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Música

Angra conta à RS tudo o que você precisa saber sobre hiato, shows finais e ‘Temple of Shadows’

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O Angra vai parar. Não em definitivo, claro. Desde setembro do ano passado, os fãs de uma das maiores bandas de heavy metal da história do Brasil estão cientes de que o grupo dará uma pausa nas atividades, por tempo indeterminado, após a realização de sua atual turnê, em celebração aos 20 anos de seu quinto álbum de estúdio, Temple of Shadows (2004). O show derradeiro, inclusive, acontece neste domingo, no Tokio Marine Hall, em São Paulo. Há ingressos à venda no site Ticketmaster.

A notícia pegou muita gente de surpresa, mas quando devidamente explicada por seus integrantes, até que faz sentido. Em entrevista à Rolling Stone Brasil também disponível no YouTube, o guitarrista Rafael Bittencourt, membro fundador, e o baixista Felipe Andreoli, presente desde 2001, contam que o intervalo nas atividades é necessário para “recarregar as baterias” e oferecer a devida atenção a outros projetos. A ideia, segundo ambos, é retomar o grupo com a mesma formação de hoje, com Fabio Lione nos vocais, Marcelo Barbosa na outra guitarra e Bruno Valverde na bateria.

Angra
Angra – Foto: Henrique Grandi

Neste longo bate-papo, a dupla reflete sobre o atual momento — que, de tão bom, permitiu um hiato em vez de uma implosão com rompimento definitivo —, revisita um de seus álbuns mais marcantes sem deixar de citar o recente Cycles of Pain (2023) e revela o que pretende fazer durante o hiato. Confira!

*As declarações foram editadas e condensadas para melhor leitura.

Entrevista com Rafael Bittencourt e Felipe Andreoli — Angra

1) A atual turnê dos 20 anos de Temple of Shadows

Como tem sido revisitar o Temple of Shadows na íntegra nos shows dessa turnê, que na verdade começou no fim do ano passado?

Felipe Andreoli: “É um disco bastante desafiador de se tocar, exige que a banda esteja muito em forma para executar as músicas. Tem coisas super-rápidas, muitas dinâmicas de violão, partes de coral. Então, é um disco intenso para se tocar de cabo a rabo. Fora o fator nostálgico de revisitar aquela época, tão boa e importante.”

Rafael Bittencourt: “A parte técnica nos coloca no limite. Nesses 20 anos do álbum, também fui mudando muito a minha técnica. Acho que também mudamos o padrão do que aceitamos entregar para as pessoas. Melhorou muito.”

Felipe: “Sabe uma coisa curiosa? Toco mais confortável essas músicas hoje do que eu tocava na época.”

Rafael: “Ah, eu também. Porém, na época eu tolerava mais os erros. Hoje eu procuro ser mais exigente e chato comigo mesmo. Mas tecnicamente eu me sinto bem mais preparado.”

Vocês dois participaram do álbum, mas hoje a banda é completa por outros três que não participaram. De que forma vocês enxergam o jeito como os outros integrantes receberam esse álbum no momento de agora? O que eles costumam dizer desse álbum especificamente?

Felipe: “Sinto que eles gostam muito do disco. Acham que é um disco incrível em todos os sentidos. E também representa para eles um desafio. Para eles, são arranjos de outros músicos. Então, existe sempre uma adaptação, uma peculiaridade técnica do cara que gravou, pois o Kiko [Loureiro, ex-guitarrista] toca um pouco diferente do Marcelo, o Aquiles [Priester, ex-baterista] toca um pouco diferente do Bruno, o Edu [Falaschi, ex-vocalista] canta bem diferente do Fabio. Gostamos desse tipo de desafio. A gente se assiste nos vídeos e aproveita para identificar: ‘aqui dá para melhorar’. Se bem que também já fazíamos isso na época. Filmávamos os shows e assistíamos juntos. Era uma tortura, né? Você está cansado depois do show, mas o Aquiles não deixava passar. Tinha que assistir, ficar comentando e criticando construtivamente para melhorar o show. Sempre fazemos isso.”

