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Música

Wolf Alice fala à Rolling Stone Brasil sobre seu novo disco, The Clearing

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Há algo de libertador na conversa com Theo e Joel, do Wolf Alice, mesmo que seja através de uma tela. A banda inglesa formada em 2010, conquistou uma posição única no cenário musical britânico: são os mesmos que começaram com folk suave e evoluíram para um rock poderoso que lhes rendeu um Mercury Prize em 2018 com Visions of a Life e um BRIT Award em 2022 por Blue Weekend.

Agora, com The Clearing  (seu quarto álbum de estúdio) Ellie Rowsell (vocal), Theo Ellis (baixo), Joel Amey (bateria) e Joff Oddie (guitarra) apresentam mais uma reinvenção sonora. Entre comentários sobre o disco, piadas sobre carros elétricos e a promessa de finalmente tocarem no Brasil, os músicos revelam a essência por trás deste novo trabalho, um álbum que marca não apenas uma evolução sonora, mas uma aceitação da maturidade que os últimos dez anos de estrada trouxeram.

“É uma sensação estranha estar lançando algo novo depois de tudo que passamos”, confessa Theo, referindo-se a uma jornada intensa de dez anos que moldou reflexões do álbum. Do estúdio de Greg Kurstin em Los Angeles às memórias das falésias de Seven Sisters onde se conheceram, a conversa revela uma banda em pleno processo de autodescoberta.

O Tempo Como Protagonista

RS: The Clearing foi escrito após três anos de hiato. Como a pandemia e esse período de reflexão influenciaram as letras e temas do álbum?

“É mais sobre nosso desenvolvimento pessoal”, explica Theo quando questionado sobre o período de três anos entre Blue Weekend e o novo trabalho. Mas essa reflexão vai além da pausa pandêmica. “Não é necessariamente uma reflexão sobre essa época entre os álbuns, mas sobre como nossas vidas mudaram nos últimos dez anos”, pontua.

O que emerge dessa conversa é uma banda que aprendeu a abraçar a dualidade de sua existência: a vida doméstica e pessoal versus a versão performática que apresentam ao mundo. “A performance é um grande tema deste álbum”, revela Theo, “e como crescer como performer, ser mais corajoso para fazer coisas, se sentir confortável para tentar”.

Los Angeles, a cidade dos sonhos

RS: Gravar em Los Angeles com um produtor vencedor do Grammy deve ter sido diferente de tudo que fizeram antes. Como Greg Kurstin ajudou a moldar o som de The Clearing?

Trabalhar com Greg Kurstin – o produtor por trás de sucessos de Adele, Beck, Paul McCartney e Foo Fighters – em Los Angeles representou mais que uma mudança geográfica, foi uma transformação na forma de criar.

Joel: “Ele nos fez sentir tão confortáveis para fazermos o nosso melhor, e isso é o sinal de um ótimo produtor. Se você quiser, Greg pode escrever suas músicas para você, e elas serão muito boas, mas esse não é o nosso jeito. Ele estava lá para tirar o melhor de nós”.

O resultado é um álbum que mantém a essência do Wolf Alice enquanto explora territórios mais serenos. “Ainda me sinto como Wolf Alice“, enfatiza Theo. “Tem momentos em que eu ouço o Wolf Alice nesse álbum. É diferente, talvez não tão rock, mas me sinto puramente como Wolf Alice“.

Joel Encontra Sua Voz

RS: Joel, “White Horses” marca seu primeiro momento como vocalista principal no álbum. Foi intimidante compartilhar esse espaço vocal com a Ellie? E como isso mudou a dinâmica criativa da banda?

Joel: “Estou em uma banda com alguém que não é apenas minha amiga, mas alguém que eu pessoalmente vejo como uma das maiores vocalistas do nosso tempo”, diz sobre Ellie Rowsell.

A dinâmica colaborativa da banda se revela nesse processo:

Ellie é a pessoa mais generosa que você vai encontrar quando se trata de criatividade. É tudo sobre colaboração, sobre nos envolver.

