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Implante mamário texturizado eleva risco de câncer

A busca por padrões estéticos perfeitos tem levado milhões de mulheres a recorrerem a procedimentos cirúrgicos, como a colocação de implantes mamários. Mas uma nova pesquisa publicada na revista “Blood Advances” acendeu um sinal vermelho: próteses com superfície texturizada podem aumentar em até 16 vezes o risco de desenvolver um tipo raro de câncer, o linfoma anaplásico de grandes células associado a implantes mamários (BIA-ALCL).
O estudo, financiado pelo governo dos Estados Unidos, acompanhou cerca de 3.000 mulheres que passaram por mastectomia dupla e reconstrução mamária. Entre elas, 520 foram testadas geneticamente, e 43 apresentavam mutações nos genes BRCA1 ou BRCA2 —os mesmos ligados ao câncer de mama e ovário. Foi nesse grupo que os pesquisadores identificaram o risco elevado de desenvolver o linfoma.
Embora o BIA-ALCL ainda seja considerado raro, os números estão crescendo. Segundo a FDA (Agência de Alimentos e Medicamentos dos EUA), já foram registrados 1.264 casos confirmados e 63 mortes até 2023. E o principal vilão parece ser a textura da prótese.
O que há por trás da superfície áspera
Os implantes mamários texturizados têm uma superfície rugosa, semelhante a uma lixa. Essa característica foi inicialmente desenvolvida para evitar o deslocamento da prótese e promover melhor aderência ao tecido mamário. No entanto, essa mesma textura pode acumular bactérias e formar biofilmes, desencadeando uma resposta inflamatória crônica no organismo.
Essa inflamação persistente pode danificar o DNA das células ao redor do implante, favorecendo o surgimento de tumores malignos. O BIA-ALCL, por exemplo, se desenvolve no tecido cicatricial que envolve a prótese, e não diretamente na mama. É um tipo de linfoma de células T, que afeta o sistema imunológico e pode se manifestar anos após a cirurgia.
Além disso, o silicone presente em alguns tipos de próteses também pode contribuir para o processo inflamatório. Embora os implantes lisos sejam considerados mais seguros, milhões de mulheres ainda vivem com próteses texturizadas, especialmente aquelas colocadas em décadas anteriores.
Câncer e genética: uma combinação perigosa
O estudo reforça que mulheres com mutações nos genes BRCA1 e BRCA2 estão mais vulneráveis não apenas ao câncer de mama e ovário, mas também ao BIA-ALCL quando submetidas à colocação de implantes texturizados. Esses genes são responsáveis por reparar danos no DNA, e quando mutados, deixam o organismo mais suscetível a alterações celulares malignas.
A descoberta é especialmente relevante para pacientes que optam pela reconstrução mamária após a mastectomia. Muitas vezes, essas mulheres já enfrentaram o câncer e buscam recuperar a autoestima por meio da cirurgia estética. Saber que o tipo de prótese pode representar um novo risco é fundamental para decisões mais conscientes.
Segundo especialistas, é essencial que pacientes com histórico familiar de câncer ou mutações genéticas conhecidas sejam orientadas sobre os riscos antes de escolher o tipo de implante. A genotipagem pode se tornar uma ferramenta importante na prevenção de complicações futuras.
O que muda na prática médica e na escolha estética
A pesquisa levanta uma questão delicada: até que ponto os procedimentos estéticos são realmente seguros? Embora a maioria das cirurgias seja realizada com sucesso, os riscos existem —e muitas vezes são subestimados. O Brasil, por exemplo, é o segundo país que mais realiza procedimentos estéticos no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos.
Médicos como Yuri Salles, do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj), alertam que todo procedimento estético é invasivo, mesmo os não cirúrgicos. E que complicações como infecções, cicatrizes, alterações na pigmentação da pele e até insuficiência renal podem ocorrer, dependendo do tipo de substância utilizada.
No caso dos implantes mamários, a recomendação é clara: optar por próteses lisas sempre que possível e realizar acompanhamento médico regular. Além disso, pacientes devem estar atentas a sintomas como inchaço, dor persistente ou alterações na forma da mama —sinais que podem indicar complicações.
Informação é poder e pode salvar vidas
A beleza não precisa vir acompanhada de riscos desnecessários. Com acesso à informação de qualidade e orientação médica adequada, é possível fazer escolhas estéticas mais seguras e conscientes. O estudo sobre o BIA-ALCL é um lembrete de que a saúde deve estar sempre em primeiro lugar, mesmo quando o assunto é aparência.
Para quem já possui implantes texturizados, não há motivo para pânico, mas é importante conversar com um especialista, avaliar os riscos e considerar alternativas. A medicina está em constante evolução, e novas técnicas de reconstrução mamária, como o uso de gordura autóloga, estão ganhando espaço como opções menos invasivas.