Música
Wet Leg troca vestidos por armadura no feroz e apaixonado moisturizer

Elas surgiram como duas garotas em vestidos longos de fazendeira, cabelos trançados com fitas fofas e guitarras afiadas que falavam sobre dates fracassados, caras esquisitos e o prazer de zombar das relações modernas sob a ótica feminina. Uma versão contemporânea de algo que sempre nos foi negado: indie feito por mulheres que não pedem licença pra rir, gritar, chutar ou terminar antes mesmo de começar. No disco de estreia, a Wet Leg soava como um alívio: finalmente alguém dizendo tudo aquilo que a gente sempre pensou.
Mas agora a coisa evoluiu. Os laços foram desfeitos, as saias camponesas ficaram no passado, e deram lugar a uma versão levemente esportiva, a micro shorts e looks modernosos da Miu Miu, cabelo rosa, sobrancelha descolorida e uma presença de palco mais feroz do que nunca. Rhian Teasdale assume de vez o controle da narrativa com uma postura empoderada, intensa e teatral, enquanto Hester Chambers — sempre mais reservada — recua elegantemente, abrindo espaço para que os músicos da turnê (e agora da formação oficial) brilhem como nunca. Henry Holmes (bateria), Ellis Durand (baixo) e Joshua Mobaraki (sintetizadores e guitarras) ajudam a moldar um som mais coeso, encorpado e com cara de banda real.
moisturizer, o segundo álbum, que chega nesta sexta-feira (11), não apenas mantém os riffs grudentos e o sarcasmo afiado, ele adiciona camadas emocionais inesperadas. O disco fala de amor, mas de um jeito que não soa piegas nem ingênuo. Em “CPR”, Rhian berra “I… I’M IN LOVE!” como se fosse um pedido de socorro, e talvez seja mesmo, seria normal sentir isso? Preciso de ajuda? Já em “catch these fists”, ela rebate a cultura do macho moderno com uma ironia certeira: ele bebe cidra de frutas vermelhas, sem chance! Algo parecido acontece em “mangetout”, quando ela pergunta: “você me acha bonita? Quer trepar comigo? Porque a maioria quer” e na sequência é algo na linha de “dá o fora, some daqui”.
A faixa “pillow talk” é um dos pontos altos: os vocais flutuam sobre um instrumental distorcido que remete ao Sonic Youth, com arranjos mais complexos e um senso de tensão quase sensual. É uma canção que parece estar sempre prestes a implodir, e é aí que mora sua beleza. Já “pokemon” e “davina mccall” trazem a leveza pop e as referências culturais divertidas que ainda marcam a identidade da banda. A balada “11:21” mostra um lado mais etéreo e vulnerável, enquanto “u and me at home” encerra o disco com uma nota agridoce, quase nostálgica: o que acontece depois que a piada dá certo? A piada no caso, era começar essa banda.
A capa do disco resume bem esse novo momento: versões caricatas, ferozes e um tanto monstruosas das duas vocalistas, como se elas mesmas estivessem zombando da própria ascensão meteórica. É bonito? Talvez não da forma convencional. Mas é forte, provocativo, moderno e cheio de propósito.
moisturizer exala confiança. É um passo à frente elegante, sem perder a mordacidade do debut. Um disco que dança entre sarcasmo e sinceridade, desejo e raiva, com firmeza e muita atitude.
O segundo disco da Wet Leg, moisturizer, estará disponível em todas as plataformas a partir de sexta-feira, 11 de julho.
Tracklist:
1. CPR
2. liquidize
3. catch these fists
4. davina mccall
5. jennifer’s body
6. mangetout
7. pond song
8. pokemon
9. pillow talk
10. don’t speak
11. 11:21
12. u and me at home