Felipe Andreoli, do Angra
Felipe Andreoli, do Angra – Foto: Henrique Grandi

Além de tocar Temple of Shadows na íntegra, vocês tocam músicas de outras fases, incluindo uma atual, “Tide of Changes”, do álbum mais recente, Cycles of Pain (2023). Passado um ano e meio do lançamento do disco, como vocês o enxergam hoje?

Rafael: “Acho que é um dos melhores álbuns do Angra. E assim como os melhores álbuns do Angra, ele vai ganhando representatividade com o tempo. As pessoas ouvem e vão dando significado para as músicas conforme ouvem. É um álbum que fizemos para durar muito tempo e ser celebrado daqui 10, 15, 20 anos como um grande clássico. Representa demais o momento em que estamos: um momento muito legal dentro da banda, com o melhor entrosamento e maior maturidade de todos os 34 anos de história. É mais agradável estar junto. Acho que isso reflete no show e refletiu também no álbum Cycles of Pain.”

Felipe:Cycles of Pain foi tão minuciosamente elaborado. Sou fã de prog, e o prog é aquele tipo de música que você vai descobrindo ao longo do tempo, com nuances que você não tinha notado antes. Não só o prog — grandes bandas têm essa característica, como o Tears for Fears, que vou descobrindo arranjos e detalhes que não tinha notado antes. O Cycles of Pain é um desses álbuns. As melodias, os grooves e os riffs não são coisas datadas deste momento. São coisas que representam a banda e estão no patamar dos grandes trabalhos que o Angra já fez. Será lembrado por muitos anos como um dos grandes discos da banda.

2) O hiato após o show de 3 de agosto

Vocês estão em um bom momento, um momento tranquilo. A notícia de que vocês vão dar uma pausa, de início, transmite uma sensação oposta: a de que estão parando por não estarem satisfeitos ou felizes. Mas se fosse assim, talvez a banda tivesse implodido e acabado, e não decidido por um hiato. Como se chegou à decisão por esse hiato e como a ideia foi discutida internamente?

Rafael: “Eu já vinha falando que queria um tempo para reorganizar internamente. Estamos vindo de uma corrida muito forte, emendando um álbum no outro, uma turnê na outra, às vezes duas turnês acontecendo ao mesmo tempo, como foi o caso da turnê do Acústico [Acoustic Live at Opera de Arame], o lançamento do álbum [Cycles of Pain], depois a turnê do [20º aniversário do] Temple of Shadows. Todos estavam desgastados,a ponto de eu farejar que aquilo poderia gerar problema, de acabar minando — com o excesso de trabalho — e pessoas quererem sair da banda. Senti um ar que não era só meu, um certo descontentamento com o desgaste, ainda que não com o Angra em si. Acho que é um bom momento para se reorganizar internamente e se fortalecer. As pessoas vão pensar o que quiserem. Tem gente que fala que eu enriqueci com meu canal Amplifica e por isso não quero mais. Nada a ver. É um absurdo essa ‘informação’. Pelo contrário: faço muito por amor. Me dedico e estou investindo ainda no Amplifica para que ele um dia vire algo comercial. Mas o ponto é que vejo que para mudar de patamar — e eu gostaria que o Angra mudasse de patamar, pois a gente tem muito prestígio e respeito de muitas camadas dentro da música, de jornalistas e outros músicos —, acho que precisamos dar uma parada para nos fortalecer. Pensar numa estratégia e se fortalecer ainda mais.”

