Celebridade
Médico analisa diagnóstico de Suzana Alves: ‘Tende a ser internalizado’

Em entrevista para CARAS Brasil, o neurologista Matheus Trilico explica riscos e tratamentos possíveis após atriz expôs impactos da fama na saúde
Suzana Alves (46) abriu o coração ao falar sobre sua intensa batalha contra transtornos mentais. Conhecida por sua carreira na televisão como Tiazinha, a atriz revelou ter sido diagnosticada com Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) e Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) apenas na fase adulta, após vivenciar uma série de crises emocionais.
Ela também falou sobre delírios persecutórios e episódios intensos de autossabotagem. Segundo a atriz, a superexposição e a pressão do meio artístico agravaram seu quadro.
Para entender como o diagnóstico tardio pode afetar a vida de um adulto, especialmente no caso de figuras públicas como Suzana Alves, a CARAS Brasil conversou com o neurologista Dr. Matheus Luis Castelan Trilico, especialista em TDAH em adultos.
“O diagnóstico tardio de TDAH em adultos é extremamente comum e reflete lacunas históricas no reconhecimento da condição”, explica o neurologista. No caso de Suzana Alves, essa descoberta na vida adulta ilustra uma realidade médica: cerca de 60% dos casos de TDAH infantil persistem na idade adulta, mas muitos permanecem sem diagnóstico.
Os sinais frequentemente ignorados incluem dificuldade crônica de concentração, procrastinação persistente, desorganização, impulsividade e instabilidade emocional. “Em mulheres, os sintomas tendem a ser mais internalizados — como desatenção e sonhar acordado — sendo menos reconhecidos que a hiperatividade típica em meninos”, destaca Trilico.
TDAH e comorbidades
A associação entre TDAH e transtornos ansiosos, como relatado por Suzana, tem base neurobiológica sólida. “Aproximadamente 50% dos adultos com TDAH desenvolvem transtorno de ansiedade generalizada ou síndrome do pânico”, afirma o Dr. Matheus Trilico.
Esta relação ocorre porque ambas as condições envolvem disfunções nos circuitos neurais de regulação emocional e atenção, especificamente nas regiões pré-frontais e nos sistemas de neurotransmissores como dopamina e noradrenalina. O TDAH não tratado gera estresse crônico devido às dificuldades cotidianas, predispondo aos transtornos ansiosos.
O impacto no tratamento é significativo: “É essencial abordar ambas as condições simultaneamente, pois o tratamento isolado de uma pode ser insuficiente“, explica o médico. A ansiedade pode mascarar sintomas de TDAH e vice-versa, exigindo avaliação neurológica especializada.
Caminhos terapêuticos
O tratamento do TDAH em adultos envolve abordagem multimodal. “A terapia medicamentosa com estimulantes como metilfenidato ou anfetaminas, e não estimulantes como a atomoxetina, fazem parte do tratamento medicamentoso, melhorando concentração e controle executivo”, esclarece.
Paralelamente, a terapia cognitivo-comportamental é fundamental, ensinando estratégias de organização, gestão do tempo e regulação emocional. Técnicas de mindfulness e exercícios físicos regulares complementam o tratamento, otimizando a neuroplasticidade.
“No caso de Suzana Alves, o diagnóstico trouxe autocompreensão e direcionamento terapêutico adequado”, pontua Dr. Trilico. A recuperação da qualidade de vida ocorre gradualmente: melhora da concentração, redução da ansiedade, maior estabilidade emocional e aumento da autoestima.
O tratamento personalizado considera sintomas predominantes, comorbidades e impacto funcional, permitindo que adultos com TDAH desenvolvam todo seu potencial neurológico e emocional.