Celebridade
‘Foi um divisor de águas’

A atriz Ludmila Dayer relembra bastidores do clássico filme Carlota Joaquina, Princesa do Brazil e revela descoberta inusitada com produção
Três décadas depois de viver a pequena Carlota Joaquina no icônico filme Carlota Joaquina, Princesa do Brazil (1995), dirigido por Carla Camurati, Ludmila Dayer (42) se emocionou ao reencontrar seu passado nas telonas.
O longa, que será relançado nos cinemas em 14 de agosto, marcou não apenas a infância da atriz, mas também transformou sua trajetória pessoal e profissional. Ludmila, que tinha 10 anos na época das filmagens, revelou bastidores inéditos e tocantes, além de refletir sobre o impacto duradouro da obra em sua vida.
“Foi uma oportunidade não só de pensar no meu caminho profissional, mas também em como me transformei em ser humano. O Carlota mudou meu curso ali. Tudo poderia ter sido diferente na minha vida se não tivesse acontecido o Carlota Joaquina. Foi um divisor de águas”, declarou a atriz durante a coletiva de imprensa que celebrou o relançamento do filme, ao lado de Marieta Severo, Marco Nanini, Marcos Palmeira, da diretora Carla Camurati e da produtora Bianca de Felippes.
Um encontro com o passado
Ao rever o longa no cinema, Ludmila foi surpreendida por uma sensação única de distanciamento e admiração pela própria performance.
“É muito emocionante e é engraçado que eu nunca esqueci as falas do filme. Nenhum outro personagem meu eu lembro as falas, mas o Carlota eu nunca esqueci, porque foram dois meses de aula particular intensa de inglês e espanhol para aprender as falas do filme, o acento, o sotaque. Então ficou na minha cabeça. Engraçado que ontem, vendo o filme, eu assisti com outro olhar. Primeiro, eu não me reconheci, não fiz nenhuma conexão comigo. É como se eu tivesse assistido a outra pessoa, zero conexão. Foi interessante porque eu pude ver o filme como espectadora mesmo, até na minha parte. Inclusive, gostei muito de mim”, disse ela, sorrindo.
Sentada ao lado de Marieta Severo e Marco Nanini durante a exibição, Ludmila não conteve a emoção.
“Eu queria abraçar os dois o tempo inteiro, porque eu pensava: ‘Meu Deus, como eles são excelentes’. Fiquei emocionada e muito arrepiada.”
A escolha inesperada
A história de como Ludmila foi escolhida para o papel é quase cinematográfica. Bianca de Felippes, produtora do filme, contou que procurava uma menina para o papel em aulas de dança espanhola, quando se deparou com Ludmila por acaso.
Leia também: ‘Carlota Joaquina’ volta aos cinemas e elenco garante: ‘O filme continua atual’
“Fui a várias escolas de espanhol e de dança espanhola, casas de cultura, e fiquei sabendo que havia uma freira que dava aula de dança espanhola no Flamengo e que tinha uma menina filha de espanhóis. Fui ver essa menina, mas não era a Ludmila. Quando cheguei para assistir à aula, a Ludmila fez a aula inteira para mim. Eu nem sei qual é a cara da outra menina, porque só olhei para a Ludmila. Fiquei completamente apaixonada e cheguei para a Carla e falei: ‘Olha, achei, é ela. Já falei com a mãe, já marquei amanhã’. A mãe da Ludmila achou que era trote”, contou.
A própria Ludmila relembra o momento com humor e ternura: “Eu achei que estava sendo solidária, mas a Bianca [de Felippes] falou: ‘Não, você foi lá e pegou o papel para você’.”
Energia mágica no set
Durante as filmagens, Ludmila se sentiu imersa em um universo lúdico e encantado, um sentimento que, segundo ela, foi compartilhado por toda a equipe.
“Quando entrei no set, senti que fui teletransportada para esse universo. Primeiro, aquelas roupas todas que a gente usava no meio do Rio de Janeiro, todo mundo caracterizado, já me transportaram, como se eu tivesse saído da minha realidade. Sentia que todos os envolvidos estavam realmente em um lugar meio suspenso. Tudo era tão real, havia tanta vontade de dar certo, e todos estavam tão entregues à sua personagem, ao filme, à proposta, que, desde a equipe até nós, atores, vivíamos em uma realidade paralela. E eu, como criança, entrei nisso. Era o melhor lugar do mundo para se estar, para mim. Quando as filmagens acabaram, chorei muito, porque percebi que não havia outro lugar no mundo onde eu quisesse estar”, relembrou emocionada.
Ela ainda fez questão de mencionar o carinho que desenvolveu pela diretora: “Fiquei muito mal por ter me separado da Carla [Camurati], porque ela virou meio que minha mãe.”
Um aprendizado para a vida
Mesmo sem dividir cena diretamente com os grandes nomes do elenco, Ludmila conta que sempre carregou a responsabilidade de estar à altura do projeto: “Mesmo não contracenando diretamente com eles, eu sempre tive um senso de responsabilidade de que estava trabalhando com os melhores do Brasil, da nossa arte, e que precisava dar o meu melhor. Eu era muito exigente. Lembro direitinho desse senso de responsabilidade para honrar todos que faziam parte desse projeto.”
Ao refletir sobre o impacto da obra, ela conclui: “Acho que essa leveza que colocamos nos personagens, que trouxe irreverência, comédia, veio muito da energia que havia no set. Vivíamos constantemente essa energia. Era leve e real. Tudo era feito com muita alma.”
CONFIRA PUBLICAÇÃO RECENTE DA CARAS BRASIL NAS REDES SOCIAIS:
O que o filme Carlota Joaquina, Princesa do Brazil retrata?
‘Carlota Joaquina, Princesa do Brazil’ é uma comédia satírica que narra a história da princesa espanhola Carlota Joaquina, desde seu casamento arranjado na infância com o tímido príncipe português Dom João, até sua chegada ao Brasil com a fuga da corte portuguesa no início do século XIX.
O filme usa um tom irreverente e bem-humorado para contar como a corte real, cheia de intrigas, privilégios e personagens caricatos, se muda às pressas para o Rio de Janeiro para escapar das ameaças de Napoleão Bonaparte. A partir desse evento histórico, que transformou a colônia em sede do império, a narrativa acompanha as aventuras de Carlota, uma mulher ambiciosa e cheia de personalidade, que vive um casamento infeliz e se depara com a chance de ascender ao poder em um novo mundo.
Lançado em 1995, o filme é um marco do cinema brasileiro pós-Retomada e ficou conhecido por sua linguagem inovadora e por misturar fatos históricos com uma boa dose de ficção e deboche, convidando o público a rir e refletir sobre as origens do Brasil.
