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A bactéria silenciosa que pode causar câncer no estômago

Ela não tem cheiro, não tem gosto e você provavelmente já conviveu com ela sem saber. A Helicobacter pylori, ou simplesmente H. pylori, é uma das bactérias mais comuns do planeta —estima-se que metade da população mundial esteja infectada. E embora muita gente nunca sinta nada, essa bactéria pode causar problemas sérios, incluindo o temido câncer no estômago.
Transmitida principalmente por água ou alimentos contaminados, a H. pylori tem uma habilidade impressionante: ela sobrevive ao ambiente ácido do estômago. Isso acontece graças à produção de uma enzima chamada urease, que neutraliza o ácido gástrico e permite que a bactéria se instale confortavelmente no revestimento estomacal.
O problema é que essa convivência pode ser perigosa. A presença prolongada da H. pylori provoca inflamações crônicas, como gastrite e úlceras, que, com o tempo, podem evoluir para alterações celulares e lesões pré-cancerígenas. Em pessoas geneticamente suscetíveis ou com estilo de vida pouco saudável, isso pode abrir caminho para o desenvolvimento de adenocarcinoma gástrico, o tipo mais comum de câncer no estômago.
Como a H. pylori vira um gatilho para o câncer
A relação entre a H. pylori e o câncer gástrico é bem documentada. Segundo a American Cancer Society, entre 90% e 95% dos casos de câncer de estômago são do tipo adenocarcinoma, frequentemente associados à infecção por essa bactéria. O processo começa com uma inflamação persistente no revestimento do estômago, que pode levar a alterações celulares e, eventualmente, à formação de tumores malignos.
Além disso, a H. pylori está ligada a outro tipo de câncer menos conhecido: o linfoma MALT, que afeta o tecido linfoide da mucosa gástrica. Pessoas infectadas têm um risco duas a seis vezes maior de desenvolver esses tipos de câncer em comparação com quem não tem a bactéria.
O que torna tudo mais preocupante é que a infecção costuma ser assintomática. Ou seja, muita gente só descobre que está infectada quando já apresenta sintomas graves, como dor abdominal intensa, perda de peso, vômitos ou dificuldade para engolir. Por isso, o diagnóstico precoce é essencial.
Sintomas, diagnóstico e tratamento
Embora nem todos os infectados apresentem sintomas, os sinais mais comuns incluem azia persistente, desconforto abdominal após as refeições, náuseas, vômitos e perda de peso inexplicada. Em casos mais avançados, pode haver sangramento gastrointestinal ou dificuldade para digerir alimentos.
O diagnóstico pode ser feito por meio de exames de sangue, que detectam anticorpos contra a bactéria, ou por endoscopia, que permite visualizar diretamente o revestimento do estômago e coletar amostras para biópsia.
O tratamento envolve uma combinação de antibióticos para eliminar a bactéria e inibidores de bomba de prótons, que reduzem a acidez estomacal e ajudam na cicatrização das lesões. É fundamental seguir o tratamento completo para evitar resistência bacteriana e garantir a erradicação da H. pylori.
Prevenção: higiene e atenção aos sintomas
A principal forma de prevenção é cuidar da higiene alimentar. Lavar bem as mãos antes de preparar alimentos, consumir água filtrada e evitar o compartilhamento de utensílios com pessoas infectadas são medidas simples que fazem diferença. A contaminação pode ocorrer por contato com saliva, vômito ou fezes de pessoas infectadas, além de alimentos mal higienizados.
Em países com saneamento básico precário, como algumas regiões do Brasil, a taxa de infecção é ainda maior —cerca de 60% da população pode estar infectada. Por isso, é importante ficar atento aos sintomas e buscar avaliação médica ao menor sinal de desconforto gástrico.
A H. pylori é um exemplo claro de como uma bactéria aparentemente inofensiva pode se tornar um fator de risco para o câncer no estômago. Saber que ela existe, entender seus efeitos e agir preventivamente são passos essenciais para proteger sua saúde.