Celebridade
‘Essa inversão tem um efeito devastador’

Em entrevista para a CARAS Brasil, psicóloga avalia Sandra Gadelha, mãe de Preta Gil, após a morte da artista e faz orientações importantes
O Brasil ainda lamenta a morte de Preta Gil (1974-2025), vítima de complicações de um câncer. Em meio à comoção, a mãe da cantora, Sandra Gadelha(77), tem vivido um luto devastador, não apenas pela perda recente, mas também pela dor antiga da morte do filho Pedro Gil, em 1990, num acidente de carro. A dor de enterrar dois filhos ao longo da vida reacende feridas profundas.
Recentemente, Sandra recebeu o apoio de uma das melhores amigas de Preta, Ju de Paulla, que compartilhou um momento íntimo entre as duas durante um almoço, marcado por lembranças e saudade da filha.
Para entender o impacto emocional de um luto tão acumulado, a CARAS Brasil conversou com a psicóloga Leticia de Oliveira, que analisou o momento delicado vivido por Sandra e deu orientações valiosas sobre como enfrentar essa dor profunda.
“A experiência da Sandra Gadelha é uma dor que a gente não consegue nem nomear. Perder um filho já é algo devastador, que faz perder o sentido da vida. É uma inversão da cronologia: os mais velhos acabam sendo enterrados antes dos mais novos, quando, na verdade, seria o filho a enterrar os pais. Essa inversão tem um efeito devastador”, explica a especialista.
Um luto que revive outro
Segundo Leticia, o impacto vai além do luto de Preta: revive-se, também, a dor do passado: “É um luto duplo e acumulado, que pode gerar impactos muito profundos e duradouros na pessoa. Isso porque reabre feridas antigas, funcionando como um gatilho muito forte. Quando a gente vive algo parecido, acaba revivendo a mesma dor duas vezes. Muito possivelmente, ela está vivendo não só o luto da Preta, mas também o luto do outro filho, o Pedro.”
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A psicóloga classifica a dor de Sandra como um luto complicado e cumulativo, que pode desencadear diferentes sintomas emocionais e físicos: “Pode trazer junto uma depressão profunda, ansiedade generalizada, transtorno de estresse pós-traumático, somatização — quando todo esse sofrimento aparece como dor física no corpo — e até um abalo na identidade e no sentido da vida, como se não fizesse mais sentido continuar vivo.”
Se recolher é necessário, mas com limites
Diante disso, o recolhimento de Sandra, que tem mantido discrição após a morte da filha, é compreendido como uma atitude saudável.
“Esse recolhimento, a meu ver, é saudável. É o momento em que ela precisa receber cuidados; ela não precisa aparecer, precisa ser amparada e cuidada. Precisa ficar reservada. Quando sentimos uma dor física, fazemos repouso. Quando lesionamos a perna ou passamos por uma cirurgia, deixamos de nos expor socialmente para que a ferida ou a lesão cicatrizem. É o mesmo indicado para quem passa por uma dor emocional crônica e aguda como a dor da Sandra.”
Ainda assim, a especialista alerta para a importância de um equilíbrio nesse isolamento: “Por isso, acredito que ela está tomando uma postura muito sensata diante da dor. É fundamental que ela seja amparada nesse processo. E o mais importante é que esse isolamento não dure muito tempo, pois se prolongado demais pode abrir espaço para um adoecimento ainda maior e aprofundar essa dor tão intensa.”
Como a rede de apoio pode ajudar
Leticia reforça que o apoio familiar e de amigos próximos pode fazer toda a diferença, desde que seja oferecido com sensibilidade e cuidado: “Os familiares e amigos mais próximos podem se fazer presentes de forma constante e silenciosa: aparecer para tomar um café, ajudar em tarefas domésticas, sempre com cuidado e discrição. Ajudar na organização da casa, separar roupas, fazer compras de supermercado. Esse tipo de ajuda é essencial, porque quem está em luto costuma não ter energia ou disposição para nada.”
“É importante oferecer ajuda sem rigidez, sem que a pessoa sinta que está sendo um peso. Validar as emoções sem julgamentos. Ter cuidado com o que se fala, evitando frases como ‘foi melhor assim’, que muitas vezes acabam machucando ainda mais.”
Ritualizar a saudade também é uma forma de cura
A psicóloga ainda sugere formas simbólicas de manter viva a memória dos filhos: “Uma possibilidade também é criar espaços de homenagem e memória, lugares simbólicos onde a pessoa possa olhar quando sentir saudade ou vontade de conversar, ter um cantinho dedicado aos filhos.”
Por fim, a orientação é de que o luto seja respeitado, com atenção a momentos que podem reabrir a dor: “É importante também estar atento a datas e gatilhos, como aniversário de nascimento, de falecimento, e dias como o Dia das Mães. E, por fim, respeitar o tempo e o jeito de cada um viver o luto.”