Celebridade
Médica detalha sinais iniciais da doença sem cura de Bruce Willis: ‘É frequente’

Em conversa com a CARAS Brasil, médica esclarece sinais iniciais da condição que afeta o ator Bruce Willis e destaca a importância do tratamento
O astro Bruce Willis (70) vive uma difícil realidade após ser diagnosticado com demência frontotemporal (DFT), uma condição neurodegenerativa rara que afeta principalmente o comportamento, a personalidade e a linguagem. Diferente do Alzheimer, essa forma de demência costuma surgir entre os 45 e 65 anos e pode ser confundida com problemas emocionais no início.
Em entrevista à CARAS Brasil, a geriatra Roberta França explicou os sinais iniciais da doença e destacou por que o diagnóstico precoce e o suporte familiar são tão importantes no enfrentamento da DFT.
Sintomas vão além da memória
Segundo a médica, é essencial entender que “demência” é um termo genérico para doenças que comprometem de forma progressiva o sistema nervoso central, levando à perda de funções cognitivas. E entre os diversos tipos, a DFT tem características únicas.
“A primeira coisa importante é esclarecermos o que é demência e quais são os seus tipos. Demência é um nome genérico para toda e qualquer doença neurodegenerativa, progressiva e inexorável. Ou seja, são doenças que afetam o sistema nervoso central e que, gradativamente, comprometem múltiplas funções. Até o momento, não há nenhum tratamento curativo para essas doenças”, afirma a geriatra.
“Dentro do conjunto das demências, existem vários tipos. A mais comum é a demência do tipo Alzheimer. Já a demência frontotemporal, também chamada de DFT, é um tipo que costuma aparecer antes dos 65 anos, sendo uma das principais causas de demência precoce no mundo atualmente. Ela afeta áreas do cérebro responsáveis pela personalidade, comportamento e linguagem“, explica.
Ao contrário do que muitos pensam, a perda de memória não é o primeiro alerta da DFT. O comportamento da pessoa muda drasticamente, muitas vezes sendo interpretado como depressão ou estresse.
“Diferentemente da demência de Alzheimer, os primeiros sinais da DFT não estão ligados à perda de memória, mas sim a mudanças comportamentais ou de linguagem. Muitas vezes, esses sinais são confundidos com depressão ou estresse emocional. É comum ouvir: ‘Minha mãe nunca falou palavrão, e de repente está xingando’; ou ‘Ela sempre foi muito religiosa e agora está falando sobre assuntos sexuais, coisas que nunca disse antes.’ Essas alterações de comportamento são bastante características da demência frontotemporal”, detalha Roberta.
Quais são sinais claros da demência frontotemporal?
Entre os sintomas mais comuns da DFT estão a frieza emocional, atitudes impulsivas e falas inapropriadas em público. Também pode haver compulsão alimentar, alterações na libido e descuidos com a higiene pessoal.
“A pessoa perde o interesse por atividades que antes gostava, pode parecer fria ou indiferente com os outros, e passa a apresentar comportamentos inadequados socialmente: piadas fora de hora, fala impulsiva, tom de voz elevado em público. É frequente a presença de distúrbios da sexualidade e compulsões, especialmente comportamentos sexualizados. As compulsões alimentares também podem se tornar intensas, e há uma acentuada perda dos cuidados com a higiene pessoal“, afirma a especialista.
Na linguagem, os sinais são igualmente preocupantes: “Na área da linguagem, a pessoa começa a ter dificuldade para encontrar palavras ou nomear objetos. Em vez de dizer ‘copo’, diz ‘aquilo para beber’; em vez de ‘garfo’, diz ‘aquilo para comer’; e assim por diante. A fala pode se tornar lenta, desconexa, com uso excessivo de palavras repetidas e sem sentido. O vocabulário empobrece, e a mesma palavra passa a ser usada para múltiplas coisas“, explica.
Não tem cura, mas há como preservar a dignidade
Embora a DFT ainda não tenha cura, intervenções multidisciplinares podem fazer diferença no cotidiano do paciente e da família:
“Como mencionado, a demência frontotemporal não tem cura até o momento. No entanto, existem muitas possibilidades para oferecer conforto, dignidade e funcionalidade no dia a dia do paciente. Nesse contexto, o trabalho de uma equipe multidisciplinar é essencial”, orienta a médica.
“É fundamental contar com a presença de diversos profissionais: o médico, o psicólogo, a fonoaudióloga, que é indispensável para tentar manter ao máximo a capacidade de comunicação do paciente, além da terapeuta ocupacional e do fisioterapeuta, que ajudam na marcha, no equilíbrio e na mobilidade. A alimentação também deve ser acompanhada por um profissional da nutrição, com orientações adequadas para promover qualidade de vida”, pontua Roberta.
Além do cuidado clínico, o suporte emocional para familiares é indispensável: “O psicólogo, especialmente, atua mais junto à família, pois lidar com um paciente com DFT é desafiador. É necessário aprender a lidar com perdas e com comportamentos inadequados. A questão comportamental é uma das mais difíceis, pois o paciente perde o filtro social, tornando-se inadequado em diversas situações. Isso pode gerar constrangimentos e sofrimento para a família, sendo essencial o apoio psicológico e, quando necessário, o uso de medicamentos para amenizar os sintomas”, completa.