Música
A resposta de Trump aos protestos em Los Angeles: o que sabemos

O presidente Donald Trump anunciou o envio de 2.000 soldados da Guarda Nacional da Califórnia para Los Angeles, em resposta aos protestos contra agentes do Departamento de Imigração e Alfândega (ICE) que estão prendendo pessoas que o governo federal alega serem imigrantes indocumentados.
Em seu memorando sobre o envio da Guarda Nacional, Trump deixou em aberto a possibilidade de o Pentágono mobilizar tropas regulares para Los Angeles. Trump escreveu que “o Secretário de Defesa pode empregar quaisquer outros membros das Forças Armadas regulares, conforme necessário, para reforçar e apoiar a proteção das funções e propriedades federais, no número que considerar apropriado, a seu critério”.
O Secretário de Defesa, Pete Hegseth, declarou que o Departamento de Defesa mobilizaria fuzileiros navais (Marines) da ativa, estacionados em Camp Pendleton, “caso a violência continue”, descrevendo os militares ali como “em estado de alerta máximo.” A última vez que os Marines foram mobilizados para auxiliar na aplicação da lei foi em 1992, quando George Bush, respondendo a um pedido do governador da Califórnia, enviou tropas de Camp Pendleton para conter os distúrbios após a absolvição de quatro policiais brancos que espancaram brutalmente Rodney King, um homem negro parado por uma infração de trânsito.
O governador da Califórnia, Gavin Newsom, respondeu às declarações de Hegseth com uma publicação no X, antigo Twitter: “O Secretário de Defesa agora está ameaçando mobilizar fuzileiros navais da ativa em solo americano contra seus próprios cidadãos. Isso é um comportamento insano”.
Reagindo à ordem de Trump de enviar a Guarda Nacional, a prefeita de Los Angeles, Karen Bass, disse à emissora KTLA no domingo: “Conversei com autoridades de alto escalão do governo dele e deixei claro que a situação não estava fora de controle na cidade de Los Angeles. Paramount teve alguns problemas, mas duvido muito que haja necessidade da Guarda Nacional lá também.”
“Para mim, isso é apenas uma jogada política”, acrescentou Bass.
Newsom afirmou que a decisão de Trump foi “deliberadamente inflamável e só vai aumentar as tensões e minar a confiança do público”.
Até a manhã de domingo, a prefeita Bass e o Departamento do Xerife do Condado de Los Angeles informaram que a Guarda Nacional ainda não havia sido mobilizada na cidade. “Só para deixar claro, a Guarda Nacional não foi mobilizada na cidade de Los Angeles”, disse Bass em um comunicado divulgado por volta da meia-noite, no horário local.
Mas isso não impediu o presidente de declarar vitória e se gabar. “Ótimo trabalho da Guarda Nacional em Los Angeles após dois dias de violência, confrontos e agitação”, escreveu ele no Truth Social algumas horas depois da declaração de Bass. “Esses protestos da Esquerda Radical, promovidos por instigadores e frequentemente por desordeiros pagos, NÃO SERÃO TOLERADOS”.
A emissora NBC4 Los Angeles informou às 8h, no horário local, que tropas da Guarda Nacional haviam chegado à cidade.
Os protestos começaram na sexta-feira, quando o ICE realizou operações de imigração em diversos locais de trabalho na região de Los Angeles, incluindo a cidade de Paramount, no sul do condado de L.A., onde o ICE prendeu pelo menos 44 pessoas por supostas violações das leis de imigração, além de Compton. A polícia prendeu mais de uma dúzia de manifestantes, acusados de obstruir a ação de agentes federais. Alguns manifestantes, segundo a Reuters, teriam lançado o que pareciam ser pedaços de concreto contra as forças de segurança, que responderam com gás lacrimogêneo, spray de pimenta e granadas de efeito moral.
“Continuaremos prendendo qualquer um que interfira na atuação das forças federais da lei”, escreveu o procurador dos EUA Bill Essayli no X, nomeando quatro pessoas presas por agentes federais e anexando suas fotos.
“Agora eles sabem que não podem ir a qualquer lugar deste país onde nosso povo esteja e tentar sequestrar nossos trabalhadores, nosso povo, eles não podem fazer isso sem encontrar uma resistência organizada e feroz”, disse o manifestante Ron Gochez, 44, à Reuters.
Na sexta-feira, outro protesto ocorreu nos arredores de um prédio federal no centro de Los Angeles, onde manifestantes acreditavam que detidos estavam sendo mantidos após comparecerem a compromissos de verificação com o ICE. Advogados dos detidos disseram que imigrantes que foram às suas entrevistas de rotina foram escoltados até o subsolo do Prédio Federal Edward R. Roybal e detidos ali.
