Celebridade
‘Batalhei bastante para fazer o filme’

Protagonista de ‘Carlota Joaquina, Princesa do Brazil’, Marieta Severo relembra desafios e improvisos do filme, que retorna aos cinemas 30 anos após a estreia
Anos depois da estreia de Carlota Joaquina, Princesa do Brazil (1995), Marieta Severo (78) reviveu com emoção de uma de suas personagens mais irreverente. Ao lado de nomes como Marco Nanini, Ludmila Dayer, Marcos Palmeira, a atriz participou da coletiva que marcou o relançamento do longa nos cinemas com cópia restaurada em 14 de agosto.
A emoção tomou conta da sala: “Eu não tinha revisto o filme. Realmente, há 30 anos eu não via o filme. A primeira sensação foi de vibrar com o que a gente fez ali. Ver que ele ia chegar a essa plateia agora com o mesmo vigor, com a mesma força que chegou há 30 anos atrás. Eu tive certeza disso”, afirmou.
“Batalhei bastante para fazer o filme”
Durante o bate-papo, Marieta relembrou as dificuldades enfrentadas pela produção, num período delicado para o cinema brasileiro. Em 1990, a Embrafilme foi extinta durante o governo Fernando Collor, dentro do Programa Nacional de Desestatização, onde impactou diretamente a produção de filmes nacionais. O filme Carlota Joaquina, Princesa do Brazil foi uma retomada de projetos nacionais e se tornou um grande sucesso de bilheteria.
“Eu lembro do enorme entusiasmo da Carla [Camurati] conduziu a gente o tempo todo, num momento de adversidade. (…) O tempo todo a gente via que tinha todas as dificuldades financeiras possíveis, mas havia uma paixão enorme por contar essa história do jeito que a Carla queria”, disse.
Mesmo com obstáculos, a atriz nunca perdeu o desejo de interpretar a personagem: “Como eu costumo dizer para a Carla, batalhei bastante para fazer o filme. Fiz muito teste de espanhola e me atraquei no personagem. Eu queria muito fazer e acho que eu estava certa.”
O bigode, o humor e a liberdade cênica
Um dos símbolos da personagem, o bigode, também foi pauta da conversa, com direito a gargalhadas. “Eu adorava, ficava colocando bastante bigode. Teve uma hora que a Carla falou: ‘Marieta, você está parecendo o Pepe Legal com tanto bigode’”, brincou.
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Sobre o tom ousado da produção, Marieta exaltou a liberdade artística: “É uma maravilha quando você tem esse campo ilimitado, que é exatamente onde pode chegar aos extremos. (…) É muito bom quando você pode ousar, abusar, inventar, criar tons que não estão simplesmente ligados a transmitir aquela verdade crua do personagem. É maravilhoso para gente brincar.”
Estudo profundo e tom irreverente
Embora o filme seja recheado de humor, Marieta fez questão de destacar a seriedade com que todos encararam o projeto: “A gente estudou muito a história dessas figuras. Estudamos muito, muito, muito, sabendo exatamente onde estávamos pisando. (…) E, por isso, fomos buscando os tons que serviam para contar essa história dessa maneira: jocosa, engraçada, divertida, com esse olhar irreverente para a nossa história”, pontuou.
A atriz também elogiou a escolha narrativa de incluir o ponto de vista de uma criança: “Inclusive, acho uma ótima esperteza do roteiro ter colocado o olhar da menina. Isso abre… essa menina que ouve a história, se fantasia, acha que é a Carlota… A partir daí, tudo é permitido.”
A cena do touro: improviso virou clássico
Um dos momentos mais curiosos do reencontro foi a lembrança de uma cena improvisada no set: “Era uma cena em que a Carlota se defronta com a esposa do amante dela. (…) A Carla me chama e fala: ‘Faz uma coisa. Vai ali pra frente, aperta a câmera… e faz como se fosse um touro. Como numa tourada’”, contou aos risos.
“Eu: ‘Hã? Desculpa, não entendi. Como é que é mesmo?’ Ela: ‘É fazer. Vambora!’ E aí ficou uma cena interessantíssima no filme. Isso mostra essa capacidade dela [diretora] de lidar com a diversidade”, completou.
Uma obra atemporal
Ao reassistir o longa após tanto tempo, Marieta concluiu com orgulho: “Naquela época, a gente falava da nossa história, da nossa formação, de quem somos, de onde viemos. Fizemos tudo com muita seriedade. (…) Foi muito, muito bonito. Acho que é um momento muito especial para a gente, poder ter tido a chance de fazer esse filme e vê-lo ocupar novamente o espaço que acho que vai ocupar.”
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O que o filme ‘Carlota Joaquina, Princesa do Brazil’ retrata?
‘Carlota Joaquina, Princesa do Brazil’ é uma comédia satírica que narra a história da princesa espanhola Carlota Joaquina, desde seu casamento arranjado na infância com o tímido príncipe português Dom João, até sua chegada ao Brasil com a fuga da corte portuguesa no início do século XIX.
O filme usa um tom irreverente e bem-humorado para contar como a corte real, cheia de intrigas, privilégios e personagens caricatos, se muda às pressas para o Rio de Janeiro para escapar das ameaças de Napoleão Bonaparte. A partir desse evento histórico, que transformou a colônia em sede do império, a narrativa acompanha as aventuras de Carlota, uma mulher ambiciosa e cheia de personalidade, que vive um casamento infeliz e se depara com a chance de ascender ao poder em um novo mundo.
Lançado em 1995, o filme é um marco do cinema brasileiro pós-Retomada e ficou conhecido por sua linguagem inovadora e por misturar fatos históricos com uma boa dose de ficção e deboche, convidando o público a rir e refletir sobre as origens do Brasil.
Elenco principal de ‘Carlota Joaquina, Princesa do Brazil’
Marieta Severo – Carlota Joaquina
Marco Nanini – D. João VI
Ludmila Dayer – Yolanda/Carlota menina
Marcos Palmeira – D. Pedro I