Rafael Bittencourt, do Angra
Rafael Bittencourt, do Angra – Foto: Henrique Grandi

Felipe: “Acho que não é uma pausa triste, de uma banda que está em crise e precisa parar porque não está rolando. Acho que o que nos dá a possibilidade de fazer essa pausa é o bom momento em que a gente se encontra. Tomamos essa decisão; não fomos forçados a parar. Partiu do Rafa, mas todos enxergam como um benefício. Tantas bandas teriam se beneficiado de uma pausa assim e evitado tantos problemas, como gente que saiu. Às vezes, as pessoas precisam de um tempo, para fazer outras coisas, projetos em outras esferas, projetos pessoais, tempo para a família: o que você tiver vontade de fazer. O Angra demanda da gente e não deixa essas outras coisas acontecerem. É muito difícil conciliar o Angra, full power, com outros projetos. Então, essa pausa é boa. Tenho certeza que a volta vai ser muito boa. Vai melhorar o que já está bom. Fazer ajustes e fazer ser mais legal.”

Em algum momento passado da carreira, você acredita que o Angra teria se beneficiado com uma pausa?

Rafael: “Com certeza. É isso que eu vejo hoje. Se está muito bom, com entrosamento, sucesso e crescimento como banda, basta uma viradinha ‘assim’ para aquilo virar dissidência, desentendimento e mudança de formação. Acho que a pausa vem também para prevenir isso. É um respiro. Trabalhamos muito. Entregamos três shows diferentes em tão pouco tempo, além de dois álbuns e turnês mundiais. Não me sinto em débito. Em 34 anos, o legado que nós construímos é de se tirar o chapéu. Então, é importante saber a hora de fazer uma pausa para justamente preservar.”

Acho que algum integrante chegou a dizer que a previsão seria de dois a três anos para esse hiato. É mais ou menos por aí?

Felipe: “O plano é não ter plano. Uma das coisas que o Angra demanda demais é justamente na parte de planejamento. As pessoas veem os shows e gravações, mas não veem o tempo que estamos trocando e-mail e mensagens, discutindo um monte de outros aspectos, fazendo esses planos. Temos uma ideia de tempo, mas estamos deixando rolar no sentido de que não temos compromisso com uma data, em voltar em tal ocasião. Queremos tempo e espaço para pensar e planejar outras coisas. Queremos voltar, temos vontade de fazer mais coisas, mas precisamos dar um tempo. Quando todo mundo sentir vontade de tocar de novo, vamos voltar. Mas não temos nenhum tipo de compromisso. Nem de voltar ou de não voltar. Vai ser como tiver que ser, da melhor maneira possível.”

A ideia é retornar com a mesma formação após o hiato?

Rafael: “Sim, exato. A pausa é pela quantidade de compromissos e turnês. Shows. Botar um pouco o pé no freio. Mas óbvio que se houver um convite legal para uma celebração, uma data especial, um festival… estamos abertos. Não significa entrar em estúdio agora para fazer um álbum. Vamos começar uma nova turnê e fazer várias datas? Não. Mas recebemos um convite para algo pontual, superespecial… ah, vamos pensar. Não vai macular a pausa. E continua preservando.”

Angra
Angra – Foto: Henrique Grandi

Rafael, você disse que o show em São Paulo em 3 de agosto seria o último “nos moldes atuais”. Isso também não tem a ver também com mudança de formação, correto?

Rafael: “‘Moldes atuais’ que eu quis falar foi internamente. Nossa maneira de trabalhar, tão maluca, estar sempre em turnê, sempre emendando compromissos e num desespero de preencher todos os espaços, com entrevista, ensaio, viagem, fazer música… entendeu? Sempre fomos muito obstinados. O heavy metal não é fácil. Começamos os ensaios no verão de 1991 para 1992. Até então, existiam férias escolares, você viajava; com banda, não. Desde o começo entramos no modo de ensaiar que nem maluco, dedicar-se que nem maluco para garantir esse espaço tão difícil. Então, sempre tivemos esse ritmo louco — o que é fundamental, pois o heavy metal estava à margem de todas as modas, ainda que os fãs permaneçam bem leais. Mas precisa trabalhar muito para se manter. Não tem como fazer ‘mais ou menos’.”

