Música
‘Sem a família, o mundo nunca o conheceria’, afirma diretor de documentário sobre Andy Warhol

Andy Warhol, um dos artistas mais amados e odiados do século XX, ícone cultural e figura central em inúmeras polêmicas, é apresentado sob uma perspectiva inédita no documentário Andy Warhol – Um Sonho Americano, do cineasta eslovaco Ľubomír Ján Slivka,que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, dia 19 de junho, com distribuição da Autoral Filmes.
O documentário revela o menino Andrij, filho de imigrantes rutenos, profundamente ligado à família e à fé. Em entrevista exclusiva à Rolling Stone Brasil, o diretor conta que a obra nasceu do desejo de revelar uma parte quase apagada da biografia de Warhol: suas origens eslovacas. “A famosa frase do Andy, ‘Eu venho de lugar nenhum’, foi o ponto de partida para o nosso documentário”, explica Slivka. Confira a seguir a entrevista na íntegra:
As raízes esquecidas de um gênio pop
A ideia do filme surgiu da necessidade de lançar luz sobre a história que o próprio Warhol, muitas vezes, silenciava. Os pais do artista nasceram em Miková, uma pequena vila no leste da atual Eslováquia. A família Warhol (ou Warhola) era parte da minoria ruteniana, e embora Andy e seus irmãos tenham nascido em Pittsburgh, sua herança cultural permaneceu presente.
Durante o regime comunista, a Pop Art foi excluída dos currículos universitários por ser considerada “ocidental demais”. Para Slivka, era hora de contar essa parte da história. A equipe viajou entre os continentes e conheceu diversos membros da família Warhol: primos, sobrinhos, descendentes de segunda e terceira gerações.
Todos foram extremamente receptivos e gentis. É realmente uma família amorosa, cheia de talentos artísticos, da pintura à música, e com um ótimo senso de humor.”
Um artista e o mito que ele criou
O documentário propõe um retrato que confronta a imagem pública de Warhol com o homem que existia nos bastidores. “Queríamos olhar mais fundo, investigar suas origens. Descobrimos uma linda história sobre pais altruístas e um filho doente que cresceu para se tornar um fenômeno mundial”, revela Slivka.
Ao invés de escândalos, o que emerge é a história de uma família humilde, trabalhadora e dedicada, que recomeçou a vida num gueto de imigrantes nos EUA. A frase “Quero ser uma máquina”, dita por Warhol, é contrastada por momentos de extrema humanidade capturados no filme: a dor pela morte do pai na infância, a perda da mãe e reações emocionais nada mecanizadas. “Essas cenas mostram emoções humanas profundas, nada de máquina ali”, afirma Slivka.
Fé, silêncio e o lado invisível
Enquanto muitos filmes focam na Factory, nas celebridades e nos excessos, o documentário aposta em uma narrativa mais silenciosa, intimista, voltada à fé, à família e às raízes. Para garantir o tom emocional e respeitoso, a produção manteve uma equipe enxuta e criou um ambiente acolhedor durante as entrevistas, o que ajudou os familiares a se abrirem com liberdade.
Muitas dessas vozes jamais haviam sido ouvidas publicamente. “Sentimos que ele merecia isso. E achamos que ninguém melhor do que cineastas do país de origem da família dele para contar essa história. Eles se sentiram entre amigos solidários e uma família acolhedora”, conta Slivka.
As ausências e a força da mãe
Warhol era conhecido por suas respostas vagas, quase em código, quando perguntado sobre sua vida pessoal. Para Slivka, isso revelava uma estratégia de compartimentalização: o artista sabia separar sua figura pública da vida privada.
O documentário tenta preencher essas lacunas, destacando, por exemplo, o peso de sua religiosidade e a forte presença materna. “O que mais nos marcou foi a modéstia dele. Mesmo depois de acumular fortuna, Andy nunca foi de ostentar”, revela Slivka.
A mãe de Warhol, Julia Warhola, aparece como uma figura central, tanto afetiva quanto criativa. Slivka acredita que, se pudesse assistir ao documentário, Warhol talvez sugerisse ajustes, mas ficaria satisfeito com a homenagem prestada à matriarca. “Ele era muito protetor com ela. Sentimos que fizemos justiça ao mostrar o quanto ela significava para ele.”
Um Warhol finalmente visto?
No momento em que exposições no mundo inteiro, como a atual mostra em cartaz em São Paulo, continuam celebrando a obra de Warhol, o documentário chega para lembrar que o artista não surgiu do nada. Ele veio de um lugar, de uma fé, de uma família.
Sem o cuidado certo, sem a orientação e o apoio da família, o mundo jamais teria conhecido Andy Warhol.”
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