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Música

o festival que transformou Santo Antônio do Pinhal

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A terceira edição do Jazz na Serra, realizada entre 22 e 24 de agosto em Santo Antônio do Pinhal, interior de São Paulo, confirmou o que muitos suspeitavam: o jazz brasileiro tem força suficiente para mover montanhas e cidades inteiras. O que começou como uma iniciativa cultural modesta em 2019 se transformou em um evento promissor, reunindo grandes nomes como Hamilton de Holanda e Ellen Olériaem meio à exuberante Serra da Mantiqueira.

A magia do jazz brasileiro em ação

Três dias de clima agradável transformaram Santo Antônio do Pinhal em um verdadeiro palco a céu aberto. Famílias inteiras – crianças, pets, idosos – ocuparam as praças com cadeiras e cangas, carregando taças e garrafas de vinho, criando uma atmosfera única que ecoava a vibração de New Orleans em plena Serra da Mantiqueira. “É muito gostoso porque durante esses dias você via que era um público bem diverso: famílias jovens, famílias mais velhas, amigos, cachorro, criança correndo de um lado para o outro”, observou Pedro Pimenta, diretor do festival.

Hamilton de Holanda, bandolinista de renome internacional e vencedor de Grammys, trouxe ao festival a essência daquilo que torna o jazz brasileiro único no cenário mundial. “O ritmo é igual a tua língua”, explicou o músico durante o evento.

A gente tem um ritmo muito especial. A mistura que gerou o povo brasileiro é muito especial, e isso se reflete na música.

Esta observação de Holanda revela o coração pulsante do Jazz na Serra: a celebração da brasilidade através da linguagem universal do jazz. O músico, que recentemente lançou o álbum Live in NYC (gravado no lendário Jazz at Lincoln Center), encontrou no público pinhalense a mesma conexão que conquistou plateias internacionais.

Hamilton de Holanda – Foto: Daniel Akamine

Curadoria que faz a diferença

A seleção dos artistas coube ao trombonista capixaba Joabe Reis, que assumiu a curadoria com uma visão clara: exaltar o músico e a música brasileira. “São artistas de jazz que exaltam a música brasileira, e eu também sou um cara que, como instrumentista, venho reforçando muito esse assunto por onde passo, que a música brasileira tem uma força e que vai dominar o mundo um dia”, afirmou Reis.

Com 21 anos de carreira e experiência em festivais nacionais e internacionais, Reis construiu uma programação que equilibrou tradição e vanguarda. “Foram muito positivos e assertivos também todos os shows que aconteceram aqui nesses três dias”, avaliou o curador, claramente satisfeito com o resultado. O line-up incluiu seu próprio grupo, o Dejavu Session, projeto que reúne mensalmente 11 dos principais músicos da cena instrumental brasileira em formações sempre renovadas, a Regional Ginga Ligeira, Thiago Espírito Santo & Grupo, Hamilton de Holanda Trio, Ellen Oléria, Sintia Piccin Sexteto, Salomão Soares & Vanessa Moreno, o Trio Corrente e a Americana Jazz Big Band, que fechou esta edição com a participação grandiosa de Odara.

Ellen Oléria – Foto: Daniel Akamine

O impacto cultural e econômico

Pedro Pimenta, diretor do evento e ex-secretário de turismo e cultura da cidade, testemunhou uma transformação que vai além dos palcos. “A gente esperava um grande público, mas não esperava tão grande”, admitiu. Pessoas de diversas cidades viajaram exclusivamente para o festival, aproveitando a tradicional vocação turística que Santo Antônio do Pinhal já possui durante o inverno.

Pimenta explicou o impacto positivo na economia local. A cidade, conhecida por receber grandes fluxos turísticos na temporada de inverno, agora promete continuar atraindo visitantes durante a época do festival, consolidando um novo período de alta temporada.

O festival ocupou estrategicamente o centro histórico da cidade, fortalecendo o comércio em detrimento de estruturas temporárias. “A ideia não é fazer um festival que poderia acontecer em qualquer lugar”, explicou Pimenta. “A ideia é ser aqui, ocupar o centro da cidade”.

Público no Jazz da Serra – Foto: Daniel Akamine

Esta filosofia de integração cidade-festival gerou um impacto econômico significativo, movimentando desde a rede hoteleira até restaurantes e estabelecimentos diversos. Mais importante, criou um modelo sustentável de economia criativa para uma cidade de apenas 7 mil habitantes.

Realizado com recursos da Política Nacional Aldir Blanc através do ProAC Editais, o Jazz na Serra representa mais do que entretenimento: é um ato de resistência cultural. Em tempos de cortes no setor, iniciativas como esta demonstram a viabilidade e a importância do investimento público em cultura.

O evento ofereceu acesso gratuito e implementou medidas de acessibilidade, incluindo interpretação em Libras.

Perspectivas futuras

O sucesso da terceira edição já garantiu a continuidade do projeto. Joabe Reis menciona planos para abertura internacional nas próximas edições, enquanto Pimenta trabalha em parcerias estratégicas, incluindo possíveis lounges patrocinados.

Hamilton de Holanda, por sua vez, já trabalha em novo material com “pegada mais dançante”, inspirado em Jorge Ben. O músico tocou pela primeira vez a composição “Som de Baile” e explicou. “A gente quer fazer um disco inspirado no Baile do Almeidinha que eu tinha, que a gente fazia lá no Circo Voador”.

Para Hamilton, a receptividade da nova música foi um termômetro importante: “Eu senti que pegou, sabe por que senti que pegou? Porque a gente tava tocando na passagem de som, e aí o cara que tava fazendo o som, que não é da nossa equipe, não tava preocupado… Quando a gente tocou essa música, ele já começou a dançar. Eu falei, se o técnico tá na vibe, é porque a música pegou”.

O jazz que transforma

O Jazz na Serra 2025 provou que iniciativas culturais bem estruturadas podem transformar realidades locais sem perder autenticidade. Ao combinar excelência artística, sustentabilidade econômica e compromisso social, o festival se estabelece como referência no cenário nacional.

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