativa — com pouquíssima inspiração — quanto em sua execução.

Roteirizado e dirigido por Luiza Shelling Tubaldini (Perdida), com base na graphic novel homônima de Danilo Beyruth, Love Kills não traz frescor ao abordar o mito dos vampiros, mesmo em um cenário novo, interessante e cheio de possibilidades.

As criaturas ainda vivem em antigas e luxuosas mansões, usam trajes vitorianos ou — quando atualizados — em um estilo à la BDSM, e mantêm uma aversão ao sol, entre outros clichês. É até engraçado o acesso raivoso da protagonista, Helena (Thais Lago, DNA do Crime), quando o seu humano de estimação, o coprotagonista Marcos (Gabriel Stauffer, De Volta aos 15), sugere que eles tenham vindo da Romênia e devem temer a cruz. Bom, ele não estava errado de supor.

Virtuosas

Sinopse:

Lideradas pela admirável e inspiradora Virgínia Heinzel (Bruna Linzmeyer, Máscaras de Oxigênio Não Cairão Automaticamente), três mulheres se juntam a um retiro exclusivo com a finalidade de se tornarem melhores mulheres, esposas e mães. No entanto, acontecimentos perturbadores transformam a jornada em uma experiência perigosa e assustadora.

Breve Comentário:

Dirigido por Cíntia Domit Bittar (Círculos), com roteiro da cineasta com Fernanda De Capua (A História Delas), Virtuosas é bastante eficiente ao abordar as tradwives, uma vertente do conservadorismo contemporâneo composta por mulheres que, seguindo os preceitos da Bíblia, procuram ser perfeitas esposas e mães, rejeitando o feminismo por, supostamente, ser contra isso.

O movimento tem se popularizado nas redes sociais nos últimos anos e, no filme, vemos bons exemplos dessas mulheres, a começar pela líder, Virgínia Heinzel, que ganha a vida pregando os conceitos de uma “mulher virtuosa”, mesmo que não os siga tão fielmente quanto cobra de suas discípulas.

Há também aquela que genuinamente acredita que pode seguir os ensinamentos de Virgínia para ter uma vida perfeita e feliz; e, em contraponto, uma mulher exausta e infeliz, vencida por uma vida que não trouxe o que ela esperava, mas que se recusa a abandoná-la.

Através de Germina (Maria Galant, Inventário das Imagens Perdidas), uma mulher aparentemente perdida naquele ambiente, Virtuosas revela uma faceta da sociedade que, por mais absurda que possa parecer, existe bem debaixo do nosso nariz. Cada personagem é uma representação do que vemos no dia a dia e escolhemos ignorar.

Mais do que o filme em si, Virtuosas assusta por essa proximidade com uma realidade em que as pessoas acreditam e se sentem compelidas a fazer o que bem entender em nome de Deus, sem se preocupar com as consequências — até porque elas dificilmente vão existir, se considerarmos o perfil de quem normalmente prega pelo conservadorismo.

Virtuosas é um registro importante de um Brasil que, no futuro, deve ser estudado nas salas de aula. É também um alerta de que, às vezes, é melhor não ignorar totalmente a loucura do outro. Afinal, não é à toa que palhaços conquistam importantes espaços a cada dia que passa.

 

LEIA TAMBÉM: Pequenas Criaturas, Ato Noturno e mais vencedores do Festival do Rio 2025


Henrique Nascimento (@hc_nascimento)

Formado em Jornalismo pela Universidade São Judas, em São Paulo, Henrique Nascimento começou como estagiário na Veja São Paulo e passou por veículos como SBT, Exitoína, Yahoo! Brasil e UOL antes de se tornar coordenador do núcleo de cinema da Editora Perfil, que inclui CineBuzz, Rolling Stone Brasil e Contigo.

Continue Reading
Advertisement
Clique para comentar

Deixar uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Revista Plateia © 2024 Todos os direitos reservados. Expediente: Nardel Azuoz - Jornalista e Editor Chefe . E-mail: redacao@redebcn.com.br - Tel. 11 2825-4686 WHATSAPP Política de Privacidade