O hábito que pode proteger o cérebro e melhorar a memória

Sabe aquele momento em que você se pega olhando para o nada, viajando nos próprios pensamentos? Por muito tempo, esse hábito foi visto como sinal de desatenção ou improdutividade. Mas a ciência está virando esse jogo. Pesquisas recentes mostram que sonhar acordado pode ser uma das formas mais eficazes de estimular a memória e a criatividade.

Um estudo da Universidade de Harvard revelou que passamos cerca de 47% do tempo acordados com a mente divagando. E, ao contrário do que se pensava, esse “tempo perdido” pode ser extremamente produtivo. Durante os devaneios, o cérebro ativa regiões ligadas à memória, imaginação e planejamento —uma combinação perfeita para gerar ideias novas e consolidar aprendizados.

A neurociência chama esse fenômeno de “rede de modo padrão”, um sistema cerebral que entra em ação quando estamos em repouso ou distraídos. É nesse estado que o cérebro reorganiza memórias, simula situações futuras e conecta experiências passadas com novas possibilidades.

Devaneios que ensaiam o amanhã

Pesquisas com roedores conduzidas pela Escola Médica de Harvard mostraram que, durante os devaneios, o cérebro revive estímulos anteriores e antecipa respostas futuras. Isso acontece por meio das chamadas “ondulações agudas do hipocampo”, ondas cerebrais associadas ao aprendizado e à consolidação da memória.

Essas descobertas indicam que, mesmo quando não estamos focados ativamente em uma tarefa, o cérebro continua trabalhando. Ele ensaia cenários, testa soluções e organiza informações —tudo isso enquanto você está lavando a louça ou esperando o ônibus.

Além disso, pausas silenciosas após uma experiência, sem estímulos como redes sociais ou vídeos, ajudam mais na fixação de conteúdo. Em experimentos, pessoas que descansaram em silêncio se lembraram de mais informações do que aquelas que assistiram a vídeos entre as tarefas.

Criatividade no piloto automático

A criatividade também ganha com os devaneios. Estudos mostram que pessoas que deixaram a mente vagar antes de tarefas criativas apresentaram mais ideias originais. Durante esses episódios, áreas do cérebro relacionadas ao planejamento, memória e imaginação se conectam brevemente, criando o ambiente ideal para insights inovadores.

Esse tipo de pensamento espontâneo é especialmente útil na resolução de problemas complexos. Muitas vezes, a solução aparece quando menos esperamos —no banho, durante uma caminhada ou até olhando pela janela. É o cérebro fazendo conexões fora do radar consciente.

Além dos benefícios cognitivos, sonhar acordado também reduz o estresse. Um estudo mostrou que imaginar refeições favoritas durante um teste de dor aumentou a tolerância e reduziu a ansiedade. Em situações do dia a dia, deixar os pensamentos fluírem ajuda a baixar o cortisol, o hormônio do estresse.

Como aproveitar melhor os devaneios

Você não precisa parar tudo para sonhar acordado. Atividades rotineiras e repetitivas, como caminhar, tomar banho ou lavar louça, são excelentes gatilhos para pensamentos criativos. O segredo está em permitir que a mente divague sem estímulos externos intensos.

Empresas já estão adotando minutos de divagação durante reuniões, com resultados positivos em sessões de brainstorming. Funcionários que fazem pausas mentais retornam com mais foco e produtividade.

Para aproveitar melhor esses momentos, vale a pena desconectar por alguns minutos ao longo do dia. Evite preencher cada intervalo com redes sociais ou notificações. Em vez disso, permita-se ficar em silêncio, olhar para o céu ou simplesmente deixar os pensamentos fluírem.

O hábito que pode proteger o cérebro

Além de estimular a memória e a criatividade, sonhar acordado pode ajudar a prevenir o declínio cognitivo. A reorganização de memórias e a simulação de cenários futuros são processos que mantêm o cérebro ativo e flexível — características essenciais para a saúde mental ao longo da vida.

Segundo especialistas em neuroplasticidade, o cérebro tem a capacidade de se adaptar e criar novas conexões mesmo na idade adulta. E os devaneios fazem parte desse processo. Eles ajudam a consolidar aprendizados, reorganizar experiências e ampliar a compreensão do mundo.

Portanto, da próxima vez que você se pegar distraído, não se culpe. Seu cérebro está longe de estar parado —ele está trabalhando em silêncio para te tornar mais criativo, equilibrado e preparado para o futuro.