Música
‘Se não fosse cantora, não seria a Grag Queen’

Grégory Mohd sempre quis ser cantor, mas não sonhava em ser famoso. O começo na música aconteceu na igreja evangélica e, mais tarde, ele aperfeiçoou as suas técnicas vocais participando de musicais. Anos depois, aproximou-se do universo das drag queens e criou, com um amigo, o duo Armário de Saia, dando à luz, no processo, a Grag Queen. E embora Grégory não estivesse interessado na fama, a sua recém-nascida persona artística estava destinada a ela.
Em novembro de 2021, Grag Queen foi anunciada no elenco de Queen of the Universe, um reality musical exclusivo para drag queens. Um mês depois, a artista de Canela, uma cidade de cerca de 48 mil habitantes no Rio Grande do Sul, ganhava o programa e o título de Rainha do Universo, iniciando uma jornada sem freio na música, que rapidamente se misturaria à responsabilidade de comandar o Drag Race Brasil, versão brasileira de RuPaul’s Drag Race, maior competição para drag queens do mundo.
Quatro intensos anos depois, Grag se prepara para lançar o seu primeiro álbum pela Warner Music Brasil e, à Rolling Stone Brasil, reafirma o seu compromisso com a forma de arte que a levou para palcos ao redor do mundo, que Grégory jamais sonho pisar: “Se não fosse cantora, não seria a Grag Queen”.
“É importante levar um chifre”
Jogada em um mar praticamente desconhecido após a vitória no Queen of the Universe, Grag Queen precisou a aprender nadar rapidamente — e fez isso como pôde. “Eu ganhei o Queen of the Universe e o meu empresário disse: ‘Você tem que entregar hit. Tá todo mundo acontecendo. Você tem que cantar!’, relembra a artista. “E tava todo mundo ‘jogando a bunda’ e descendo até o chão. Eu, lá de Canela, não tinha nem joelho pra isso. Mas eu fui nessa pressão de ‘hitar’, de fazer alguma coisa.”
Desde que saiu vitoriosa da competição de canto, Grag lançou dois EPs, “DESPERTA”, em 2021, com uma pegada de reggae, e “Gente Crazy”, em 2023, mais voltado para o pop, com músicas em português e em inglês. Também lançou diversos singles, incluindo “Party Everyday” (2022), “Que Passa” (2023) e “Sirene” (2023), e colaborou com artistas como o ex-RBDChristian Chávez(em “Que Sí Que No”), Bruno Gadiol (em “f:)da-se”) e Lexa(em “Tapa”).
Porém, segundo a artista, ela ainda não se sentia “pertencente nas músicas” e, apesar de sua versatilidade para cantar em qualquer ritmo, Grag teve dificuldade para encontrar quem queria ser na música: “Quando você sabe fazer muita coisa, é legal para um artista, [ser] versátil. Mas quando você tem que se ‘nichar’ e estar em uma bolha, e depender de alguma estética, aí é um pouco mais difícil escolher um caminho para trilhar”, explica.
A voz de Grag acabou vindo com a experiência. Aos 30 anos, a artista afirma que foi preciso viver para encontrar o que gostaria de falar e, principalmente, como gostaria de falar:
“É importante viver, é importante levar um chifre, é importante você soluçar de chorar, você rir, você se apaixonar por dois, por três, entrar no casal de alguém, experimentar o amor de alguém”, afirma.
Segundo Grag, em seu primeiro álbum, “as músicas têm rosto, as músicas têm olhos, as músicas têm cheiros, as músicas têm gosto. Elas me emocionam, me arrepiam”. A artista acrescenta que, musicalmente, o álbum também está “muito a minha cara”: “Com arranjos, notas, sons que dá para tirar no violão, sabe? Eram coisas que eu queria. E eu sinto que aí eu me encontrei. É uma coisa que eu olho e sinto muito orgulho.”
Previsto para ser lançado entre setembro e outubro, o álbum conta com as colaborações de nomes de peso, como Castilhol, Pablo Bispo e Ruxell que, de acordo com Grag, ajudaram a transformá-lo em um álbum plural: “Tem muito instrumento, muito metal, muito Brasil e também uma pegada de house. É um pop bem gostoso, com umas letras sofridas, outras mais dançantes”, adianta.
E os primeiros frutos dessa nova fase já estão nas plataformas digitais: nos últimos dias, a artista lançou “Sideral”, que conversa com a sonoridade musical apresentada em seu single anterior, “Boogie Brasil”, destaque na estreia da segunda temporada de Drag Race Brasil, em julho. E a novidade também deve chegar ao reality show: “É a primeira performance televisionada de ‘Sideral’ antes mesmo de ‘Sideral’ nascer”, revela a artista, empolgada.
“Não vou deixar de cantar e nem de ser a ‘mãezinha'”
Apesar de ser a escolha óbvia para comandar uma versão brasileira de RuPaul’s Drag Race, quando a produção foi finalmente anunciada, em agosto de 2022, após anos de pedidos dos fãs, o convite para a função surgiu bagunçando os planos de Grag:
“Eu era uma drag. Sempre fui uma drag cantora, que lançava músicas. Lancei ‘Party Everyday’, ‘Fim de Tarde’… Eu já estava começando a trabalhar em um álbum. E aí, do nada: ‘Você vai ser apresentadora!'”, relembra.
Ela, é claro, topou o desafio — e se apaixonou pelo trabalho: “Eu amo o meu papel de mãe, de ‘mãezinha’, de ajudar, de ser uma descobridora de talentos, de ser uma incentivadora da cultura drag brasileira”, celebra.
Porém, o compromisso com a música e o medo de não honrá-lo acabou ficando na mente de Grag. Felizmente, as coisas acabaram caminhando para um lugar em que ser cantora e apresentadora de um dos realities mais populares do mundo convergiram:
“Eu assinei com a Warner Music Brasil e eles vieram com a ideia de protagonizar a música. Porque dá para fazer tudo. ‘Boogie Brasil’, por exemplo, eles me pediram para compor especialmente para o programa”, conta.
“Eu abri todo o meu álbum e disse: ‘Quais dessas músicas vocês acham que eu posso botar na temporada? Vocês acham que eu posso fazer um link com o meu álbum? Eu sei que só a RuPaul faz isso, mas tem como a gente linkar isso?’ E eles foram muito abertos. Eles amam o fato de eu ser uma host que canta.”
Para Grag, a visibilidade do Drag Race Brasil é uma oportunidade de colocar os fãs do programa em contato com a sua música e equilibrar as duas responsabilidades:
“A gente tem que ir tentando, porque eu não vou desistir de cantar, de lançar as minhas músicas, e muito menos de ser a ‘mãezinha’. Graças a Deus, não me pediram para escolher nenhum, então, enquanto isso, a gente vai fazendo uma salada, uma mistura para ser feliz e atender a todo mundo”.
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