Música
O vídeo de Renato Russo postado por Zema após notificação de filho do cantor

Como noticiado, o partido Novo foi notificado por Giuliano Manfredini, filho de Renato Russo, pelo uso indevido da canção “Que País É Este”, da Legião Urbana, em um evento político de Romeu Zema. O governador de Minas Gerais lançou no último sábado, 16, sua pré-candidatura à presidência da República — e, na ocasião, entrou no auditório que recebeu a solenidade ao som da música citada.
O jornal Folha de S. Paulo repercutiu a notícia na última terça-feira, 19. O Novo declarou não ter sido notificado, mas Zema se manifestou de modo indireto sobre a situação.
Por meio das redes sociais, o pré-candidato a presidente publicou um trecho de uma entrevista de Renato ao programa Clip Clip, da TV Globo, na década de 1980. Na filmagem, o cantor defendeu os valores “tradição, família e propriedade”, em especial o último, ao declarar-se debochadamente um “capitalista nato” que está em busca de “aumentar ao máximo” suas propriedades.
Sem considerar o tom da declaração de Renato, Zema afirmou, na legenda do vídeo:
“Concordo 100% com Renato Russo: um país deve preservar suas tradições, família é a base de tudo, capitalismo é o melhor sistema de governo para gerar riqueza e tirar as pessoas da pobreza. Viva Legião!”
Concordo 100% com Renato Russo:
– um país deve preservar suas tradições
– família é a base de tudo
– capitalismo é o melhor sistema de governo para gerar riqueza e tirar as pessoas da pobrezaViva Legião! pic.twitter.com/ZlKpghFU2o
— Romeu Zema (@RomeuZema) August 19, 2025
A visão de Renato Russo sobre o capitalismo
A visão de Renato Russo sobre capitalismo gera discussão há alguns anos nas redes sociais, tendo em vista a repercussão do antigo vídeo em que ele se define como “capitalista nato”. Durante entrevista de tom mais sério na década de 90, o cantor falecido em 1996 voltou a definir-se como “capitalista” e deixou claro que pretendia, sim, ser recompensado financeiramente por seu trabalho, mas não alteraria sua essência para vendê-lo.
Conforme transcrição da Rolling Stone Brasil, ele afirmou:
“Claro que o dinheiro é importante. Agora, não deixamos isso interferir. Quero poder ter a tranquilidade de estar na minha casa, ter minha cama para dormir, o meu filho estar na escola… tudo isso é grana. E não tô roubando, matando ou mentindo. Mesmo que eu seja o maior hipócrita, a pessoa só compra o disco se quiser. […] Mas é o meu trabalho, né? O dinheiro é importante. Nunca pensei em fazer nada para me vender, mas se faço algo em que eu acredito e se acho que há qualidade, acho que a banda merece ter o maior retorno possível. […] Sou capitalista e se eu não fosse, estaria sendo anarquista, fazia uma cooperativa e tudo.”
A notificação de Giuliano Manfredini
Manfredini detém, por meio da empresa Legião Urbana Produções, o domínio sobre as músicas e a obra da banda. Segundo ele, a utilização da canção não foi autorizada ou sequer solicitada e, portanto, configura violação de direitos autorais.
À Folha, o herdeiro de Renato Russo afirmou:
“Mais uma vez a extrema direita insulta a obra do meu pai, a memória dele, e faz uma afronta aos direitos autorais.”
E acrescentou:
“É cansativo que candidatos da extrema direita se achem no direito de fazer isso, passar por cima do Estado de Direito, dos direitos autorais, não respeitar as leis. Há muitos anos isso. Está cansativo.”
Música não seria liberada nem após pedido
Segundo Giuliano Manfredini, mesmo que Romeu Zema ou o partido Novo tivessem pedido liberação formal para usar a música, ele não autorizaria:
“Nós temos o mesmo posicionamento que o meu pai tinha, principalmente com relação ao uso político por parte da extrema direita, porque é uma música contra a extrema direita, contra a ditadura. Não faz sentido aprovar o uso por parte dessa extrema direita, especificamente, que não condiz com os valores da obra dele.”
Legião Urbana e “Que País É Este”
“Que País É Este”, lançada em 1987, é uma das principais músicas da Legião Urbana. Assim como outras do repertório da banda de Brasília, a canção critica a corrupção e diversas mazelas vividas pelo Brasil nos anos de ditadura militar.
Notificação anterior
Em 2024, Giuliano Manfredini já havia recriminado o uso da música por políticos da extrema direita. Na ocasião, o filho de Renato Russo notificou a ByteDance, empresa chinesa que é dona do TikTok, por conta de postagens bolsonaristas que utilizavam a canção.
Na época, Giuliano, que é produtor cultural, alegou (via O Globo), que as publicações “violam a essência” da obra do artista, já que possuem “caráter político e ideológico alheios” às ideias que ele sempre defendeu e “ativamente combatidos” por seu pai.
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