O Marcelo [Barbosa] até disse em uma entrevista recente que você teria sugerido do Angra fazer uma turnê sem você.

Rafael: “Quando comecei a dizer que precisava tirar um tempo, eu não queria empatar o Angra. Não quero prejudicar a banda ou que ela deixe de fazer os shows por minha causa. Foi por isso. Mas no fim, por uma somatória de fatores, pois não fui só eu que me agradei com a ideia de fazer a pausa, acabamos fazendo a pausa todo mundo.”

Ninguém te disse que a ideia era maluca, de fazer uma turnê sem você?

Felipe: “[Risos] Claro que disse.”

Rafael: “Discordo. Já sobrevivemos a tantos desfalques. A figuras que eram tão emblemáticas e importantes. Acho que o Angra tem um nome muito forte, acima dos nomes individuais.”

Rafael Bittencourt e Felipe Andreoli, do Angra
Rafael Bittencourt e Felipe Andreoli, do Angra – Foto: Henrique Grandi

3) As lembranças de Temple of Shadows

Voltando ao disco Temple of Shadows: à época, ele gerou uma recepção um pouco mista. Teve gente que não entendeu uma parte dele, por ser um pouco experimental. E algo que o Angra sempre fez foi não se repetir. Mas ao longo do tempo, esse álbum se fortificou e se tornou um clássico. Quais lembranças vocês têm de gravar e compor esse disco 20 anos atrás?

Felipe: “Estávamos numa fase em que passamos pela aprovação de lançar o Rebirth [álbum anterior, de 2001] com uma formação tão diferente da anterior [três novos integrantes]. A turnê e a recepção do Rebirth foram tão boas que nos deu muita confiança. Nos soltamos ao compor o Temple of Shadows, pois já não tinha mais o que provar. Os três mais novos tiveram mais liberdade e isso retroalimentou o Kiko e o Rafa para uma fase ‘sangue nos olhos’, sem limites, experimentando para ver até onde iria. Lembro que o Dennis [Ward, produtor] veio para o Brasil e ensaiávamos na casa do Kiko. Em algumas partes das músicas, ele dizia assim: ‘muito abstrato, isso é muito abstrato’. Ele nos ajudou a deixar as músicas mais coesas, mas são mais experimentais — seja na duração, pois são muito longas, ou na instrumentação, com instrumentos diferentes.”

Recebi o Edu Falaschi aqui no estúdio e também conversamos sobre esse disco. O atraso nas gravações da voz [devido a um refluxo] e os problemas que ele passou a ter na voz foram superados, mas isso deixou alguma insegurança em vocês? Trazer um novo vocalista e ele ter problema logo no segundo disco gerou algum clima de insegurança?

Rafael: “Um pouco, sim. Claro. Mas a primeira coisa é o acolhimento. Dar amparo para que a pessoa se sinta segura. Se trate. Faça sua parte. Já caímos em turnê em seguida e foi melhorando.”

Olhando para esse disco hoje, como vocês o enxergam? Há vários clássicos na discografia do Angra, mas como vocês posicionam esse disco no Angra e também no power metal como um todo?

Felipe: “Acho que ele é um disco muito representativo do Angra. Tem muito do Angra, seja do lance mais brasileiro, o lance progressivo, o power metal, a virtuose, a música clássica. Tudo isso está nesse disco e foi explorado a fundo. Muita riqueza. É um bom disco para quem quer conhecer a banda. Acho que o Cycles of Pain é um pouco assim também, na minha opinião.”

