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Epidemia da solidão afeta corpo e mente de forma silenciosa

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Ficar sozinho de vez em quando pode ser bom. Um tempo para pensar, descansar ou simplesmente curtir a própria companhia. Mas e quando esse isolamento vira rotina? Um estudo recente publicado na revista “PLOS One” acendeu o alerta: a epidemia da solidão está afetando milhões de pessoas e trazendo consequências reais para a saúde física e mental.

A pesquisa analisou dados de mais de 47 mil adultos nos Estados Unidos e revelou que quatro em cada cinco pessoas relataram algum grau de solidão. E não é só tristeza passageira —quem se sente “sempre” solitário apresenta, em média, 10,9 dias a mais de problemas de saúde mental por mês e cerca de cinco dias a mais de sintomas físicos, como fadiga e dores.

Efeitos da solidão são equivalentes a fumar 15 cigarros por dia, segundo a OMS
Efeitos da solidão são equivalentes a fumar 15 cigarros por dia, segundo a OMS – Jacob Wackerhausen/iStock

O impacto é tão significativo que especialistas já consideram a solidão um fator de risco comparável ao tabagismo e à obesidade. E, com o envelhecimento da população e o aumento do uso de tecnologias que substituem o contato humano, o problema tende a crescer ainda mais.

Solidão afeta o corpo como uma doença silenciosa

A epidemia da solidão não se limita ao campo emocional. Estudos mostram que o isolamento prolongado pode aumentar o risco de doenças cardiovasculares, AVC, diabetes tipo 2 e até demência. A falta de conexões sociais afeta o sistema imunológico, eleva os níveis de inflamação no corpo e pode até alterar a estrutura cerebral.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), os efeitos da solidão são equivalentes a fumar 15 cigarros por dia. Isso porque o estresse gerado pela ausência de vínculos sociais interfere diretamente na regulação hormonal, no sono e na saúde mental.

Além disso, pessoas solitárias tendem a adotar hábitos menos saudáveis, como sedentarismo, alimentação desequilibrada e uso excessivo de telas. É um ciclo vicioso: quanto mais isolada a pessoa está, menos motivação ela tem para cuidar de si mesma —e isso só piora o quadro.

Mulheres e idosos são os mais afetados

O estudo da PLOS One também revelou que mulheres apresentam uma probabilidade maior de depressão e mais dias de saúde mental comprometida em todos os níveis de solidão. Já os idosos que vivem sozinhos estão entre os grupos mais vulneráveis, especialmente com o avanço da idade e a perda de vínculos familiares.

A OMS estima que um em cada quatro idosos esteja socialmente isolado. E, com o aumento da expectativa de vida, esse cenário representa um desafio crescente para políticas públicas voltadas à saúde mental da terceira idade.

Mas a solidão não escolhe idade, classe social ou localização. Jovens também estão cada vez mais solitários, especialmente em países de baixa e média renda, onde o acesso a espaços de convivência é limitado.

A solidão como questão de saúde pública

Diante dos dados, especialistas defendem que a epidemia da solidão seja tratada como prioridade nos planejamentos de saúde pública. O autor principal do estudo, Oluwasegun Akinyemi, da Universidade Howard, nos Estados Unidos, afirma que é preciso implementar exames de rotina para identificar indivíduos em risco e promover ações de prevenção.

Essas ações incluem programas de apoio social, fortalecimento de vínculos comunitários e criação de espaços de convivência. A ideia é que o combate à solidão não dependa apenas de soluções individuais, mas de iniciativas coletivas que promovam o pertencimento.

Alguns países já estão se movimentando. O Japão, por exemplo, criou o Ministério da Solidão em 2021 para enfrentar o problema. No Brasil, algumas unidades básicas de saúde oferecem atividades como caminhadas, meditação e grupos de conversa — iniciativas que podem fazer toda a diferença.

Conexões sociais são remédio para o bem-estar

A boa notícia é que há caminhos para enfrentar a solidão. Estudos mostram que até mesmo interações casuais — como conversar com o barista do café ou trocar uma ideia com o vizinho —podem melhorar o humor e aumentar a sensação de pertencimento.

Além disso, vínculos sociais profundos, como amizades verdadeiras e relações familiares saudáveis, são considerados os maiores preditores de felicidade e saúde a longo prazo. A Universidade Harvard, por exemplo, mantém há décadas um estudo que aponta os relacionamentos como o principal fator de bem-estar na vida adulta.

Buscar ajuda profissional também é essencial. A psicoterapia oferece um espaço seguro para compreender os sentimentos de isolamento e desenvolver estratégias para se reconectar com o mundo. E, claro, pequenas atitudes diárias — como sair de casa, praticar empatia e limitar o uso de redes sociais — podem ajudar a quebrar o ciclo da solidão.

A epidemia invisível que precisa ser enfrentada

A epidemia da solidão é silenciosa, mas seus efeitos são profundos. Ela compromete a saúde, reduz a qualidade de vida e pode até antecipar a morte. Mas, ao contrário de outras doenças, seu tratamento começa com algo simples: conexão.

Criar espaços de escuta, promover encontros reais e valorizar os vínculos humanos são atitudes que podem transformar vidas. Porque, no fim das contas, ninguém deveria enfrentar o mundo sozinho.



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