Celebridade
‘Me sinto cada vez mais dono do meu trabalho’

Em entrevista à Revista CARAS, o ator Caco Ciocler celebra 30 anos de carreira e se mostra cada vez mais seguro em sua arte
Ao olhar para trás e rever sua trajetória, Caco Ciocler (53) tem motivos de sobra para celebrar. Com um currículo recheado de sucessos, ele acaba de encerrar a aclamada temporada paulistana da peça A Mulher da Van ao lado de Nathália Timberg (96) e voltou a integrar o elenco do remake global de Vale Tudo após ter feio uma participação.
“São 30 anos de carreira e eu nem tinha me dado conta disso. Eu me sinto mais seguro, porque vejo como não sabia fazer as coisas, foi na experimentação, no jogo. Eu me sinto cada vez mais dono do meu trabalho, gosto das coisas que faço — claro, cometendo erros ainda —, mas me sinto melhor, sem dúvida”, afirma o ator, que recentemente teve disposição para voltar à sala de aula e se formar em Biologia, com direito até a estágio.
“Eu sempre gostei de estudar e tinha vontade de fazer faculdade. Acho até que fiquei um ator melhor, porque eu me encantei pela sacra/idade da vida, é inacreditável o que faz uma célula, estar vivo é sagrado”, diz ele, em papo exclusivo com CARAS.
Leia também: Vai parar de atuar? Caco Ciocler fala sobre nova profissão
– O que te levou à Biologia?
– Larguei a Engenharia no último ano, na USP, e tinha uma coisa boba, uma vergonha: quando precisava preencher o grau de escolaridade, eu colocava superior incompleto. Um dia, estava lendo um livro sobre a inteligência das árvores e me deu vontade de entender a vida de forma mais orgânica. Fiz o curso e adorei.
– Lá no início, você deixou a faculdade de Engenharia para virar ator. Foi difícil a decisão?
– Foi difícil, mas internamente eu já tinha uma vontade muito grande de fazer essa troca. Não era infeliz na Engenharia, mas tinha o desejo de ser ator. Faz 30 anos que as coisas aconteceram. Ganhei prêmios no teatro, fui chamado para fazer novela, fui pai, foi tudo junto. Não tinha mais como fugir daquilo. Claro que foi tudo muito caótico na época, mas deu certo!
– Acha que a Biologia seguirá fazendo parte de sua vida?
– Cheguei a fazer estágio no laboratório da UFRJ, trabalhei com fungos e eu adorava. Como toda carreira, você precisa se dedicar, mas tenho vontade de fazer uma pós-graduação. Minha vida mudou completamente. O que me interessa é a microbiologia, as células, é muito milagre, e isso mudou minha percepção de tudo.
– Tem um gosto diferente voltar à sala com mais maturidade?
– Quando a gente é mais novo, quer estudar para passar de ano, terminar logo o curso. Eu quis estudar para aprender! É muito gostoso, eu recomendo!
– Voltando à peça, A Mulher da Van fala de tolerância e relações humanas. Acha que as pessoas estão menos tolerantes?
– Eu não tenho dúvida! A gente foi contaminado por uma linguagem das redes sociais, das máquinas, que é binária. Ou você é isso, ou você é aquilo, não existe mais intersecção e a arte não é o lugar das certezas, ela é justamente o lugar das fendas que racham as certezas. E é por isso talvez que os teatros estão cheios! As pessoas estão ávidas por incertezas, elas estão cansadas, se sentindo vigia, das, intolerantes. A solução é perceber isso e sair dessa teia, que é uma teia que rende dinheiro para muita gente, e é proposital. E também desenvolver empatia, escuta e entender que as coisas não são 0 e 1. Existe beleza entre o 0 e l!
– Você está nos palcos, na TV e ainda envolvido com filmes … qual é o mais desafiador?
– Eu vim do teatro e ele tem uma coisa que os outros não têm que é o tempo, você aprende o tempo todo e isso é uma coisa que não para, ele tem a repetição. No audiovisual, se você erra, seu erro fica lá, gravado, é mais cruel nesse sentido. O teatro está muito na mão de ator, já o audiovisual tem outros recursos, como a edição, então você fica menos dono do trabalho, é bem diferente.