Estando aqui com o autor das letras [Rafael], seria legal discutir isso, pois é um disco disruptivo em temática para esse segmento. Especialmente quando pensamos em power metal, as letras muitas vezes não têm esse senso crítico, questionamentos como os trazidos pelo Temple of Shadows. Lendo entrevistas antigas suas, li que você disse que “Unholy Wars” [música do álbum Rebirth] te trouxe para a temática desse disco [a trama se passa durante as Cruzadas, um período marcado pelas contradições da violência motivada pela fé cega]. Como foi o processo de trabalhar nesse conceito e como as letras foram geradas?

Rafael: “Desde o começo, me inspiro pelas contradições humanas, o sistema de crenças e como isso conflita com as ações. Um cara com camisa de Jesus brigando no trânsito, querendo matar o outro na porrada. A religião é um campo maravilhoso. Já fiz muito isso, antes mesmo do Temple of Shadows ou de ‘Unholy Wars’, como na música ‘Lullaby for Lucifer’, uma ‘cantiga de ninar para Lúcifer’. Como as músicas pareciam muito abstratas, fiquei preocupado que o álbum e as músicas parecessem desconectadas. Então, quis uma história em que essas nuances, aparentemente tão diferentes, fossem as nuances da história. Começou assim. Em 2003, 2004, era novo para mim pesquisar tudo no Google, fiquei deslumbrado com a informação disponível. Então, pesquisei muito sobre as Cruzadas e aquele momento da história em que a Igreja Católica, em nome de Jesus e do amor e do perdão, assassinava quem não acreditava nisso. É uma grande contradição e gerou guerras. Durou séculos. Achei que isso daria pano para uma história muito legal. Conforme ouvia as músicas, pesquisava e pensava nas nuances, fui escrevendo essa fantasia. Como teve o atraso pelo problema na voz do Edu, pude reescrever muitas vezes as letras até chegar numa versão final. Por exemplo, a música ‘Sprouts of Time’ — que até hoje eu corrigiria o título — foi a terceira versão de letra. Escrevi uma letra inteira, não fiquei contente, escrevi uma segunda e depois pude escrever a terceira, de tanto tempo que tive.”

Você reescrevia do zero? Descartava a letra?

Rafael: “Deixava algumas frases. É comum imaginar um assunto e começar a dissertar sobre ele na letra, aí de repente vem um insight muito legal, mas que cai em outro assunto, não aquele que você propôs. Então, eu guardava algum pedaço muito bom e mudava outro. Fazia uma outra conclusão e, para ficar legal mesmo, tinha que mudar outra parte, que foi aquela que me fez mudar a primeira parte. É para ter coerência e ficar redondinho mesmo, um crônica misturada com poesia. Ao mesmo tempo, precisa ter frases fáceis de memorizar, sonoridade interessante. Mudei muita coisa. Mudei por conta de fonemas. Como o Edu estava tratando o problema dele na voz, ele tinha mais dificuldade, por exemplo, para fazer o ‘i’ do que o ‘e’. Eu tinha que refazer as rimas. Então, foi um exercício muito bom. Aprimorei o jeito de fazer letras, considerando sonoridade, conceito e conexão entre as ideias.”

Você citou uma música que teve mexidas, “Sprouts of Time”. Teve alguma que nasceu mais pronta? Seja na letra ou na parte da música.

Rafael: “O Edu traz as músicas já quase prontas. É um excelente compositor. Quando traz, já traz bem encaminhada. Já comigo e o Kiko é o seguinte: ele me empresta pedaços, e eu junto com outros pedaços. As músicas acabam ficando grandes, pois vamos juntando vários pedaços.”

Felipe: “A ‘Spread Your Fire’ surgiu super-rápido. Chegamos ao fim do processo e o Dennis achava que faltava uma música rápida para abrir o disco. Tínhamos ‘The Temple of Hate’, mas ele não sentia que era uma abertura de disco. Aí o Edu já tinha o riff, trouxe ele de novo, e trabalhamos nele muito rápido. Foi a última música a ser feita, a mais rápida, e acabou sendo a abertura do disco.”

Rafael: “Eu nem lembrava disso! É verdade.”