A advogada Lizbeth Mateo contou à CBS News que um casal — incluindo um cidadão norte-americano — e seus filhos foram mantidos durante a noite em uma sala sem camas e com acesso limitado a comida e água. A esposa, junto com os filhos, foi liberada na noite de quarta-feira porque precisava de atendimento médico devido a uma gravidez de alto risco. O marido, um imigrante que, segundo Mateo, havia anteriormente recebido uma suspensão de remoção que impedia sua deportação, seguia sob custódia até a manhã de sexta-feira.
Bass afirmou no domingo que os imigrantes detidos no centro da cidade provavelmente já haviam sido transferidos para uma unidade do ICE em Adelanto.
“Isso é algo que nunca vi antes”, disse Mateo. “Durante o primeiro governo Trump, representei clientes com casos muito difíceis, mas nunca algo assim. Em qualquer outra circunstância, ele teria sido liberado”.
Em Paramount, agentes federais usaram munições não letais contra os manifestantes, segundo o xerife do condado de Los Angeles, Robert Luna, em declaração à CBS News. “Nós protegeremos o seu direito de protestar pacificamente, mas não toleraremos violência ou destruição de propriedade”, disse Luna a repórteres. “Peço à comunidade que lide com a situação de forma pacífica, pois não queremos que ninguém se machuque”.
O departamento do xerife declarou que “não participou de nenhuma operação federal de aplicação da lei” e que “esteve focado exclusivamente no controle de tráfego e de multidões”.
Steve Vladeck, professor de Direito da Universidade de Georgetown, escreveu que, como Trump não invocou a Lei da Insurreição em sua ordem na noite de sábado, as tropas da Guarda Nacional “não terão permissão para exercer atividades normais de aplicação da lei”. Em vez disso, segundo ele, elas poderão apenas “oferecer uma forma de proteção de força e apoio logístico para o pessoal do ICE”. Fontes anônimas da Casa Branca confirmaram à Reuters que Trump de fato não invocou a Lei da Insurreição, que permite ao presidente mobilizar as Forças Armadas dos EUA para impor leis e conter desordens civis. A última vez em que ela foi usada foi em 1992, durante os protestos em Los Angeles, a pedido do governador da Califórnia.
“Não há nada que essas tropas possam fazer que, por exemplo, os agentes do ICE — contra quem os protestos são dirigidos — já não possam fazer por conta própria”, escreveu Vladeck.
Em vez da Lei da Insurreição, Trump invocou o Título 10 do Código dos Serviços Armados dos EUA, que concede ao presidente autoridade para mobilizar membros da Guarda Nacional para o serviço federal em certas situações, incluindo “uma rebelião ou ameaça de rebelião contra a autoridade do Governo dos Estados Unidos”. Ele justificou suas ações afirmando em sua ordem: “Na medida em que protestos ou atos de violência impeçam diretamente a execução das leis, eles constituem uma forma de rebelião contra a autoridade do Governo dos Estados Unidos”. Essencialmente, ele está dizendo que a interferência dos manifestantes nas operações de imigração conduzidas pelo ICE equivale a uma rebelião contra o governo.
Vale destacar, no entanto, que as autoridades da Califórnia não solicitaram apoio federal.
“Para o governo federal assumir o controle da Guarda Nacional da Califórnia, sem o pedido do governador, a fim de reprimir protestos, é algo verdadeiramente assustador,” disse Erwin Chemerinsky, reitor da faculdade de Direito da Universidade da Califórnia, em Berkeley, ao The New York Times. “É o uso das forças armadas no território nacional para silenciar a dissidência”.
A Casa Branca já havia considerado invocar a Lei da Insurreição na fronteira entre os EUA e o México, mas ainda não o fez. Durante seu primeiro mandato, Trump mobilizou a Guarda Nacional ao pedir que vários estados enviassem tropas para Washington, D.C., em resposta aos protestos após o assassinato de George Floyd pela polícia em Minneapolis. Embora alguns governadores tenham atendido ao pedido, aqueles que se recusaram não foram obrigados a cumprir. Desta vez, no entanto, Trump está claramente indo contra a vontade de Newsom ao mobilizar a Guarda Nacional da Califórnia.
Este texto foi originalmente publicado pela Rolling Stone EUA, por Peter Wade, no dia 08 de junho de 2025 e pode ser conferido aqui.
+++ LEIA MAIS: Tornando a América retrógrada novamente: Presidente ou Rei Louco?
+++ LEIA MAIS: Donald Trump solicita militares contra protestos: ‘Prendam as pessoas’
+++ LEIA MAIS: Por que os veteranos de guerra protestam contra Donald Trump nos EUA?