Música
Bruce Dickinson tem 3 brasileiros em seu ‘novo’ disco; falamos com um deles

Três músicos brasileiros entraram para a história da carreira discográfica de Bruce Dickinson, vocalista do Iron Maiden, ao participarem de More Balls to Picasso, uma versão remixada, remasterizada e com takes adicionais do álbum solo Balls to Picasso (1994). Conrado Pesinato, Adassi Addasi e Antonio Teoli trouxeram diferentes colaborações ao novo material, disponível nas plataformas de streaming desde a última sexta-feira, 25.
O trio mora em Los Angeles, nos Estados Unidos. Sobre cada um deles, há de se destacar:
- Pesinato, nascido em Porto Velho (RO), é guitarrista, conhecido especialmente pelo trabalho com Graham Bonnet, vocalista ex-Rainbow, Alcatrazz e Michael Schenker Group há tempos em carreira solo;
- Addasi tem origem palestina, mas nasceu em Dourados (MS), e produziu bandas como Nervochaos e Claustrofobia, além de ter oferecido serviços de engenharia de som para o próprio Bruce no álbum The Mandrake Project (2024);
- Teoli gravou orquestras em Cycles of Pain (2023), álbum mais recente do Angra, e em Day Out in Nowhere (2022), disco da Graham Bonnet Band, da qual Pesinato faz parte.
Em entrevista à Rolling Stone Brasil, Conrado explica que todos estão conectados a partir da figura do produtor Brendan Duffey, americano que por anos morou no Brasil — a ponto de falar português — e trabalhou com Dickinson no já mencionado disco The Mandrake Project, além de estar envolvido com a remixagem de todo o catálogo solo do vocalista do Iron Maiden. Cada brazuca ofereceu um tipo de colaboração a More Balls to Picasso:
- Pesinato registrou guitarras adicionais em “Shoot All the Clowns”;
- Addasi ofereceu takes extras do mesmo instrumento em “Tears of the Dragon”, maior hit da carreira solo de Bruce;
- Teoli contribuiu com orquestração e instrumentos de povos originários em “Gods of War”.
A respeito de seu trabalho, Conrado explica:
“Adicionei guitarras mais pesadas nas bases de ‘Shoot All the Clowns’. Dobrei todas as bases. Tem alguns takes do Roy junto. Também coloquei algumas linhas melódicas, mas também tem takes do Roy, como solos originais. Entraram ainda alguns arranjos de instrumentos de sopro e percussão. Ficou bem groovado, bem legal.”
No geral, a maior parte do trabalho de guitarras de More Balls to Picasso foi assumida por Philip Näslund, guitarrista sueco que entrou para a banda solo de Dickinson após o rompimento com Roy Z, parceiro de longa data que inclusive tocou guitarra no Balls to Picasso original. Todavia, quando ambos estavam em turnê, Duffey considerou necessário dar sequência ao trabalho em estúdio. Surgiu, daí, o envolvimento de Pesinato, que recorda:
“Philip estava em turnê com Bruce na época em que Brendan precisava de algumas guitarras para ‘Shoot All the Clowns’. Então, ele conversou com o Bruce, que também já conhecia o meu trabalho com Graham. Bruce é muito fã de Graham — já mencionou em entrevistas que sua música favorita do Rainbow é ‘Eyes of the World’, cantada pelo Graham no ‘Down to Earth’ (1979). Então, algum deles sugeriu meu nome, provavelmente o Brendan, e ambos concordaram que eu seria uma boa opção.”
Para Conrado, ter uma colaboração registrada em um álbum de Bruce Dickinson é a realização de um sonho, “tipo o menino que queria ser astronauta e no futuro acaba virando um”. Ele comenta:
“Iron Maiden é a banda da minha vida, tem um efeito no Brasil que é até maior do que várias outras bandas do mundo. E a carreira solo dele foi até mais marcante do que Maiden para mim, pois o primeiro show de rock que vi na vida foi do Bruce em carreira solo, tendo o Adrian Smith na guitarra no Skol Rock de 1997, em São Paulo. Na época, era até melhor do que o Iron Maiden [nota: à época, o grupo contava com o vocalista Blaze Bayley]. Aquilo mudou a minha vida.”
Mesmo afastado da formação atual do grupo que acompanha Dickinson, Roy Z também recebeu reconhecimento por parte de Pesinato. O músico destaca:
“Roy Z é um profissional muito talentoso e foi uma referência para mim — até em termos de representatividade, por ser um cara latino, descendente de mexicano, tocando com ícones do rock. Eu, como jovem latino, tinha esperanças também, junto com bandas como Sepultura, Angra e outras brasileiras que tentaram sair para a cena internacional.”
Relação com Bruce Dickinson
Quem espera alguma história maluca de Conrado Pesinato com Bruce Dickinson irá se decepcionar. Não houve glamour nas gravações: como o cantor inglês estava em turnê, o guitarrista brasileiro recebeu os arquivos com orientações da produção, registrou suas partes e enviou de volta. Bem prático. Dickinson enviou uma mensagem de agradecimento, parabenizando Pesinato pelo trabalho.
Em outras ocasiões, porém, Conrado teve contato com Bruce, basicamente por intermédio do apreço pelo cantor por Graham Bonnet. Ele diz:
“Nos conhecemos pessoalmente em 2022, quando o Roy disse que o Bruce queria conhecer o Graham. Os dois interagiram nos bastidores e eu cheguei a conversar com o Bruce também. Estive em contato também com a esposa dele, a Leana, um amor de pessoa. Já no ano passado, eles tocaram de novo em Los Angeles e interagimos de novo. Agora, o vimos também na Finlândia, pois o Iron Maiden foi tocar em Helsinki e nós também.”
Dickinson, aliás, é um dos convidados do próximo álbum de Bonnet. Ainda não há data de lançamento, mas Pesinato adianta: os dois farão um dueto em uma música inédita. As gravações devem ocorrer em agosto e serão conduzidas pelo brasileiro, que, além de tocar guitarra, assinará a produção.
Trabalho com Graham Bonnet
A parceria de Conrado Pesinato com Graham Bonnet começou em 2014, desconsiderado o hiato entre 2017 e 2020. Juntos, os dois gravaram dois álbuns de estúdio: The Book (2016) e o já citado Day Out in Nowhere. O brasileiro faz parte de uma galeria pesada de guitarristas com quem Bonnet já trabalhou: Ritchie Blackmore (no Rainbow), Michael Schenker (no Michael Schenker Group), Yngwie Malmsteen e Steve Vai (ambos no Alcatrazz), só para citar os mais famosos.
A respeito do chefe, Pesinato destaca:
“Sempre gostei muito da voz dele. Fico muito lisonjeado por fazer parte do legado musical dele, não apenas tocando ao vivo, mas também como compositor, pois gravamos quatro álbuns ao vivo e dois de estúdio — o que está para sair é o terceiro. Meu nome faz parte da carreira de um ícone. É um dos arquitetos desse estilo de canto. Há muitas similaridades entre ele e o Bruce: alcance vocal na mesma região, ambos usam mais voz de peito, ambos não usam tanto falsete, ambos têm aquele típico sarcasmo britânico nas letras.”
Como mencionado, os próximos planos de carreira de Bonnet incluem a gravação de um novo álbum, o terceiro junto a Pesinato, e a realização de shows em todo canto do mundo — neste ano, o cantor excursionou por Estados Unidos e Europa. Há tentativas constantes de trazer o artista de 77 anos para o Brasil, em uma visita que seria a primeira desde 2009. Quem sabe não rola em 2026?
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