Felipe: “Ele já tinha mostrado o riff, mas são tantas ideias. Quando você vai fazer um disco com 11 músicas, tem pelo menos 30 ou 40 ideias. Muitas ideias boas ficam pelo caminho. No Omni [álbum de 2018], teve um caso parecido. O Jens [Bogren, produtor de Omni] falou que precisava de uma música pesada, mais rápida. Eu tinha um riff que já tinha mostrado, mas não tinha ido para lugar algum. Fui trabalhar de novo esse riff. Foi a ‘War Horns’, que acabou virando o clipe depois. ‘Wishing Well’, por exemplo, é o refrão de uma música do Edu com verso e ponte de outra música. Gostávamos bastante de verso e ponte de uma, mas do refrão, nem tanto. Gostávamos bastante do refrão de outra, mas do restante, nem tanto. O Dennis deu a ideia e juntar as duas, juntamos e virou ‘Wishing Well’.”

Rafael: “Nem lembrava disso também.”

4) Os planos individuais para o período de hiato

Sei que vocês não estão querendo fazer planos para esse hiato, mas o que vocês já definiram individualmente para depois do dia 3 de agosto, que será o dia do último show da turnê?

Rafael: “Pretendo me dedicar ao meu canal, que é o canal Amplifica. Ele está precisando de atenção para se estruturar, pois ganhou uma proporção maior do que eu imaginava. Há projetos musicais que comecei lá atrás e acabei não me dedicando. O Bittencourt Project, que comecei em 2008 e não pude me dedicar. Gostaria de preparar um novo álbum, voltar a fazer shows e fazer isso ter giro. Tenho um projeto em homenagem a Raul Seixas, com músicas não tão conhecidas, para justamente mudar a imagem que as pessoas têm dele. Vejo Raul Seixas como um grande gênio, mas ele tem um estigma de ser só um ‘maluco beleza’. Muitos não têm paciência para as músicas dele. Tenho a sensação de débito com ele, pois acho que é minha referência principal na minha formação artística. Ele está muito no Angra: nas letras, nos questionamentos da incoerência e questionamentos filosóficos e religiosos. Também estou me dedicando a um projeto infantil de audiovisual e várias outras coisas como collabs e músicas que quero fazer em colaboração com outros artistas.”

E você, Felipe?

Felipe: “Quero me dedicar mais aos meus cursos de baixo, gravar um novo curso e atualizar os que já tenho, me dedicar bastante a essa parte didática. Também quero fazer meu segundo disco solo, só com a pausa do Angra para ser possível. Também tenho muita vontade — e o projeto — de fazer um disco com releituras de compositores brasileiros. Até comecei a fazer. Teve um festival de música instrumental recentemente em que o homenageado era o Oswaldo Montenegro, e eu gravei uma versão do Oswaldo. Apesar de a música não ter entrado no festival, ela me inspirou a fazer o mesmo tipo de releitura de outros compositores brasileiros. É algo que eu quero fazer.”

Em quais compositores você pensou?

Felipe: “Em todos que eu amo. Egberto Gismonti, Djavan, Ivan Lins, Flávio Venturini, Guilherme Arantes, Marisa Monte, Milton Nascimento, Gilberto Gil. Tem tantos. É muito difícil, na verdade, escolher um repertório. Mas está no processo. Além disso, continuar tocando com o Matanza Ritual, como venho fazendo. Lançamos um disco esse ano, A Vingança É Meu Motor, e estamos na turnê de divulgação. Não consigo participar constantemente, pois o Angra acaba tomando bastante do meu tempo. E estou também na turnê com o projeto solo do Kiko. Em novembro e dezembro, vamos fazer uma turnê grande pela Europa, tocando, inclusive, em países em que nunca toquei, como Finlândia e Turquia, o que deve se estender para o ano que vem. E projetos pessoais, grandes e importantes, que precisam da minha dedicação e do meu tempo.”

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