Entre Seven Sisters e a Califórnia

“Didn’t make it out to California / Where I thought I might clean the slate / Feels a little like I’m stuck in Seven Sisters / North London, oh England / And maybe that’s ok”

“Não consegui ir para a Califórnia / Onde pensei que poderia recomeçar / Parece um pouco como se estivesse preso em Seven Sisters / Norte de Londres, oh Inglaterra / E talvez esteja tudo bem”

(trecho da música “The Sofa”)

RS: “The Sofa” fala sobre não conseguir chegar à Califórnia e estar em Seven Sisters e a região norte de Londres. A música menciona estar “preso” entre esses dois mundos, as ambições globais e as raízes. Como vocês equilibram essa nostalgia com o sucesso que alcançaram?

As Seven Sisters – falésias de giz na costa do Canal da Mancha, em East Sussex – foram onde a banda se conheceu no passado. Hoje, no presente, eles vivem no norte de Londres. Theo explica que a Califórnia funciona como um “eufemismo para objetivos” na cultura musical, especialmente pela história dos estúdios de gravação. “Às vezes é bom se refletir, ficar feliz e sentar no seu sofá, enquanto ainda quer conquistar o mundo”, resume a filosofia da faixa.

A Energia Transformada

Se Blue Weekend era mais cru e rock’n’roll, The Clearing aposta numa energia diferente, mais melódica, e por vezes lembra até mesmo uma country-music americana.

RS: Essa mudança reflete maturidade pessoal dos quatro membros ou foi uma escolha puramente estética?

Theo: A energia que perseguimos foi uma reação a músicas como ‘Delicious Things’ e ‘The Last Man on Earth’. A energia delas em ambiente ao vivo era as pessoas cantando as palavras de volta, esse intercâmbio comunal entre público e palco”.

É uma evolução que pode inicialmente dividir fãs antigos, como o próprio baixista reconhece: “Se você é fã do Wolf Alice até agora, muita gente pode não gostar desse álbum inicialmente. Sempre há um período de adaptação quando as pessoas se acostumam com algo novo”.

Durante a entrevista, Joel nota minha camiseta do Bad Seeds e usa a referência para explicar melhor essa transformação: “Nick Cave é um bom exemplo. Adoro The Birthday Party e adoro Bad Seeds, mas ele se transformou em uma coisa totalmente diferente. Mais em poesia, de uma forma diferente, mas o sentimento é o mesmo. É como uma evolução”.

O Brasil no Horizonte

Entre todas as revelações, talvez a mais aguardada pelos fãs brasileiros seja a confirmação de que a banda finalmente tem planos de tocar no país. “É realmente estranho que ainda não estivemos aí”, admite Joel. “Vamos tocar alguns shows lá em algum momento, só não sabemos quando”.

Um Respiro Profundo

RS: Se vocês pudessem definir The Clearing com uma única imagem ou sensação para alguém que nunca ouviu Wolf Alice antes, o que seria? E o que mais querem que os fãs sintam ao ouvir este álbum?

Theo: “Um respiro profundo ou aquele momento quando você percebe que está um pouco maníaco e tira um tempinho para si”.

Joel: “É um álbum de viagem, algo para ser ouvido do começo ao fim. Eu não dirijo direito, mas eu fico dizendo que isso é um ‘álbum de dirigir’,

Theo: “Terrível para o ambiente, mas eu acho que todos deveriam ouvir isso em um carro. Não comprem um carro ou comprem um carro elétrico. E se alguma marca quiser me contratar para promover seus veículos elétricos, me avisem”, brinca.

Joel: “Se as pessoas conseguirem encontrar tempo no seu dia para fazer algo não só para elas, mas para se conectar com arte, se conseguirem fazer isso em vez de ouvir um podcast por uma hora, isso seria incrível para mim”.

A Maturidade Sem Pressa

The Clearing não é apenas um novo capítulo na discografia do Wolf Alice, é o som de uma banda que aprendeu a aceitar sua própria evolução. Como na analogia que Joel fez sobre Nick Cave & The Bad Seeds durante nossa conversa, eles mantêm a intensidade enquanto exploram novos territórios sonoros.

É esse equilíbrio entre familiaridade e descoberta que faz do novo álbum não apenas uma progressão natural, mas uma declaração de que algumas das melhores transformações acontecem quando paramos de forçar e simplesmente deixamos fluir. Como na vida, como na música, como numa boa conversa numa tarde qualquer.

The Clearing é um lançamento da Sony Music e já está disponível em todas as plataformas de streaming.

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